SBP lança guia para orientar pediatras sobre disforias de gênero

Segundo o guia, é impossível prever se uma criança com sinais de desconformidade entre o sexo biológico e a identidade de gênero persistirá com essa questão

Da redação Publicado em 20.09.2017

Resumo

Critérios para diagnosticar e tratar as disforias de gênero são abordados em documento da SBP.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de lançar um guia para orientar pediatras a tratarem e orientarem famílias em casos de crianças e adolescentes com disforia de gênero, condição marcada pelo descompasso entre gênero que a criança expressa e o gênero designado no nascimento.

O texto foi produzido pelo Departamento Científico de Adolescência da entidade, e tem o objetivo de orientar os pediatras a fazerem o atendimento e encaminhamento correto para garantir acolhida da criança na rede de saúde.

Segundo o guia, é impossível prever se uma criança com sinais de desconformidade entre o sexo biológico e a identidade de gênero persistirá com essa questão na adolescência e na vida adulta

Pesquisas mostram que cerca de 90% das crianças voltam a ficar satisfeitas com o gênero biológico próximo à adolescência.

Apenas em alguns indivíduos – chamados transgêneros ou transexuais –, porém, permanece a percepção de incongruência entre o sexo biológico (características genitais presentes ao nascimento) e a identidade de gênero.

De acordo com o documento, por volta do segundo ano de vida, as crianças já conseguem se identificar como meninos ou meninas e apresentam brincadeiras relacionadas ao seu gênero

Entre os dois e três anos, no entanto, é que tem início a construção da identidade de gênero que, segundo o texto, é uma experiência pessoal e profunda que abarca aspectos emocionais, psíquicos, culturais e sociais. Entre os seis e sete anos, as crianças passam a ter consciência do seu gênero e de que ele permanecerá o mesmo.

A presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, disse em nota está preocupada com a forma sensacionalista que essa temática tem sido tratada recentemente pela mídia. Ela ressalta a complexidade das disforias de gênero, cujo diagnóstico definitivo é multifatorial e depende do envolvimento de uma equipe multidisciplinar.

Ela alerta os profissionais e as famílias para o risco de decisões intempestivas e para o uso indevido de medicamentos, como o emprego precoce de hormônios sem a devida orientação clínica. “Esse assunto não pode ser visto como um fenômeno de moda. É necessário extrema cautela e zelo, pois há o risco de consequências negativas decorrentes de ações impensadas”, ressaltou.

No Brasil, existem dois centros especializados em acolher crianças transexuais: o AMTIGOS, do Hospital das Clínicas da USP, e o PROTIG (Programa de Identidade de Gênero), ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O AMTIGOS é formado por uma equipe de 35 profissionais – entre psicólogos, psiquiatras e assistente sociais – responsáveis por fazer uma triagem e posterior acompanhamento psicológico e psiquiátrico de crianças, jovens e adultos que chegam com alguma questão relacionada à disforia de gênero. Clique aqui para saber mais sobre este trabalho.

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