O caminho do vínculo e do contato pele a pele e olho no olho é o mais efetivo - afetivo. É o que defende o pediatra Carlos Eduardo Correa
Para o pediatra Cacá, "quando chora, o bebê está te chamando, e o que ele quer é você! Talvez seja esse o aprendizado mais difícil". Confira essas oito dicas de como acalmar o choro do bebê.
Bebês choram. Pode ser por conta de um desconforto, como a cólica ou a fralda suja, por fome, por sono. Mas a causa do choro também pode ser algo que os pais não conseguem decifrar. Mas, seja qual for a causa, poucas coisas no mundo causam tanta angústia e culpa nos pais quanto um filho chorando.
Em post compartilhado em seu blog, o pediatra Carlos Eduardo Correa, o Cacá, apresenta algumas sugestões e reflexões construídas a partir de sua experiência prática como pediatra e pai para lidar com esse momento, o choro. Mais do que sugestões, como ele mesmo diz, são atitudes pacificadoras.
“Em primeiro lugar, quero destacar que tenho muito o que aprender. Nós, os adultos, temos muito o que aprender quando se trata das sutilezas da vida humana em um momento tão singular que é a chegada de uma nova vida ao mundo e a construção de uma nova família. Estamos aprendendo a ser pais , tios, avós e toda uma constelação de relações humanas a partir do bebê.
No entanto, uma das minhas bases de atuação versa sobre a potência desse estado de aprendizado. Quando nos sabemos aprendizes das situações que vivemos, legitimamos a construção de novos caminhos. E TODOS os caminhos de construção de vínculos entre os bebês e seus pais são verdadeiros. O choro do bebê é uma oportunidade potente nessa visão. Já que, na nossa sociedade, o choro se configura como forma de comunicação entre o bebê e seus pais”.
“Aprendi também que o uso de carregadores de pano são positivos aliados nessas situações. Não só porque resgatam a prática ancestral do contato físico, indispensável para esse bebê e para esse adulto encaminhando para a construção de vínculos. Mas também por terem comprovadamente benefícios pacificadores para as duplas”.
“Todos os caminhos que levam à construção de vínculos que se constroem pela observação e contato físico com o bebê são os mais poderosos em lidar com o choro do começo. Na ótica da proximidade física entre adultos cuidadores, as massagens e os toques não podem ficar de fora. A experiência de mães e pais, profissionais de saúde e médicos pediatras comprova. Apesar de tecnicamente muito se falar na massagem como uma forma de “aliviar dores” e “melhorar o intestino” do bebê, cabe lembrar que o contato afetuoso carrega também vantagens de ordem psico-emocional, que norteiam o bem-estar do bebê e do adulto a partir da esfera sensóriomotora: uma questão muitas vezes esquecida nas sociedades contemporâneas que gostam de explicações científicas e cognitivas para tudo. Estamos falando de prazer aqui!”
“Por mais incrível que pareça, o bebê não necessita de banhos com finalidades meramente higiênicas. O momento do banho é de cuidado, que o bebê entende como amor. O bebê entende tudo como o amor que ele quer receber. Portanto, o momento do banho pode ser gostoso o prazeroso. Contradizendo a prática atual das banheiras, que coloca o bebê pequeno muitas vezes de corpinho exposto em um espaço-gravidade estranho de entender, a minha experiência mostra que o banho de chuveiro no colo de pai e mãe ou o banho de balde, muitas vezes aliado à contenção do cueiro, tem resultados efetivos nessa sensação de prazer. Bebês pequeninos normalmente preferem esses banhos. Os bebês mais velhos que gostam de brincar na banheira, experimentar a água e sentem-se felizes em bacias”.
“Refletimos como muitas vezes diante do choro do bebê os adultos se paralisam e tendem a não tomar nenhuma atitude, entrando em uma espiral de desespero que notoriamente não tem benefício nenhum. Eu gosto de lembrar: o bebê é uma pessoa! Ele está ali, presente no momento do choro em seu corpo, mente e sentimentos. O casulo, charutinho e outras espécies de contenção também são atitudes que pacificam esse estado, por promoverem um contorno, por convidarem tanto o adulto como o bebê a sentirem-se presentes, existentes. Além de é claro, comprovadamente aportarem ao bebê a memória intrauterina: um espaço contido, e não e imensidão daqui de fora. Que convenhamos, é apavorante até para os grandes”.
