Alfabetização: o que é preciso para a criança dominar a escrita?

A especialista Cristina Nogueira explica o que é alfabetização, como ela acontece e como estimulá-la da melhor forma possível

Martha Lopes Publicado em 25.10.2017 Atualizado em 20.09.2022
Menino concentrado em um jogo brinca montando as letras do alfabeto. A foto é em preto e branco.
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Resumo

A criança é ativa na construção do próprio conhecimento, mas é preciso fazer as intervenções para que ela avance no seu processo. Nesta matéria especial sobre alfabetização na infância, tire suas dúvidas sobre como estimular os pequenos de forma correta.

De repente, vira-se uma chave: a criança que só reconhecia as letras do alfabeto, meses atrás, passa a unir sílabas e decodificar palavras. Em passeios pela rua, em casa, diante de cardápios e letreiros de lojas, começa a ler em voz alta todas as palavras que encontra. A alfabetização é uma etapa fundamental no seu desenvolvimento e um momento muito marcante na vida dos pais e, por isso mesmo, capaz de gerar muita ansiedade.

O que é exatamente a alfabetização?

Cristina Nogueira, coordenadora do curso de Pedagogia do Instituto Singularidades, esclarece: “A alfabetização pode ser definida como o domínio da técnica da escrita, quando a criança entende a relação entre letra e som e começa a escrever com autonomia, próximo ao padrão e de acordo com as normas ortográficas”.

Claro que, antes desse momento, há uma etapa mais ampla, que envolve trabalhar aspectos relacionados à formação da leitura e da escrita, ainda que não se exponha a criança diretamente à alfabetização. A Irmã Patrícia Ferreira de Morais, coordenadora geral da Educação Infantil e do Fundamental I do Colégio Santa Marcelina, em São Paulo, conta que, ali, esse é um movimento praticado desde que os pequenos ingressam na escola.

“Com dois anos, os alunos são inseridos em um universo de letramento. Têm atividades de estimulação e de leitura de mundo. Assim, com imagens e símbolos, vamos preparando a criança”

Panorama do letramento no Brasil
É importante pontuar que, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, o Brasil ainda tem 11 milhões de analfabetos – em 2016, essa taxa era de 12,9 milhões. Mais da metade dos analfabetos tem mais de 60 anos.

De acordo com a psicóloga e pedagoga Betty Monteiro, é importante que o processo formal de alfabetização comece a partir dos sete anos de idade. Para ela, trata-se de um marco que precisa ser respeitado, pois, nessa idade, o sistema nervoso já está amadurecido e as células nervosas estão mielinizadas, ou seja, com uma camada que as amadurece e as deixa prontas para absorver essas informações.

Além disso, para dominar a escrita, é preciso trabalhar, com a criança, a coordenação motora fina, a noção de tempo e de espaço, o saber se reconhecer e reconhecer o outro, conseguir decodificar símbolos, ter boa percepção visual e capacidade de discriminar sons.

“Antigamente, chamávamos isso de prontidão para a alfabetização, um requisito básico. Mas a criança deve estar pronta e há um momento anterior a isso”, explica.

“A Educação Infantil tem um papel fundamental, por ser um período preparatório físico, sensorial, emocional e psicomotor”

Como a alfabetização acontece?

Escolas de linhas pedagógicas variadas introduzem as crianças ao processo de alfabetização de formas diferentes, mas, a partir da Lei do Ensino Fundamental (2006) – que ampliou essa etapa de ensino para nove anos de duração com matrícula de crianças de seis anos de idade -, a orientação passou a ser a de alfabetizar os alunos somente nesta fase. Esse processo se inicia no primeiro ano e se estende aos próximos.

Um documento do Ministério da Educação diz: “O Ensino Fundamental de nove anos ampliou o tempo dos anos iniciais, de quatro para cinco anos, para dar à criança um período mais longo para as aprendizagens próprias desta fase, inclusive da alfabetização”.

Cristina Nogueira explica que há muitas discussões no meio da educação sobre a antecipação da alfabetização e uma eventual determinação para que o processo se encerre no segundo ano.

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A alfabetização não é só reconhecer letras e sons, mas também saber utilizá-los em um contexto.

No entanto, de acordo com a especialista, mais importante do que antecipar, é garantir que a criança curse uma Educação Infantil em que consiga “se apropriar de atitudes e comportamentos que envolvam a leitura e a escrita mesmo que ela não saiba escrever convencionalmente. Assim, já começará a construir conceitos importantes para depois usar a autonomia para ler e escrever”.

Outro ponto importante é que, desde os anos 1980, com pesquisas como a desenvolvida pela psicolinguista argentina Emilia Ferreiro, pesquisadora da escrita de crianças não alfabetizadas, a alfabetização passou a ser compreendida como um processo que vai além da apropriação do sistema de escrita e leitura.

“Passa não só por conhecer letras e sons e por conhecer o sistema do Português, mas por reconhecer e saber usar a leitura e a escrita em diferentes contextos”, explica Cristina

Assim, entende-se que a criança pensa sobre a forma como escreve, vai criando hipóteses alfabéticas e construindo as palavras e os significados.

No trabalho que o Instituto Singularidades desenvolve de formação de professores, tem-se uma perspectiva de que os participantes conheçam diferentes teorias e métodos de alfabetização, entendendo que a criança é ativa na construção do próprio conhecimento, mas sabendo fazer as intervenções certas para que o aluno avance no seu processo.

Cristina esclarece: “A criança não se alfabetiza sozinha. O adulto precisa ter bom conhecimento para fazer as perguntas e usar os materiais que ajudarão o aluno a se apropriar da escrita”.

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