Passando por Congo, Angola, Moçambique e África do Sul, livro mostra a diversidade cultural africana por meio do brincar
A garotinha Weza é sua guia e a única regra desta jornada é se divertir! Em “As brincadeiras africanas de Weza”, conhecemos brincadeiras que vão do norte ao sul da África, aproximando a multiplicidade cultural africana de crianças e adultos.
Você sabia que existem evidências do brincar na África há mais de 5 mil anos? Bolinhas de gude e pedra, papel e tesoura são algumas das possibilidades de brincadeiras feitas em Kemet, primeira civilização do Egito antigo. Senet, o mais antigo jogo de tabuleiro, foi retratado em um afresco encontrado na tumba de Merknera (3300 – 2700 a.C.). Já em “As brincadeiras africanas de Weza”, passado e presente se mesclam com brincadeiras de diversos locais do continente.
Trazendo o brincar em África para mais perto do Brasil, o livro aproxima as infâncias africanas por meio da locução de Weza, uma garotinha brasileira apaixonada pelo continente africano. Fruto do projeto “Ludicidade e africanidade”, o livro foi feito pelo Coletivo Luderê Afro Lúdico e por Sheila Perina, doutoranda na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Durante sua pesquisa de mestrado, ela visitou Angola e Moçambique, e pôde presenciar o brincar “ao vivo”, o que contribuiu para criar o cenário das histórias. Em Luanda, capital de Angola, as crianças brincavam de garrafinha, por exemplo, uma das brincadeiras contadas por Weza no livro.
“Busquei fugir dos estereótipos que circulam sobre a África que contribuem muito para que o continente africano não seja humanizado”
“As brincadeiras africanas de Weza”, Sheila Perina de Souza, Coletivo Luderê Afro Lúdico e Whitney Machado (Kitembo) Em uma narrativa que mescla descrições de brincadeiras e acontecimentos vivenciados por Weza, uma inteligente garotinha viajante, somos convidados a conhecer brincadeiras do Congo, Angola, Moçambique e África do Sul. Em seu caderno afrolúdico, Weza registra suas experiências no continente africano e compartilha com o mundo seus aprendizados do brincar por lá. Em cada um dos cinco capítulos, há um pouco do país visitado e das vivências de Weza em cada um deles.
Na língua kimbundo, falada em Angola, “Weza” significa “aquela que veio, que voltou”. Ao longo do livro, Weza também nos ensina várias palavras oriundas do continente africano, como “capulana” (nome dado aos tecidos africanos em Moçambique), “nenecando” (“trazer o bebê nas costas” em Moçambique) ou “fixe” (“algo muito legal” no português angolano).
Para Sheila, trazer palavras africanas para mais perto do leitor é uma maneira de “desconstruir a imagem de que em África se fala dialetos, que é uma forma colonialista de se referir pejorativamente às línguas faladas no continente africano”. Weza, no início da narrativa, informa também que são faladas mais de duas mil línguas na África, já mostrando a diversidade linguística africana e atiçando a curiosidade das crianças.
Um caderno afrolúdico para chamar de seu
Uma das características do livro que mais chamam a atenção é o fato de Weza carregar um caderno de anotações para todos os lados. Batizado de “caderno afrolúdico”, é nele que Weza registra as experiências vividas em África, sejam os costumes dos países visitados ou brincadeiras que as crianças fazem por lá. Para Sheila, a ideia do caderno surgiu para aproximar as crianças da escrita, tornando o exercício de registrar algo prazeroso e com significado, e não “tarefeiro”. A iniciativa, inclusive, virou atividade em uma escola em São Paulo, onde os alunos puderam se inspirar nos registros de Weza para narrarem suas experiências de maneira autônoma e afetuosa.
Ao trazer África para mais perto do leitor, Sheila comenta que “oportuniza que as brincadeiras sejam tematizadas dentro de um contexto histórico e cultural”, rendendo diversas possibilidades pedagógicas de abordar o livro em casa ou em sala de aula. Além disso, é uma oportunidade das crianças terem contato com narrativas negras que vão além do senso comum. Weza é uma criança viajante, filha de duas mães, cheia de histórias para contar, vivendo uma infância plena, inspiradora e rica culturalmente.
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