“Aliados aos carregadores de pano ou ao colo mater-paterno, estar em movimento com o bebê que chora é também uma atitude pacificadora. É comum, naquele momento de cansaço e paralisia do adulto, que ele se esqueça do ato ancestral de NINAR seu bebê. Vemos cuidadores desesperados que muitas vezes recorrem à uma chupeta por exemplo, antes mesmo de propor uma pequena dança pela sala, ou uma cantiga de ninar. Acho que aqui estamos falando do quanto podemos nos arriscar e nos entregar nas atitudes que promovam vínculo, ao invés de escolher atitudes que possam nos separar. Em combinação com o chiado, suaves canções ou ruídos que promovam uma concentração da dupla para algo além dos seus próprios desesperos, são sempre uma boa ideia.Devo lembrar também que o uso de redes para dormir ou algum tipo de berço que balance como a rede é visto desde as índias brasileiras,passando pelas andinas ate o extremo oriente. Balançar faz parte da cultura mundial de cuidar de bebes”.
“Um pediatra americano, como é costume dos americanos, nomeou uma técnica de acalmar o choro do bebê baseada em 5 etapas que em inglês começam com a letra S: Swaddle, Stomach Position, Shush, Swing, Suck. Na ordem, a contenção, a posição lateral ou verticalizada (em oposição a deixar o bebê deitado de costas), chiado, balanço e sucção. Aqui quero pontuar que o instinto de sugar é inerente ao bebê – e é o que garante a sua sobrevivência. A amamentação em livre demanda, ou seja, quando o bebê pede (e ele pede de várias maneiras, não apenas chorando), é uma forte aliada na construção do vínculo, não apenas da saúde e estabelecimento pleno da amamentação. Exatamente porque para além do alimento, o bebê gosta e precisa sugar. Alguns bebês precisam sugar mais, outros bebês encontram seus dedinhos e sugam, e há aqueles que só se confortam no seio materno. Há sempre a opção da chupeta, que é também um recurso legítimo nesse processo. Mas sempre com a consciência de que se trata de um mediador dessa relação física entre mãe e filho, que pode ser muito útil no momento de choro, mas pode também a longo prazo, trazer outras questões para serem observadas depois, quando invariavelmente esse bebê precisar se livrar do hábito de sugar a chupeta. Precisamos também pontuar que a sucção não nutritiva para bebês pequenos pode representar algum prejuízo para o estabelecimento da saúde desse bebê e também para a amamentação. Gosto de pensar que a chupeta é um recurso para os pais. E não para o bebê. Colocando também que é da mulher, a dona desse corpo que não pode ser esquecido da equação, encontrar o limite de ser sugada e quando. Claro, não é tarefa fácil”.
“Um bebê chorando normalmente cerra os olhos com força. Fabrica seu próprio som de descontentamento que o deixa longe do contato com o mundo. Ele fica lá, no mundo interno do choro. Se a busca para esse encontro de vínculo passa pelo corpo, não vamos esquecer dos olhos e da visão desse bebê. Minha experiência mostra que quando o bebê sai do estado do choro, seus olhos abrem e ele espera encontrar amor e contato. Isso se dá pelos olhos também, é hora de iniciar uma conversa. Bebês adoram balbucios e adultos que falem sua língua! Vocês vão se surpreender, se tentarem conversar com seus bebês, como eles são capazes de se comunicar de várias formas, que não o choro. Eles franzem as sobrancelhas, arregalam os olhos. Mesmo os pequeninos – a quem não é creditada a felicidade através dos sorrisos, que injustamente são chamados de reflexos – são eficientes em comunicar felicidade. Sorriem sim! Mostram a língua, estalam, falam, imitam as caretas dos adultos e gostam de tudo isso. Pronto, não estão mais chorando.
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