O que acontece quando crianças cegas experimentam a natureza?

O projeto "Brincando no Bosque" defende a importância da interação natural no desenvolvimento da criança

Da redação Publicado em 10.10.2016
Mãos de criança segurando um punhado de terra e folhas.

Resumo

Com o intuito de levar crianças cegas para experimentar o contato com a natureza, o projeto "Brincando no Bosque" levanta a importância de educar sobre o tema.

A natureza propicia desenvolvimento motor e cognitivo, estimula criatividade, independência, socialização, entre outras coisas. Se todos esses elementos acontecem durante a relação de qualquer pessoa com a natureza, imagine a potência de proporcionar tudo isso a uma criança que não pode enxergar.

“As crianças cegas lidam com barreiras o tempo todo. Então, elas podem experimentar a liberdade de correr livremente, por exemplo”, afirmou Isabela Abreu em entrevista ao portal Criança e Natureza. Isabela é idealizadora do projeto “Brincando no Bosque“, em um passeio semanal de mães e filhos no parque Alfredo Volpi, em São Paulo.

O projeto organiza viagens a sítios e já conta com seu primeiro acampamento na natureza, em parceria com a Outward Bound. Agora, Isabela quer incluir crianças cegas no grupo, assim como crianças com outras deficiências – o problema é que ainda sente uma certa resistência dos pais. Daí a importância de educar sobre o valor da interação natural.

Por que os pais resistem à ideia?

“Quando comecei o projeto, mandei um email para nove mães de crianças cegas e não tive nenhuma resposta. Mesmo com toda experiência que tenho com deficientes visuais, talvez não tenha conseguido convencer os pais dos benefícios que a experiência na natureza pode trazer à criança – algo que valha apena a energia, o deslocamento, a disponibilidade, o tempo investidos. Por isso, precisamos encontrar um espaço que seja fácil para os pais chegarem, este é o grande entrave. No passeio, para nós, a cegueira não oferece dificuldade nenhuma. A pessoa cega não precisa de rampa de acesso, como deficientes físicos, ela pode subir e descer escada, pode entrar em qualquer banheiro, enfim, ela faz qualquer coisa. Só requer um acompanhante.”

A fala de Isabela faz pensar sobre a importância da presença ativa doa pais no desenvolvimento das crianças. Quando um pai ou mãe diz, por exemplo, que quer muito ‘mandar’ o filho para participar dos passeios, ela faz questão de corrigi-los: ‘mandar, não, você vem junto’. Segundo ela, o papel do adulto nesse caso é, mais do que interferir na experiência pessoal dos pequenos, é proporcionar a segurança que eles precisam para se sentirem confortáveis com a atividade.

Isabela  fundou, em 2001, a ONG Grupo Terra, e organizava atividades para pessoas com deficiência em meio à natureza, em trilhas e montanhas. “Nunca tinha pensado em deficientes visuais – afinal, onde houvesse natureza, era preciso olhos para enxergá-la”. Porém, Isabela se enganou. “A natureza possibilita o contato com diferentes elementos, cheiros, texturas, sons. Pisar na grama, pular e correr estimula os sentidos e traz uma interação com um ambiente que ela vive pouco”. Leia a entrevista completa sobre o projeto no site do projeto “Criança e Natureza”, do Instituto Alana.

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Divulgação/Brincando no Bosque

A gente não precisa muito ensinar as crianças, isso acaba acontecendo naturalmente, defende Isabela, criadora do projeto “Brincando no Bosque”

Natureza como terapia: conheça o caso do pequeno Lorenzo

Lorenzo tem cinco anos; quando tinha três, foi diagnosticado com atraso de desenvolvimento na linguagem.  Depois do tratamento com uma fonoaudióloga e vários tipos de terapias, surgiu a ideia de estimular ao pequeno mais interação com outras crianças – e ao ar livre -, participando do “Brincando no Bosque”.

“No início, quando ainda havia educadores nos acompanhando, Lorenzo interagia pouco ou quase nada. Tinha dificuldades de concentração, não brincava com os outros, não participava das atividades. Era tímido, não falava. Com o tempo, e principalmente sem a presença dos educadores, percebi que ele foi se soltando”, conta Marcia Fujimoto, mãe do menino.

Entre os pediatras, é unanimidade o beneficio trazido pelas interações com a natureza. O pesquisador e ativista Richard Louv, o defende como um “direito natural”. “As experiências no mundo natural oferecem grandes benefícios para a saúde psicológica e física, e para a capacidade de aprender de crianças e adultos”. Leia a entrevista que o Lunetas publicou com Richard Louv.

Como fazer para participar do Brincando no Bosque?

O responsável pela criança deve entrar em contato com a Isabela pelo e-mail isa.isabela@terra.com.br, ou pela página do “Brincando no Bosque” no Facebook. O passeio é gratuito, só é preciso levar um lanche para compartilhar. E um ‘detalhe’ é fundamental: pais, mães e responsáveis devem ter disponibilidade para participar também.

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