A história de uma creche que observa minuciosamente os bebês

NEIM Albert Sabin, no Guarujá, esbanja criatividade e cuidado na construção de espaços de acolhimento para as crianças

Camilla Hoshino Publicado em 07.02.2020
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Resumo

Vínculo e afeto em espaços criativos para brincar é a proposta do NEIM Albert Sabin, localizado no Guarujá, cidade do litoral de São Paulo, para acolher 250 crianças. Vem conhecer essa experiência!

Talvez brincar seja uma das palavras mais potentes na gramática da infância. Explorar o mundo, brincando, está no centro das ações, nos primeiros anos da vida: procurar, sentir, experimentar, descobrir. Tendo isso em vista, o Núcleo de Educação Infantil Municipal (NEIM) Albert Sabin, creche pública localizada no Guarujá, cidade do litoral de São Paulo, organiza constantemente os ambientes da instituição para que o processo de aprendizagem esteja intimamente ligado a essa experiência genuína do corpo.

“Pensamos em espaços que remetam ao cotidiano das crianças e que possibilitem contato com a natureza. Todos eles promovem desafios motores e de convivência com as outras crianças”, afirma a diretora Ivoneide Francisca de Araújo.

Um exemplo disso é o ambiente da “casinha”, que conta com utensílios já conhecidos pelos pequenos e outros ainda não estruturados, como carretéis, caixas de papelão, discos de madeira, canos de PVC, latas, embalagens e outros objetos que costumam ser descartados.

“Nesse momento, o nome que se dá ao objeto não tem relevância”, defende Ivoneide. A principal ideia, segundo ela, é que esses materiais sejam um convite à invenção, criatividade e também à cooperação entre as crianças, durante a descoberta de sua aplicabilidade.

E para quem acha que brincar de casinha é só mais uma forma divertida de passar o tempo, o Lunetas foi investigar como essa brincadeira tão popular e tradicional, de norte a sul do país, pode se tornar um espaço de cuidado, acolhimento, construção de vínculos e espelhamento de si. Limpar, arrumar, cozinhar: brincar de casinha é reinventar a vida.

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Um pedacinho de natureza, com terra batida, plantas, pedras, tocos de madeira, cordas nas árvores e pinturas no chão, com obstáculos

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Na creche NEIM Albert Sabin brincar é aprender levado a sério

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São aproximadamente 70 funcionários que, todos os dias, abrem as portas da creche para o atendimento de 250 crianças

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Se há contêineres e almofadas espalhadas pelo chão, não é por falta de cuidado

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As crianças da creche têm acesso a materiais não estruturados como não estruturados, como carretéis, caixas de papelão, discos de madeira

Brincar com autonomia

Em 2019, um projeto realizado pelas educadoras Ana Paula Soares, Juliana Mondin e Rosa Maria Bezerra, trouxe ainda mais vida à instituição: um pedacinho de natureza, com terra batida, plantas, pedras, tocos de madeira, cordas nas árvores e pinturas no chão, com obstáculos.

A diretora conta que as famílias fizeram a diferença na implementação do espaço e demonstraram o potencial da coletividade. Não é por acaso que o nome do pátio se tornou “VenSer” e passou a ser o cantinho preferido de todos.

E se a marca dos projetos do NEIM Albert Sabin é a brincadeira, também há uma compreensão por parte dos educadores de que a intromissão do adulto não é necessária. “Nosso papel é buscar conhecimento para acompanhar as inovações e descobertas sobre os bebês e as crianças, organizando os espaços e disponibilizando materiais que oportunizem experiências ricas de sentido”, explica. O resto fica por conta das crianças e do interesse em conhecer e realizar.

Um dos termômetros desse processo, em 2019, foi a realização do projeto “Os quatro elementos”, organizando as práticas e as tomadas de decisões sobre quais materiais a equipe ofereceria às crianças e como disponibilizariam os espaços. “Foram da chuva à fogueira, captando sempre as emoções e as experiências demonstradas pelas crianças. A reflexão do grupo foi um ganho enorme”, relata Vanessa Menezes, orientadora pedagógica.

“Nosso papel é buscar conhecimento para acompanhar as inovações e descobertas sobre os bebês e as crianças, organizando os espaços e disponibilizando materiais que oportunizem experiências ricas de sentido”, explica Vanessa.

A creche pública e a construção de vínculos

São aproximadamente 70 funcionários que, todos os dias, abrem as portas para o atendimento de 250 crianças. “A chave do nosso acolhimento é o cuidado com todas as famílias, desde o ‘bom dia’”, garante a diretora. Para ela, é importante conhecer a especificidades de cada criança e família, priorizando a comunicação direta, para que haja vínculos de apoio que ajudem a sanar problemas e evitar desconfortos. Além disso, do ponto de vista afetivo-emocional, a criação de um ambiente de confiança entre a comunidade escolar impacta diretamente a experiência que as crianças desenvolvem com o corpo nos espaços da instituição.

A ênfase nas relações de afeto pode ser encontrada em outros projetos do NEIM Albert Sabin, como no berçário, norteado pelos princípios da Abordagem Pikler. Esta abordagem, desenvolvida pela médica húngara Emmi Pikler, sugere dar à criança o vínculo e ao mesmo tempo a independência de que ela necessita para se desenvolver em plenitude.

Nessa abordagem, especialistas relacionam o desenvolvimento cognitivo, motor, emocional e físico das crianças a suas relações interpessoais. Ou seja, indica que, a possibilidade de um bebê explorar o mundo está atrelada a sua sensação de acolhimento e segurança. Por isso, de acordo com a orientadora pedagógica, a necessidade de valorizar vínculos saudáveis, atentar a organização dos espaços, observar minuciosamente os bebês e pensar na oferta adequada de brinquedos para cada faixa-etária.

Cada canto ou ação do NEIM Albert Sabin tem, portanto, um fundamento. Se há contêineres e almofadas espalhadas pelo chão, não é por falta de cuidado, mas para ajudar no deslocamento dos mais novos, que ainda não andam.

“Buscamos estudar todas as tendências que façam sentido para nós e que sejam significativas para os bebês”, conta a orientadora. Algumas inspirações da equipe vêm de nomes como Aldo Fortunati, Paulo Fochi, Cisele Ortiz, Vygotsky, Freud, Paulo Freire, Madalena Freire, Mirtha Chokler, Anna Tardos.

A união da intenção pedagógica com espaços que apresentam conteúdo capaz de despertar emoções e vivências importantes para as crianças acabam despertando o olhar dos curiosos para essa instituição pública, onde brincar e aprender passam a ser sinônimos.

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