Ártemis, Oyá, Yennenga. O que elas têm em comum com a Cinderella e a Bela Adormecida? São princesas! Mas são também fortes e corajosas
Princesas, sim; frágeis, nunca. O livro apresenta heroínas que guerreiam, atiram com arco e flecha e vão embora quando querem. Afinal, o problema não está em querer ser princesa, mas em ter que obedecer a um padrão de conduta submisso, frágil e dependente.
Quem foi que disse que as princesas precisam ser vulneráveis e indefesas? Por trás do ideário cor-de-rosa das princesas que figuram nos filmes e na publicidade infantil, existem séculos de História para conhecer e explorar. Da intenção de mostrar aos pequenos tudo o que as princesas podem verdadeiramente ser, nasceu o livro “Princesas Guerreiras”, que a escritora e ilustradora Janaina Tokitaka acaba de lançar pela editora Pallas.
São histórias sobre mulheres fortes, corajosas e lutadoras, recolhidas de toda parte do mundo, como Japão, Gana, Grécia e Noruega. Não se trata só de romper os estereótipos estabelecidos, mas de ampliar o repertório das crianças sobre aquilo que elas podem ser, desejar e ter como referência.
Janaina explica que ao ter contato com uma história, o leitor naturalmente se coloca no lugar do protagonista; assim, para ela, as princesas representam simbolicamente a própria criança.
“Eu gosto muito de contos de fadas e sinto que muitas mulheres feministas também. Eles são maravilhosos: cheios de cenários estranhos e lições de vida difíceis, mas valiosas. As heroínas desse tipo de história são, invariavelmente, as princesas. No fundo, elas representam a criança (lembrando que essa criança é muitas vezes simbólica e não necessariamente obedece a uma faixa- etária pré-estabelecida).
Porém, se há muito o que pode ser questionado nos contos de princesa, um detalhe importante chama a atenção em quase todos eles, a chamada “jornada do herói”. Ou seja, elas precisam vencer desafios para chegar onde querem e se tornar quem verdadeiramente são.
“A princesa é um ser jovem, em busca de algo, que possui algo de especial. Ninguém estabeleceu que elas precisam ser frágeis e belas”
“O que está estabelecido, isto sim, é que elas terão que passar por uma jornada para se descobrirem como indivíduos. É algo que é genuinamente humano e muito importante”, explica Janaina.
“Mas você é feminista e gosta de histórias de princesas?”, ou a versão materna “Você lê histórias de princesa para sua filha?” são perguntas que Janaina já ouviu algumas vezes na vida. Afinal, o que há de mal em gostar de princesas? Para Janaina, nada.
As malfadadas heroínas de capa e longos vestidos esvoaçantes têm sua origem nos contos de fada, histórias que eram passadas de boca em boca e recolhidas por autores diversos, como Charles Perrault, Giambattista Basilee os Irmãos. Histórias que reforçam a concepção de que o sexo feminino é dócil e frágil, e que cabe somente aos homens a força e a destreza para vencer os desafios. Uma visão eurocêntrica e pautada no sistema patriarcal, em que cabe à mulher nada além de estar bela para esperar o príncipe encantado.
Por isso, o que a autora fez para chegar neste livro foi buscar referências em outras culturas, e descobriu que nem sempre a mulher é retratada com desvantagem em relação ao homem; nos contos africanos, por exemplo, frequentemente é da mulher a missão de salvar a aldeia e tomar à frente das decisões.
Do século XIX para cá, as histórias de princesas foram contadas e recontadas incontáveis vezes nos mais diferentes contextos, e a imagem que mais se fixou no imaginário popular foi a das releituras da Disney.
Ao ouvir a palavra “princesa”, imediatamente pensamos em Cinderella, Branca de Neve, Bela Adormecida. A iniciativa de criar heroínas independentes e autossuficientes é recente, e ganhou corpo em personagens como Moana e Valente
No livro, quem ganha corpo são figuras ainda desconhecidas mas com grande potencial de se tornarem referências incríveis para as crianças. “Princesas que guerreiam, atiram com arco e flecha, se transformam em búfalas, aparece quando querem e vão embora quando sentem vontade”, descreve a contracapa do livro.
“As protagonistas destes contos do mundo inteiro vão fazer você pensar duas vezes antes de dizer que princesas são frágeis donzelas em apuros”
Cada capítulo apresenta uma princesa e acompanha uma breve descrição de quem elas são. Conheça algumas delas:
“Princesas Guerreiras”, que Janaina define como seu projeto de uma vida inteira pensando e repensando os padrões do que é o feminino e o papel social da mulher, desconstrói a imagem pronta que vem à mente da maioria das pessoas quando escutam a palavra “princesa”. No próprio título, o substantivo parece brigar com o adjetivo, porque o estereótipo da fragilidade dos contos de fada é muito forte. É princesa, mas também luta? Então isso pode?
Não se trata de recusar as princesas da forma como a conhecemos, mas sim de pensar por que só conhecemos essas. Para onde foram as centenas de outras referências do que é ser uma mulher? Para responder a essa e outras perguntas, a paulistana passou anos e anos recolhendo material e pesquisando.
Enfim, chegou a uma conclusão: “os contos de fadas são muito mal interpretados”
“É uma pesquisa de vida, mesmo”, diz a autora. “Desde que comecei a escrever esse tema, dou cursos sobre o assunto e coleciono livros de contos de fada de todos os formatos e origens. Tinha muito material em casa, mas usei fontes diversas, desde relatos orais, diretos, até livros acadêmicos. Para compilar, escrever e selecionar estas histórias, levei mais ou menos dois anos. Recontei como quem segue uma receita gostosa: respeitando os ingredientes originais, mas colocando um ou outro tempero diferente”, conta Janaina que, ela própria, tem nome de guerreira.
“E como as crianças ganham com isso?” Perguntamos à autora. “Esse é um livro universal, para todas as idades. Acho que as crianças vão gostar de ter heroínas independentes como referência e as mães também vão se enxergar nessas personagens”, resume. Saiba mais sobre o livro “Princesas Guerreiras“.
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