Professora cria calendário afro para valorizar a cultura negra

Em janeiro, nasce Martin Luther King. Em fevereiro, Nelson Mandela é libertado. Criado para "afrobetizar", o calendário afro é exemplo de educação antirracista

Da redação Publicado em 02.04.2019
Foto de um menino negro sorrindo com uma camiseta escrita “solte o cabelo”, ele está ao seu lado tem um retrato colado na parede de uma criança negra.
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Resumo

O calendário afro foi criado pela professora Larisse Moraes, em uma escola pública de Porto Alegre. O objetivo é "afrobetizar" os estudantes sobre marcos da resistência negra, fortalecendo identidades e valorizando a trajetória de nossos antepassados.

Quem passeia pelos corredores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint’Hilaire, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre (RS), logo se depara com inúmeras manifestações de uma educação que se preocupa com o combate ativo ao racismo e em promover a representatividade. Dentre as iniciativas do projeto, está a criação do Calendário Afro. A ideia é apresentar às crianças, mês a mês, os grandes marcos da cultura afro e também as biografias e realizações de personalidades negras.

Educação afroafirmativa

Pelas paredes, cartazes com dizeres afirmativos da potência da cultura afrobrasileira. “Povo que não tem virtude acaba por escravizar”, diz um dos posters, desenhados pelos próprios estudantes. “Não clamamos por vingança. Queremos nossas terras. Não mascarem a sua guerra”, diz outro.

O projeto “Afroativos” – Solte o cabelo, prenda o preconceito foi idealizado pela professora Larisse Moraes, e conta com protagonismo direto das crianças. Criado há dois anos, a ideia é promover de empoderamento, conscientização e transformação por meio da educação afroafirmativa. O projeto conta com site, página no Facebook e Instagram.

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Reprodução/Afroativos

A professora Larisse Moraes e suas alunas

Os resultados da iniciativa podem ser observados no dia a dia da escola e no comportamento dos alunos, seja no desenvolvimento de uma autoestima conectada com a identidade afrobrasileira, seja pela multiplicação de ações que dialogam com a representatividade negra, como oficinas, palestras e apresentações.

Representatividade no Calendário Afro

No Calendário Afroafirmativo, são datas festivas, comemorações e datas que marcaram não só nascimentos, mas mortes, leis, congressos, entre outros. Em janeiro, por exemplo, os pequenos ficam sabendo que é o mês de nascimento de Martin Luther King, e que foi neste mês, em 1835, que aconteceu a Revolta dos Malês, na Bahia. As crianças aprendem também que no início do século 20 foi fundado o Congresso Nacional Africano, na África do Sul.

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Reprodução/Afroativos

O primeiro carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro, a independência da Namíbia, a inclusão de Zumbi dos Palmares como herói nacional

“Afrobetizem, descolonizem e libertem-se”

“Ressignificar, aprender, apreciar e conhecer a trajetória de nossos antepassados, em nossa cidade é fundamental para que saibamos construir e fortalecer nossas identidades”, diz a apresentação do calendário, cujo texto é de autoria de Alisson Alexandre Silva da Silva, estudante da escola.

A ideia é apresentar às crianças, mês a mês, os grandes marcos da cultura afro e também as biografias e realizações de personalidades negras. São datas festivas, comemorações e datas que marcaram não só nascimentos, mas mortes, leis, congressos, entre outros.

Em janeiro, por exemplo, os pequenos ficam sabendo que é o mês de nascimento de Martin Luther King, e que foi neste mês, em 1835, que aconteceu a Revolta dos Malês, na Bahia. As crianças aprendem também que, no início do século 20, foi fundado o Congresso Nacional Africano, na África do Sul. O primeiro carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro, a independência da Namíbia, a inclusão de Zumbi dos Palmares como herói nacional: esses e outros marcos históricas também aparecem no calendário afro.

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Reprodução/Afroativos

O projeto Afroativos começou em 2017, e foi motivado pela carta de uma estudante, onde relatava o racismo que sofria. A professora resolveu, então, transformar a escola em um espaço de combate à discriminação

O material traz também um apanhado de informações sobre locais de referência para a resistência negra, com fotos de estudantes – crianças e adolescentes – nesses espaços, como forma de estimular o pertencimento e a apropriação de toda uma ancestralidade historicamente invisibilizada. Nesta parte do calendário, há depoimentos de alunos sobre a experiência de participar da iniciativa. O calendário afroativo está disponível para download, para quem quiser apresentar aos filhos, alunos ou simplesmente se inspirar para criar sua própria iniciativa no que se refere à educação antirracista.

“Adorei tirar as fotos no Centro de Referência do Negro! Eu, negra e linda com aquele vestido e turbante, me senti muito feliz! Pesquisei sobre Nilo Feijó, compositor de sambas e marchas. O lugar é um espaço de cultura”, diz Adrieli da Cruz Raimundo, de 11 anos.

O calendário se apresenta como um projeto inacabado, e por isso se coloca aberto para receber sugestões de informações e inclusão de novas datas e nomes. Quem quiser contribuir, é só mandar um e-mail para afroativos@gmail.com.

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