Infâncias plurais: vídeos sobre crianças como protagonistas

Publicado em: 10.09.2021
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Crianças como protagonistas

Personagens centrais dos curtas-metragens a seguir, as crianças exercem papel fundamental para a construção da narrativa. É com elas ou a partir delas que as histórias se desenvolvem.

Abaixo você encontrará uma coletânea com 7 vídeos sobre a temática para ver quantas vezes quiser. Divirta-se. Para mais informações sobre o projeto Infâncias Plurais, visite: www.lunetas.com.br/infâncias-plurais.

Ana e a feira

Caio Túlio Duque - Caruaru/PE

Ana trabalha com a tia na Feira de Caruaru, vendendo calcinhas. Mas ela gosta mesmo é das cores, das pessoas e dos cheiros. Na verdade, ela quer ser doutora de bichinhos e tem muitas emergências para atender. Caio Tulio Duque, criador de Ana e a feira, explica que a ideia foi chamar a atenção para a pauta do trabalho infantil: “Aqui no Agreste pernambucano tem intensa exploração da mão de obra infantil na indústria têxtil e no comércio nas grandes feiras, como a de Caruaru, a de Toritama e a de Santa Cruz do Capibaribe”.

Desde 2015, Caio dirige um coletivo de artistas na cidade, a Cia. Bacurau Cultural, que produz conteúdo voltado à infância: “Refletir sobre os malefícios do trabalho infantil para as crianças é urgente”. Apesar do tema, o curta-metragem foi realizado com muita leveza e humor. Para ele, o brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil, sendo o momento em que “surgem as experiências, a comunicação evolui, os pensamentos se tornam mais complexos e os sonhos se realizam. A infância deve ser protegida para florescer”, enfatiza.

Gravado em meio à pandemia, Ana e a feira  enfrentou o desafio de seguir os protocolos de segurança. “O fato de contar com uma atriz mirim na produção foi um complicador. Tenho experiência em trabalhar com crianças e acho que isso facilitou, mas o momento não é dos melhores”, acrescenta. Feliz com o resultado, Caio diz ter sido muito enriquecedor participar do Infâncias plurais.

https://bit.ly/infancias-plurais-criancas-como-protagonista-ana-e-a-feira

Chegadas, encontros e partidas da infância!

Joice de Jesus Malta Ribeiro - Ilha de Vera Cruz/BA

O que será que pode acontecer quando crianças têm seus direitos de fala respeitados em vez de obedecer a tudo sem questionar? Chegadas, encontros e partidas da infância!, de Joice de Jesus Malta Ribeiro, revela que, quando se trata de respeito, não existe idade certa. Ela registrou questionamentos e afirmações de seus três filhos, Cauane, Isaque e Pedro Gabriel: “O dia a dia no primeiro ano de pandemia trouxe à tona temas importantes que quase não se pergunta às crianças, embora elas tenham muito a nos ensinar”.

A ideia do vídeo surgiu ao observar o crescimento de seus filhos e de outras crianças. Joice começou a perceber os conflitos e os prazeres gerados com as novas descobertas, o encontro entre as fases da infância e da adolescência e como esse percurso se dá. E assim ela foi registrando as trocas e os aprendizados de cada um dos filhos. “Passava o dia com a câmera na mão e as coisas iam acontecendo.”

A participante do Infâncias plurais chama a atenção para a importância de se ter um olhar atencioso para as necessidades básicas e individuais das crianças. “Uma infância respeitada, em todas as suas fases, é crucial na formação de uma sociedade sã. E retratar isso no vídeo de forma genuína, com falas próprias e situações do cotidiano de toda família, é fomentar a autonomia das crianças, o que não as torna ‘sem limites’ ou ‘impossíveis’, como muito se prega, mas lhes dá confiança para ser quem são.”

 

https://bit.ly/infancias-plurais-criancas-como-protagonista-chegadas-encontros-e-partidas

Escuta-me

Christiane Teixeira Sampaio - Salvador/BA

Uma menina que deseja ser escritora inventa um galo para ter com quem conversar. Depois de inventado, o galo decide lutar por suas ideias. Inspirado no livro A bolsa amarela, de Lygia Bojunga, Escuta-me traz um trecho documental, com imagens do II encontro nacional de meninos e meninas de rua, realizado em Brasília, em 1989 – momento de intensa mobilização social pela aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

“A escritora, o galo e a criança que reivindica seus direitos e questiona a exploração da sua força de trabalho me lembram que o desejo de cada um de nós pode ser transformador. Numa sociedade patriarcal, autoritária e colonialista, há muitas desconstruções que precisamos fazer para que nossas relações com as crianças sejam mais democráticas e menos violentas”, ressalta Christiane Teixeira Sampaio, autora do vídeo.

