Elas representam 81% das cuidadoras de pessoas com doenças raras, que não recebem amparo do Estado
Mães e cuidadoras, elas são 81% das responsáveis pelo zelo de pessoas com doenças raras no país. Fatores como abandono afetivo paterno e falta de amparo estatal também dificultam o ofício.
A Pesquisa Nacional dos Cuidadores de Pacientes Raros no Brasil mostra que mães representam 81% das cuidadoras de pessoas com doenças raras: 78% acompanham a pessoa 24 horas por dia e 46% precisou pedir demissão do emprego para se dedicar ao ofício. Entre as mães cuidadoras, 65% não se sentem reconhecidas pelo trabalho desenvolvido.
“As doenças raras são progressivas, degenerativas e multissistêmicas. Por isso, as pessoas que têm doenças raras são afetadas de maneira ampla, o que leva, muitas vezes, à deficiência física ou problemas que impactam diariamente a vida delas”, explica, em nota, Antoine Daher, presidente da Federação Brasileira das Associações de Doenças Raras. A responsabilidade dos cuidadores envolve diversas tarefas: 92% acompanham a pessoa em consultas, escola e outras atividades externas; 80% a alimentam; 73% realizam a higiene pessoal; 70% a auxiliam a se vestir; 58% levam ao banheiro e 48% ajudam a pessoa a se locomover.
A pesquisa mostrou que 60% dos cuidadores e cuidadoras não possuem uma boa noite de sono (sono de qualidade); 68% não realizam atividades de lazer; 74% não realizam qualquer tipo de atividade física; 63% sentem que não têm disposição para concluir as atividades diárias; 82% sentem não ter energia para concluir as atividades que precisam fazer no dia a dia e 79% sentem algum tipo de dor física. Para Daher, o estudo mostrou que “o foco principal é a construção de políticas públicas que venham a beneficiar não só cuidadores, como também toda a família, como apoio financeiro e reconhecimento”.
Dentre os entrevistados, 47% têm renda familiar de até dois salários mínimos, 42% têm ensino superior completo, 62% não têm emprego formal e 46% pediram demissão para cuidar da pessoa. Das mães que cuidam, a maioria fica à mercê da ajuda masculina: 78% afirmam receber ajuda financeira do pai da pessoa, 72% vivem com o pai da pessoa e 64% das mães afirmam receber apoio emocional do pai da pessoa. No entanto, quase 80% das crianças com algum tipo de doença rara no Brasil sofrem abandono afetivo paterno, segundo informações do Instituto Vidas Raras.
Apesar da Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras (Portaria 199, de 30 de janeiro de 2014, do Ministério da Saúde), a única garantia financeira é o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que prevê um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção, nem de tê-la provida por sua família. Mas ninguém cuida de quem cuida: famílias e cuidadores da pessoa com doença rara não possuem amparo do Estado, considerando que, das cuidadoras, apenas 30% recebem algum benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Tem direito ao BPC a pessoa com deficiência brasileira, nativa ou naturalizada, ou portuguesa com residência fixa comprovada no Brasil. A renda per capita familiar não deve ultrapassar um quarto do salário mínimo vigente.
Segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de 7 mil doenças raras – são consideradas raras doenças que afetam até 65 pessoas em cada 100 mil indivíduos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são 13 milhões de pessoas com doenças raras, sendo 75% crianças. Uma maneira de descobrir até 53 das doenças raras ao nascer é o teste do pezinho, realizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde.
* Conteúdo produzido com informações da Agência Brasil, INSS e Ministério da Saúde. A pesquisa foi solicitada pela Casa Hunter, instituição sem fins lucrativos voltada aos direitos e ao bem-estar de pessoas com doenças raras.
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