Mais de 100 organizações se unem contra ‘alfabetização milagrosa’

O movimento foi organizado em resposta à decisão do novo ministro da Educação de substituir o método global de alfabetização pelo método fônico

Da redação Publicado em 23.01.2019
Uma imagem de um menino negro sentado e escrevendo. A foto mostra seu rosto desfocado e sua mão em primeiro plano focada
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Resumo

O movimento foi organizado em resposta à decisão do novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, de substituir o método global de alfabetização pelo método fônico. Entenda o que a iniciativa defende.

Na semana passada, divulgamos aqui no Lunetas a decisão do novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, nomeado pelo recém-eleito Jair Bolsonaro (PSL) de substituir o método global de alfabetização pelo método fônico.

A decisão repercutiu entre as organizações ligadas à defesa pela educação no Brasil, e resultou em uma ação-manifesto. O MIEIB (Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil) e outras 120 instituições e coletivos da área assinaram uma manifestação pública para defender a pluralidade de abordagens na alfabetização das crianças.

Dentre as organizações participantes, estão a RNPI (Rede Nacional Primeira Infância), a ABRALIN (Associação Brasileira de Linguística), a Ação Educativa, e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, de Daniel Cara.

O que é método fônico? Trata-se de um processo de alfabetização em que se aprende os sons de cada letra e a partir de cada fonema e se constrói os sons em conjunto para alcançar a pronúncia completa da palavra.

A carta, redigida pela ABALF (Associação Brasileira de Alfabetização), é uma resposta às declarações do novo secretário de alfabetização, Carlos Nadalin, que integra a secretaria de Alfabetização, criada para substituir a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, extinta pelo governo Bolsonaro.

O que diz a carta sobre o método fônico?

A principal motivação do coletivo é garantir a permanência de um olhar plural para o processo de alfabetização. A defesa do grupo, portanto, é que apenas o método fônico não dá conta de atender a todas as demandas do letramento.

“A alfabetização, como campo de pesquisa e como ação pedagógica, é multifacetada e, portanto, supõe um conjunto articulado de saberes”,  diz o texto da carta.

“A disputa entre concepções e métodos não pode obscurecer a finalidade de alcançarmos, por todos os meios, os sujeitos e grupos que têm direito de se alfabetizar”

Leia um trecho

“Ter a alfabetização como prioridade implica, de um lado, um olhar retrospectivo sobre o alcance de estratégias que foram sendo empregadas ao longo do tempo. Por outro lado, as estratégias devem dialogar com os problemas de um dado momento histórico, analisando-se e levando-se em conta os fenômenos e as características próprios desse período. Há uma ideia amplamente difundida de que a alfabetização não avança no Brasil. Essa conclusão equivocada resulta da análise isolada de índices, que desconsidera uma comparação essencial entre séries históricas. Por exemplo, do final do século XIX até as primeiras décadas do século XXI passamos de 17,7% de alfabetizados (primeiro censo de 1872, sem computar a população escrava) para 93% da população com 15 anos ou mais de idade (IBGE, 2017).”

“A alfabetização não se constitui como uma aquisição individual, apenas. Trata-se, isso sim, de um direito social que fomenta inúmeros outros direitos”

A carta-manifesto está aberta para assinatura de organizações, coletivos, movimentos ou de pessoas.

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