O bullying é uma questão de saúde emocional com consequências seríssimas. Qual o papel dos pais na missão de evitar formar os futuros agressores?
Sozinha, a escola não consegue combater o bullying. Em casa, pequenas atitudes podem evitar que as crianças naturalizem a violência, seja ela física ou verbal.
Nem sempre é simples detectar onde ele começa, o fato é que o bullying é um ciclo complexo que envolve o contexto social e familiar do praticante, ressoa no ambiente escolar e de convívio e pode causar danos irreparáveis à criança. Nos últimos dias, mais uma tragédia ocasionada por essa prática tomou o noticiário nacional: em Goiás, adolescente de 14 anos protagoniza um tiroteio dentro da escola e deixa dois mortos e cinco feridos. O motivo? O desejo de vingança do jovem atirador por ter sido alvo de chacotas e discriminações dos colegas.
A história chama para o centro das atenções a necessidade de discutir o bullying de forma assertiva não só dentro do ambiente escolar, mas também na família e nos demais espaços de convívio da criança e do adolescente.
Porém, outro aspecto do assunto também vem à tona: como impedir que o agressor se torne agressor? Como mostrar aos pequenos desde a primeira infância que rir do outro, acentuar uma característica indesejada ou maldizer um traço de sua personalidade é estar do lado do agressor? De onde os chamados bullies apreenderam a violência que praticam? Que referências de empatia, respeito e tolerância essa criança recebe em casa e em seu círculo de convívio?
Considerando que é na infância que o indivíduo constrói e solidifica suas primeiras referências de respeito, tolerância e alteridade, esse trabalho de sensibilização com os pequenos é ainda mais importante, e é necessário haver sempre um canal aberto de diálogo franco sobre as questões que os afligem, principalmente os assuntos considerados tabus e sobre os quais costuma ser mais difícil falar, como sexualidade, por exemplo.
“É preciso compreender que, em toda ação, há sempre três partes envolvidas: quem faz o bullying, quem sofre, e quem presencia)”
Portanto, um trabalho integrado envolvendo toda a comunidade escolar – coordenadores, professores, funcionários, estudantes – e a família é o primeiro passo para combatê-lo.
Militante da questão, a jornalista e ativista Vanessa Bencz – autora do livro “A Menina Distraída“, que conta a história de uma menina vítima de abuso psicológico que é salva por uma super-heroína – alerta para a importância de considerar também o lado do jovem que praticou o crime, que passou de vítima a agressor por uma série de fatores que denunciam uma sociedade despreparada para lidar com a questão.
“Pode ter certeza que psicólogo nenhum vai conseguir juntar os pedacinhos desse guri. Cadeia nenhuma A vai reabilitar esse menino para a convivência harmônica. Uma mente sã jamais recorreria a uma arma. (…) A gente precisa falar sobre isso. Mas, antes, vamos ajustar nosso foco.
“Parem de falar em armas. Vamos falar das mãos que procuram essas armas”, defende.
Vanessa preparou uma pequena lista com sugestões de abordagem do assunto em casa, para colocar o bullying em pauta em um momento anterior à prática, com o intuito de evitar que as crianças naturalizem a agressão – verbal, física ou emocional – e priorizem o respeito ao outro em todas as suas ações, palavras e comportamentos.
“Forte é aquele que protege quem está ao redor. Sabe como se protege alguém? Sendo amigo dessa pessoa e aceitando as diferenças.”
“Afinal, cada um de nós tem um nome e a gente quer ser chamado por este nome, e não por um apelido chato.”
“Diferente não quer dizer que seja ruim. Imagina que chato se todo mundo fosse igual?”
“Elogie naturalmente, você vai ver como isso melhora o dia dos outros.”
“Ele pode se sentir ainda mais constrangido! Quem ri de piadas ofensivas está do lado do agressor.”
“Coloque-se no lugar dele. É muito chato ficar sem amigos! Que tal puxar um assunto e fazer companhia?”
“O ideal é contar para seu professor ou professora. Eles é que saberão agir nesta situação.”
“Você levará algumas dessas amizades para o resto da sua vida.”
As pessoas que realmente te amam são aquelas que te enxergam como você é.
Há qualidades que demandam sensibilidade e maturidade para serem valorizadas.
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O que diz a lei? Sancionada em 2015, a Lei nº 13.185 determina que é considerada bullying toda intimidação sistemática, envolvendo violência física ou psicológica, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima. Além disso, a lei também determina que é dever da escola assegurar medidas de conscientização, prevenção e combate a prática.