"O que está raso na ideia de literatura para crianças é alguns livros serem classificados estritamente como meramente ‘infantis’", defende o autor André Neves
Abrir a cabeça para as muitas possibilidades que a leitura pode oferecer passa pelo questionamento: "literatura infantil é só para crianças?". Saiba mais.
Para o escritor e ilustrador André Neves, “para aproximar o leitor da fantasia”. O autor pernambucano defende a ‘literatura para a infância’, que amplia e questiona o que hoje entendemos por “literatura infantil“. Para ele, livros para a infância são aqueles que atingem e encantam não só as crianças, mas também a infância que habita cada adulto.
Prestes a lançar seu novo livro, “NUNO e as coisas incríveis“, André pratica em suas obras o exercício constante de lembrar que encantamento é disposição, e por isso faz histórias que oferecem um olhar renovado sobre coisas do cotidiano, que muitas vezes o olhar ‘adulto’ deixa de observar. São livros sem rótulos para infâncias sem idade. Por isso, quando questionado para que, afinal, serve a literatura para crianças, ele responde sem pestanejar que a finalidade é a fantasia, a imaginação, o devaneio. Para o autor, o conceito de “literatura infantil” que temos hoje é superficial.
“O que está raso na ideia de literatura para crianças é alguns livros serem classificados estritamente como meramente ‘infantis’, mesmo quando muitos deles carregam uma potência de percepção da infância dos adultos”
André Neves inaugura uma exposição inédita em São Paulo neste sábado, 22 de outubro, na Livraria NoveSete, Vila Mariana, em que vai justamente propor ao visitante que conheça as muitas possibilidades do gênero a partir de uma imersão pela materialização de cenários e personagens literários.
O livro “NUNO e as coisas incríveis” conta a história de um menino sensível que recria o significado das coisas com a imaginação e a observação das coisas que o cercam.
O mecanismo que o autor utiliza para atingir essa aproximação com a fantasia é mesclar a narrativa visual com o texto. A história não fica só nas palavras e transborda para as imagens e para os muitos espaços em branco, exigindo do leitor a sensibilidade de colocar-se à disposição da imaginação. Isso faz com que não só as crianças se encantem com a história, mas também que os adultos encontrem nela uma oportunidade de resgatar o gosto pela imaginação.
Segundo ele, a intenção de suas obras é fazer com que o leitor, independentemente de sua idade, alcance com a imagem os mesmos recursos de pensamento que ele alcança quando lê as palavras, e destaca a a importância de nos alfabetizarmos para a leitura visual. “No caso da criança, é mais fácil que para o adulto. A criança está mais liberta pra ler uma imagem, o adulto é que ainda não sabe como mediar essa leitura”, aponta.