Os desafios não são individuais, por isso o apoio de pais, familiares e profissionais de saúde às lactantes é fundamental para a garantia da produção de leite
A amamentação não precisa ser um processo solitário entre mãe e filho. Pais, familiares, amigos e toda a rede de apoio podem ajudar no processo de aleitamento materno e garantir o prolongamento dessa prática.
Há cinco meses, quando Serena nasceu, Thais Borges e Renato Chin começaram a adaptar suas rotinas para a jornada de amamentação. Acompanhados desde o início da gestação por uma equipe especializada em parto humanizado, eles sabiam que o aleitamento materno não seria um processo natural e que essa ideia precisava ser desromantizada.
“Amamentação não é um desafio individual, é partilha”, defende a mãe.
Além das mudanças hormonais e dos aprendizados sobre o colostro, a pega ou possíveis complicações, como rachaduras no bico do seio, ainda é preciso garantir um ambiente confortável e seguro para amamentar. Como a demanda sobre as lactantes é grande, esse período passa a ser uma boa oportunidade para a rede de apoio entrar em ação. “Acompanhei o processo da Thais, participei com ela de todos os cursos voltados para amamentação e puerpério para buscar mais informações”, conta Renato.
Hoje, os dois dividem igualmente as tarefas de cuidado com o bebê. Após a mamada, Renato assume os cuidados, o que garante tempo disponível para Thaís dormir, fazer as refeições, higiene ou lazer. Além disso, o pai também fica responsável pelos gatos, cachorros, louça e parte da limpeza da casa. “Como Serena é alérgica à proteína do leite de vaca, Renato está me apoiando e fazendo dieta comigo. Seria muito frustrante se ele comesse chocolate ou pizza na minha frente”, brinca Thais.
Não há dúvidas sobre os benefícios do leite materno. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno por dois anos ou mais, sendo exclusivo nos seis primeiros meses. Os esforços coletivos para o incentivo dessa oferta ao bebê levam países do mundo inteiro a comemorar, anualmente, a Semana do Aleitamento Materno, entre os dias 1 e 7 de agosto. Em 2020, a campanha discute o impacto da alimentação infantil no meio ambiente e na mudança climática, alinhando os vínculos da amamentação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
A enfermeira responsável pelo Banco de Leite Materno do Hospital Universitário de Maringá (HUM), no Paraná, Christyna Beatriz Tavares, explica que a oferta de leite materno depende do apoio às mulheres. Segundo ela, a rede pode envolver profissionais de saúde, como os pediatras e consultores especializados em amamentação, os grupos de mães e a própria família.
“Esse é um período de produção de ocitocina e prolactina, hormônios que controlam a fisiologia do aleitamento materno. Eles vêm da mesma região do cérebro em que é liberado o estresse, ou seja, se a lactante se sente insegura, desmerecida ou pressionada, isso impacta diretamente na produção de leite”, atenta.
Mesmo as mães sendo protagonistas, atitudes tomadas pela rede de apoio exercem um papel fundamental para estabelecer a amamentação e garantir o prolongamento dessa prática. Christyna Beatriz Tavares apresenta alguns caminhos de como pais, familiares, amigos e profissionais de saúde podem auxiliar as lactantes.
Doação de leite
Como a produção durante os primeiros meses é maior do que a demanda do bebê, as mulheres têm opção de se tornarem doadoras de leite, ou seja, da sobra da mamada. Essa foi uma escolha de Thais Borges após o nascimento da filha. “A ordenha diária é uma rotina natural que gera alívio. Quando vi que teria excedente, entrei em contato com o banco de leite mais próximo”, relata. Nesse caso, a busca de informações, apoio, higienização de materiais e ajuda na extração pode ser mais um papel assumido pela rede de apoio.
Semana Mundial do Aleitamento Materno
De acordo com a Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (WABA), o estímulo ao aleitamento humano atende aos ODS ao promover saúde e bem-estar, menor poluição do ar e das águas, conciliando o consumo responsável pela redução do uso de mamadeiras e bicos de plástico, diminuindo a exploração animal e o desmatamento provocados pela produção leiteira.
Apesar da importância, muitas atitudes desencorajam o aleitamento materno exclusivo, entre elas a falta de ações do Estado e de empresas para a redução da iniquidade de gênero, que acabam sobrecarregando as mulheres e pressionando para que retornem antes dos seis meses de licença maternidade recomendados pela OMS.
De acordo com a WABA, esse cenário é um dos fatores que limitam o tempo voltado ao autocuidado e fazem com que as lactantes interrompam a produção de leite de forma precoce, devido ao esgotamento. O impacto é ainda maior para mulheres que atuam na informalidade ou que exercem a maternidade solo, acumulando mais jornadas de trabalho.