Parece a Peppa, mas não é: atenção aos vídeos falsos no YouTube

Existem milhares de vídeos no YouTube que parecem ser vídeos originais das séries infantis, mas na verdade contém conteúdo inapropriado para crianças.

Mayara Penina Publicado em 29.03.2017
Foto em preto e branco mostra boneco com pernas, braços e cabeça de porco.

Resumo

E não é só com a  Peppa Pig. A BBC descobriu outros vídeos parecidos com personagens do filme Frozen, Minions, Meu Malvado Favorito, Doutora Brinquedos, Thomas, a Locomotiva a Vapor e muitos outros.

Laura June é jornalista e mãe de uma menina de três anos. Semana passada ela publicou um artigo em sua coluna no site The Outline contando que, enquanto procurava um vídeo para a filha assistir na rede social de vídeos YouTube, se deparou com os mesmos personagens queridos pelas filha, só que protagonizando episódios falsos. Em um deles, a personagem Peppa Pig tem seu dente arrancado por um dentista com uma seringa gigante, tudo ao som de um choro angustiante.

“No episódio, a Peppa chora e grita muito, o dentista é um pouco sádico e (o vídeo) simplesmente está muito, muito longe do que uma garota de três anos deveria ver”, disse June no texto.

Depois da publicação de seu relato, o portal da BBC, desvendou centenas de vídeos que parecem episódios originais, mas, na verdade, são paródias com temas nada adequados para o universo infantil.

E não é só com a  Peppa Pig. A BBC descobriu outros vídeos parecidos com personagens do filme Frozen, Minions, Meu Malvado Favorito, Doutora Brinquedos, Thomas, a Locomotiva a Vapor e muitos outros. Um canal do YouTube, chamado Toys and Funny Kids Surprise Eggs  é uma das 100 contas do YouTube mais vistas no mundo – com vídeos que têm mais de cinco bilhões de visualizações.

A foto de capa do canal mostra uma criança ao lado de imagens aparentemente oficiais de Peppa Pig, do Thomas, a Locomotiva a Vapor; do Come-Come (personagem da Vila Sésamo), do Mickey, da Minnie e de Elsa, personagem de Frozen. Mas, ao acessar os vídeos no canal vê-se títulos como “Elsa de Frozen ranho gigante”, “Hulk pelado perde suas calças” e “Elsasangrenta: braço de Elsa de Frozen é quebrado pelo Homem-Aranha”.

Muitas dessas produções são paródias ou tem uma roupagem tão exagerada que claramente foram pensados para que que o público adulto assista. Todavia, muitos deles, têm conteúdo inadequados para crianças e podem se passar facilmente pelos desenhos autênticos.

Isso pode ser bastante complicado na medida que as crianças tendem a identificar-se com os personagens infantis. “Quando elas veem o seu personagem querido com comportamentos transgressores e agressivos, elas correm o risco de misturar os valores e princípios que estão sendo assimilados”, analisa a psicóloga Luciana Rocha.

“A criança está numa fase de aprendizado, de captura de informações que serão essenciais para a sua construção como ser social. Os desenhos ajudam também nessa construção. Os personagens infantis são também fonte de inspiração, uma vez que a criança se identifica com ele. Por isso, é tão importante que os responsáveis estejam cientes e avaliem se acreditam ser um desenho adequando ou não para seu filho, seja o desenho verdadeiro ou falso”, complementa.

Como evitar conteúdo impróprio no YouTube

À BCC, o YouTube, a sugeriu que os pais usem o aplicativo YouTube Kids, que está disponível para celulares e tablets, e acionem o “modo restrito”, que bloqueia o conteúdo denunciado. Ainda assim, alertam que “nenhum filtro é 100% preciso”.

E agora? Proíbo meu filho de ver o YouTube?

“Eu diria que prudência é um bom caminho. É importante que os pais saibam o que os filhos estão assistindo e reflitam quais os valores que esse desenho está passando para seu filho”, recomenda psicóloga, especialista em psicologia da saúde Luciana Rocha. E ainda vale sempre ter um adulto por perto para que possa fazer as interferências que julgar necessárias.

“De fato, quanto mais tarde for o contato da criança com esses desenhos, melhor. Pois mais velhas, elas já são capazes de julgar o certo e o errado, o que é o seu personagem de verdade e o que não é”, finaliza.

Sonia Livingstone, especialista em segurança infantil online e professora de psicologia social na Universidade britânica London School of Economics, disse em entrevista à BBC que “o site deve melhorar seus filtros”.

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Vários dos canais levados pelo BBC Trending à atenção do YouTube foram removidos.

“É perfeitamente legítimo que um pai acredite que algo chamado Peppa Pig vai ser realmente a Peppa Pig”, diz ela.

“E eu acho que muitos deles passaram a confiar no YouTube como uma maneira de entreter o seu filho por dez minutos, enquanto eles fazem um telefonema. Acredito que, se o YouTube quer ser uma marca de confiança, os pais precisam saber que há proteções ali.”

Recomendações

A SBP (Sociedade Brasileia de Pediatra)  recomenda que bebês com até dois anos não tenham nenhum acesso às telas, principalmente durante as refeições ou antes de dormir. Para crianças entre dois e cinco anos, o limite recomendado é de uma hora diária. Já as de seis anos não devem ter contato com jogos violentos e, até os dez anos, nenhuma criança deve ter televisão ou computador nos próprios quartos para evitar a vulnerabilidade do acesso a conteúdos inapropriados.

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