Livro infantil reúne brincadeiras de 20 países africanos

Gadidé, Surumba-Surumba, Chakyti-Cha, Corrida de Três, Osani, A Serpente e Nngapi são algumas das brincadeiras que aparecem neste livro cheio de diversidade

Renata Penzani Publicado em 17.06.2019
Ilustração de duas meninas negras sentadas na grama. Uma explicando a brincadeira e a outra olhando atenta
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Resumo

O livro infantil "Kakopi, kakopi! Brincando e jogando com as crianças de vinte países africanos", de Rogério Andrade Barbosa e Marilia Pirillo, apresenta e explica diversas brincadeiras originárias de países como Angola, Togo e Gana.

“Vivemos em geografias diferentes, mas estamos sentados na mesma varanda”. A frase é do escritor moçambicano Mia Couto, e diz respeito a algo que intuitivamente já sabemos, mas nem sempre nos lembramos: todos as pessoas, não importa onde esteja, têm em comum a sua humanidade, e estamos todos integrados por uma linguagem universal, o brincar. Sensibilizar as crianças sobre isso é a proposta do recém-lançado livro infantil “Kakopi, kakopi! – Brincando e jogando com as crianças de 20 países africanos!” (Melhoramentos, 2019), escrito por Rogério Andrade Barbosa, e ilustrado por Marilia Pirillo.

A obra é uma continuação de “Ndule Ndule – Assim brincam as crianças africanas“. A partir de um mapa da África, os pequenos leitores ficam sabendo quais são as brincadeiras mais comuns por lá, e entendem como e com que as crianças africanas se divertem. Gadidé, Surumba-Surumba, Chakyti-Cha, Corrida de Três, Osani, A Serpente e Nngapi são algumas das brincadeiras que aparecem no livro. Descobrir o que elas são e como se brinca é parte da brincadeira do livro.

Capa do livro "Kakopi, kakopi! - brincando e jogando com as crianças de 20 países africanos", com a imagem de crianças negras sentadas jogando um feijão para o alto. Todos estão olhando para cima
“Kakopi, kakopi! – Brincando e jogando com as crianças de 20 países africanos”

Autores: Rogério Andrade Barbosa (Texto) e Marilia Pirillo (Ilustrações) Editora: Melhoramentos. 2019

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Marilia Pirillo/Editora Melhoramentos

“Kakopi, Kakopi”, a brincadeira que intitula o livro, vem da Uganda e pode ser traduzido como “As Pernas da Galinha”

Você sabia que, em Moçambique, esconde-esconde se brinca à noite? Sabia que o povo Zulu, na África do Sul, chama o leão, poderoso senhor das savanas, de “Mbube”. Em Gana, é comum as crianças brincarem de imitar hienas, o que é motivo de boas gargalhadas. Já em Togo, uma das brincadeiras mais populares nos jardins de infância é o “Tum tum”, um jogo em que se usa um pequeno pilão para estimular a capacidade auditiva das crianças.

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Marilia Pirillo/Editora Melhoramentos

O jogo “Osani” é originário da República Democrática do Congo

O autor é professor e palestrante, internacionalmente premiado por seu trabalho na literatura infantojuvenil. Especialista em cultura africana e ex-voluntário das Nações Unidas na Guiné Bissau, é autor de mais de 100 livros publicados e de diversos prêmios, incluindo o Prêmio Ori, uma homenagem a profissionais que se destacam pela valorização da matriz negra na formação cultural do Brasil.

“Kakopi, kakopi!” e a identidade do brincar

Neste livro, ele compartilha o fruto de uma pesquisa sobre brincadeiras das crianças de diversos países da África, e reforça a universalidade do brincar na formação de identidade do sujeito. “Criança é criança em qualquer lugar. Não existe uma que não goste de se divertir por horas a fio por todos os recantos do nosso planeta. E no vasto continente africano não poderia ser diferente.

“As brincadeiras coletadas com estudantes de várias partes do continente africano por Korir e Chentai, duas crianças de uma escola queniana, foram tantas, que elas tiveram dificuldade em selecionar as mais divertidas para o trabalho que o professor havia dado para os alunos de sua turma no ano passado. Foi só agora, no primeiro semestre do novo ano letivo, que elas puderam pôr um ponto final em sua pesquisa.

“A África é imensa. E a palavra-chave para entendê-la é diversidade”, diz o autor.

O livro reúne diferentes brincadeiras de países como Quênia, Angola e Marrocos. Pela diversidade que apresenta, o livro pode inspirar tanto as crianças quanto os adultos, que podem utilizar as ideias de brincar em casa e na escola, ampliando as possibilidades lúdicas da brincadeira. Confira algumas:

  • Nyama (Quênia)

Meninas e meninos, em pé e sem dar as mãos, formam uma grande roda, tendo ao centro aquele que foi escolhido para ser o líder do jogo. Ele, então, passa a gritar o nome de uma série de animais que tenham carne, enquanto o restante do grupo presta atenção para não errar na resposta. Se o líder, por exemplo, disser o nome de um bicho que tenha carne: – Javali! – as crianças imediatamente têm de saltar e gritar todas juntas: “Nyama!”

  • A serpente (Zâmbia)

As cobras, tão misteriosas, estão sempre presentes nas brincadeiras africanas. E na Zâmbia não poderia ser diferente. Para brincar, formam-se dois grupos, cada um composto por cinco crianças, sentadas no interior de um quadrado. Todas, menos a que vai à frente, seguram-se pela cintura com as pernas enganchadas, uma atrás da outra. As duas equipes, antes de o jogo começar, se posicionam em ângulos opostos do quadrado. Ao centro, fica a criança apontada para ser um antílope. A meninada, simulando o rastejar insinuante das serpentes, sai, arrastando os bumbuns, à capa do antílope.

  • Mocho (Moçambique)

Brincadeiras de esconde-esconde em Moçambique, assim como em vários países africanos, são praticadas preferencialmente à noite. A coruja, ave conhecida por sua visão noturna, é chamada pelas crianças do povo Sene de “mocho”. E esse é o nome do seguinte jogo: enquanto os pequeninos envolvidos na brincadeira ficam de costas, o que foi escolhido para ser o mocho, aproveitando-se da escuridão, procura um lugar para se esconder. Depois um breve espaço de tempo, os outros saem ao encalço da dona da noite. O primeiro a achar a coruja não avisa a sua descoberta a ninguém. O que ele ou ela faz é juntar-se ao mocho. Desse modo, os dois ficam quietinhos no esconderijo enquanto os demais continuam na busca. E, assim por diante, vão se reunindo até todos ficarem juntos.

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