Ela conta que a produção resgata um momento de alegria e utopia na vida pública brasileira, quando o ECA reconhece a criança como sujeito. Revela que escolheu falar de infâncias e política porque a compreensão a-histórica e moralista que está novamente em curso no campo das políticas públicas retira da criança a sua condição de cidadã.

Feito a muitas mãos, Escuta-me contou com a participação dos vizinhos do bairro onde Christiane vive, Acupe de Brotas, em Salvador (BA). Junto com o filho Akin, a comunicadora encontrou o galinheiro que buscava nos arredores de casa e a vizinhança acabou se mobilizando para a criação do vídeo. Segundo ela, o mapeamento acabou sendo uma desculpa para estabelecer conexão com as pessoas num momento em que todos estavam isolados em casa. “Tudo foi feito com muito cuidado e respeito, seguindo todos os protocolos de segurança.”

Quando questionada sobre sua relação com a infância, Christiane enfatiza: “O que me trouxe até aqui foi a criança que mora em mim e suas inquietações”. Mãe de dois meninos, ela relembra também como inspiração a trajetória da mãe, Maria Eneide Teixeira, pedagoga que atuou como liderança nacional do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e fundou o Circo de Todo Mundo (www.circodetodomundo.org.br), organização que defende o direito ao brincar. “Interessa-me identificar entre crianças e adolescentes um fazer orientado pela mudança: práticas autônomas, geradoras e promotoras de descobertas e buscas. As autonomias nascem das lutas concretas de povos, comunidades, coletivos e subjetividades em suas formas de viver e habitar o mundo.”

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Experiências radiofônicas - colheita de vozes: onde vivem os sons dos nossos sonhos?

Juliana Rosa de Sousa - São Paulo/SP

Processo criativo, aberto, experimental e vivo, Experiências radiofônicas – colheita de vozes: onde vivem os sons dos nossos sonhos? reúne áudios de crianças e adolescentes contando quais são seus sonhos. Além das falas, muitos outros sons compõem o repertório agrupado por Juliana Rosa de Sousa, responsável pela produção. “As nossas crianças estão conseguindo sonhar? Se sim, com o quê? Há espaço para escuta nas infâncias?”

A artista e educadora conta que todo o processo de convite e contato com as famílias participantes foi feito via WhatsApp.Depois das gravações de áudio com as respostas e as considerações das crianças, foi a vez de inserir as imagens, que são da própria família da Juliana – sua mãe grávida, seu irmão e ela mesma quando criança. Há uma intrínseca relação com a busca da autora por uma voz própria.

O curta-metragem teve como ponto de partida um trabalho realizado em 2020 em parceria com educadoras do Programa de Iniciação Artística da Cidade de São Paulo (Piá). Elas criaram uma rádio chamada Hipopótamo Rinoceronte. “De encontros semanais e na construção de relações em plena pandemia com as crianças e as famílias, nasciam nossas primeiras experiências radiofônicas. Foi quando surgiu a possibilidade de fazer a jornada Infâncias plurais.” 

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O que você quer ser

Liana Yuri Shimabukuro - São Paulo/SP

Nem cisne, nem patinho. Qual a melhor imagem para me representar? O que você quer ser conta a história de um adolescente que, não muito contente com a sua própria identidade, procura outra em seu celular. O vídeo propõe uma profunda reflexão sobre identidade e sobre como as mídias sociais têm impactado o seu desenvolvimento.

O objetivo de Liana Yuri Shimabukuro foi criar um vídeo que pudesse dialogar com quem está entrando na adolescência sobre o tema da aceitação e da identidade. “Procurei criar uma ponte me lembrando de quando passei por isso e tentando compreender como as crianças de hoje lidam com o mesmo sentimento, principalmente porque agora têm acesso às redes sociais.” Serviram de material de pesquisa para o vídeo histórias como O patinho feio e Alice através do espelho.

