Livro ‘A Eleição dos Bichos’ mostra como se escolhe um governante

O rei Leão pensa que pode mandar sozinho em toda a floresta. Quando ele resolve desviar o rio para fazer uma piscina na sua toca, os bichos convocam uma eleição

Renata Penzani Publicado em 31.08.2018

Resumo

O livro "A eleição dos bichos" foi construído com a ajuda das crianças, e explica como se faz um processo eleitoral democrático de verdade. O projeto é do Estúdio Rebimboca, e acabou de sair pela Companhia das Letras.

Na floresta, a soberania rola solta, e o Leão manda e desmanda no pedaço. Para piorar, o rei tem uma ideia bastante antidemocrática, e resolve desviar o curso de um rio para construir uma piscina na própria toca. Revoltada, a bicharada convoca eleições gerais para escolher um representante que realmente a represente. Esse é o cenário do livro “A eleição dos bichos“, lançamento da Companhia das Letras que chega em momento oportuno, às vésperas da disputa eleitoral.

A partir de hoje, TVs e rádios do Brasil todo passam a exibir o horário eleitoral, e as crianças, é claro, terão muitas perguntas. Para estimular esse diálogo aberto em casa, o livro fala sobre política de forma leve e honesta. No final da história, a publicação traz um Glossário em linguagem simples para os pequenos, explicando palavras como democracia, eleitor e urna.

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Sinopse

No páreo estão a Macaca, a Preguiça, a Cobra e o próprio Leão. Mas o que exatamente acontece em uma eleição? Quais são as regras? Como o vencedor é eleito? Este livro explica o funcionamento das eleições de forma divertida e dinâmica para crianças. Prepare-se para descobrir tudo isso junto com os bichos e escolher o seu candidato preferido. Só não conte a ninguém: o voto deve ser secreto!

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Estúdio Rebimboca/Divulgação Companhia das Letras

No livro, os bichos já estavam mais do que cansados dos abusos de poder do Leão.

Quase uma espécie de “Revolução dos bichos” (George Orwell, 1954) para crianças, a autoria do livro é do Estúdio Rebimboca – formado por Larissa Ribeiro, André Rodrigues, Paula Desgualdo e Pedro Markun -, que em 2015 publicou o também infantil “Quem manda aqui?“, primeiro de uma série de livros sobre política para o público infantil. Ambos foram construídos coletivamente, com contribuição valiosa das maiores interessadas, a criança.

Em entrevista ao Lunetas, o escritor Pedro Markun defende que os adultos precisam parar de fazer discurso de ódio para evitar que as crianças associem político a algo feio e errado. O livro faz parte desse desejo.

“Conversar sobre política é uma forma de se conectar com o comum. De entender que você faz parte de algo maior”

Conversamos com ele para conhecer melhor o projeto.

Confira a entrevista!

Lunetas: Como foi ouvir ou trabalhar com crianças para este projeto?

Pedro Markun: A gente acredita que esse processo, coletivo e participativo, enriquece muito o trabalho. É uma forma de afinar a forma e o conteúdo com aquilo que realmente faz sentido para as crianças. Seguimos um processo muito parecido com o primeiro livro, uma série de oficinas – com crianças da rede pública e privada e diferentes faixas etárias. Na oficina, a gente simulava uma eleição na selva, com cada criança adotando a mascara e persona de um determinado bicho – leão, joaninha, preguiça, cobra, macaco, coruja – os diferentes bichos se reuniam em grupos pra criar seu plano pra selva. É incrível como rapidamente a coisa toma forma. Conceitos como partido, coligação, maioria simples, direitos de minorias aparecem sem que a gente precise falar sobre elas. É a partir da observação dessa vivência, dos comportamentos verbais e não verbais que a gente extraiu as referências do livro.

Lunetas: Teve financiamento coletivo também? Podem contar um pouco sobre a trajetória do projeto?

Pedro: Opa, teve sim. A gente acredita que esse é um modelo muito legal – pra além de viabilizar economicamente o trabalho de produção e as oficinas – cria-se uma rede de pré-leitores que estão envolvidos com o livro desde a sua concepção. Fizemos o financiamento, realizamos as oficinas e aí seguimos para o processo de finalização já com o apoio da Cia das Letrinhas.

“Para além de contar a história, fiquem atento às dúvidas e inquietações que a leitura desperta na criança”

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Estúdio Rebimboca/Divulgação Companhia das Letras

Como funciona uma eleição? O livro explica política para as crianças sem complicar.

Lunetas: Achamos interessante principalmente a parte dos cartazes de cada animal candidato. Como chegaram nessa ideia, e como ela comunica à criança conceitos importantes como democracia e representatividade, por exemplo?

Pedro: Nas investigações para o livro, a ideia do “santinho” se mostrou algo muito presente no imaginário sobre política. O André e a Larissa, na hora de ilustrar, fizeram uma extensa pesquisa de imagens buscando referências em diferentes períodos da nossa história política. Todos aqueles cartazes, aliás, são baseados em dizeres e formatos reais – readaptado pra realidade da floresta.

Lunetas – Que dicas vocês dariam para a mediação de leitura deste livro? Como ele pode ser aproveitado diante dessa guerra eleitoral que vivemos?

Pedro: Esse é um livro aberto. A história é mais fechada e linear que o “Quem Manda Aqui?, primeiro livro da série, mas ainda assim a gente fez o possível para deixar uma série de perguntas e possibilidades de diálogo em aberto. Para além de contar a história, fiquem atento às dúvidas e inquietações que a leitura desperta na criança.

Outra novidade desse livro, que a gente deve continuar adotando, é o Glossário – percebemos que muitas vezes as crianças não compreendem o sentido de uma palavra ou outra mas não perguntam, extraindo o sentido do contexto – ou mesmo ignorando por completo. Isso é muito legal, e muito do nosso vocabulário acaba sendo construído dessa maneira. Mas se o objetivo é mesmo falar de política – provocar ativamente sobre o significado de algumas daquelas palavras pode gerar boas conversas.

“Por todos os lados as palavras “política”, “eleição”, “presidente” ecoam pra elas”

Lunetas – Na opinião de vocês, qual o impacto de conversar sobre política desde a infância?

Pedro: Conversar sobre política é uma forma de se conectar com o comum. De entender que você faz parte de algo maior, uma sociedade que tem regras e formatos que não surgem do nada, pelo contrário – são definidas por essa própria sociedade. Entender esse mecanismo é uma chave pra autonomia e pensamento crítico, valores que a gente acha super importante de trabalhar nas crianças.

Lunetas – Pensando nos eventuais feedbacks que possam ter recebido, como as crianças têm encarado a história, e como elas apreendem a proposta do livro?

Pedro: Acho que ainda é um pouco cedo, na verdade. Só posso falar aqui de casa 😉 O livro é tema recorrente, em parte porque fui eu que escrevi – mas essencialmente porque por todos os lados as palavras “política”, “eleição”, “presidente” ecoam pra elas.

Lançamento

O evento de lançamento de “A eleição dos bichos” será neste sábado, 6 de outubro, das 11h às 14h, na Livraria NoveSete, na Vila Mariana. A entrada será gratuita. Clique aqui para saber mais.

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