E desafios não faltaram para a sua elaboração. Liana utilizou a técnica do stop-motion, que consiste em criar uma simulação de movimento por meio de uma sequência de imagens fixas. “Achei muito interessante visualmente misturar algo bem artesanal com um tema tecnológico.” Foi a primeira vez que ela utilizou a técnica, sem ter espaço ou equipamento: “tudo foi feito pelo celular, em uma pequena mesa na qual montei uma plataforma de vidro com um quadro velho que encontrei na rua. Prendi o celular nas alturas para que tivesse um bom ponto de vista”.

Sobre a participação na jornada Infâncias plurais, além de ter sido precioso ver pessoas do Brasil inteiro reunidas para falar de questões tão importantes, Liana revela que sua principal motivação foi tentar compreender melhor a produção cultural para crianças em tempos de pandemia: “Não estava confortável em ver crianças tão mergulhadas em telas. Quais seriam, então, as possibilidades?”. 

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Odara

Elisa Bastos Araujo - Salvador/BA

Odara é uma menina alegre, espontânea e que gosta de afirmar sua identidade negra nas redes sociais. O vídeo que leva o nome da garota propõe uma reflexão sobre como as infâncias contemporâneas se relacionam com o audiovisual, sobretudo no ambiente digital. “A inspiração veio da observação das postagens da própria Odara, que usa esse espaço para reafirmar a sua identidade negra, mesmo que sem perceber totalmente. Gosto de pensar que a expressão dessas crianças no espaço das redes sociais é um importante fator de construção de identidades e de infâncias”, revela Elisa Bastos Araujo, criadora do vídeo.  

Odara foi feito a partir de uma coletânea de vídeos publicados por Odara em suas redes sociais, com autorização da mãe, responsável pela gravação e pela publicação. De acordo com Elisa, o principal desafio foi fazer com que a garota mantivesse a espontaneidade durante o seu depoimento inicial, único momento gravado especificamente para o filme.

O curta-metragem mostra que as crianças podem falar por si mesmas, mesmo sob influência ou direcionamento dos pais. “Mostra que a liberdade de ser quem se é transborda e que as redes sociais podem conferir visibilidade a essas crianças, sem a necessidade de atribuição exclusivamente negativa ao uso das tecnologias digitais por elas”, pondera Elisa, que enfatiza ainda a importância de se ouvir as crianças e suas próprias criações durante a infância, momento de construção de subjetividades e identidades.

O tema da infância entrou em sua vida com o nascimento de seus filhos, quando resolveu conciliar a pesquisa de doutorado com o papel de mãe: “Passei a estudar a infância e me apaixonei pelo tema! A maternidade não é definidora de quem eu sou, mas me oportuniza chegar a um lugar além no meu processo de estudo, pois me oferece um lugar analítico privilegiado”.

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Pequenos pensantes

Fernando Cestonari Galeane e Rodrigo César Vulcano dos Santos - Araraquara/SP

Ler é preciso, é urgente e divertido! Em Pequenos pensantes, o garoto Gabriel Galeane lê trechos de livros e de músicas de forma lúdica. Entre as leituras estão autores como Machado de Assis, José Saramago, Emicida e Gabriel, o Pensador. Fernando Cestonari Galeane, que produziu o curta-metragem ao lado de Rodrigo César Vulcano dos Santos, revela que se trata de uma provocação para que educadores e pais repensem a forma como o mundo literário é apresentado para os pequenos. “Ler é muito prazeroso e ler o que está embutido nas músicas é ainda mais bacana e divertido.”

O vídeo foi gravado no estúdio de Fernando e contou com a participação de seu filho como protagonista. A maior dificuldade foi introduzir, de maneira lúdica e em apenas 1 minuto, o mundo da literatura e a poesia que existe em algumas músicas, conta.

Os autores possuem um projeto de produção de conteúdo infantil chamado Dois Palitos, em que realizam vídeos com histórias em animação. Depois de participarem do Infâncias plurais, a dupla revela o desejo de continuar com o projeto de Pequenos pensantes: “o produto criado exclusivamente para essa jornada agora faz parte do nosso radar e temos a intenção de transformar em uma série, trazendo outras provocações e tudo mais que conseguirmos agregar!”.

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