Qual o papel da rede de apoio no aleitamento materno?

Os desafios não são individuais, por isso o apoio de pais, familiares e profissionais de saúde às lactantes é fundamental para a garantia da produção de leite

Camilla Hoshino Publicado em 07.08.2020
Imagem de um família branca: mãe de cabelos pretos e lisos segura o bebê no colo, e o pai está ao lado
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Resumo

A amamentação não precisa ser um processo solitário entre mãe e filho. Pais, familiares, amigos e toda a rede de apoio podem ajudar no processo de aleitamento materno e garantir o prolongamento dessa prática.

Há cinco meses, quando Serena nasceu, Thais Borges e Renato Chin começaram a adaptar suas rotinas para a jornada de amamentação. Acompanhados desde o início da gestação por uma equipe especializada em parto humanizado, eles sabiam que o aleitamento materno não seria um processo natural e que essa ideia precisava ser desromantizada. 

“Amamentação não é um desafio individual, é partilha”, defende a mãe.

Além das mudanças hormonais e dos aprendizados sobre o colostro, a pega ou possíveis complicações, como rachaduras no bico do seio, ainda é preciso garantir um ambiente confortável e seguro para amamentar. Como a demanda sobre as lactantes é grande, esse período passa a ser uma boa oportunidade para a rede de apoio entrar em ação. “Acompanhei o processo da Thais, participei com ela de todos os cursos voltados para amamentação e puerpério para buscar mais informações”, conta Renato. 

Hoje, os dois dividem igualmente as tarefas de cuidado com o bebê. Após a mamada, Renato assume os cuidados, o que garante tempo disponível para Thaís dormir, fazer as refeições, higiene ou lazer. Além disso, o pai também fica responsável pelos gatos, cachorros, louça e parte da limpeza da casa. “Como Serena é alérgica à proteína do leite de vaca, Renato está me apoiando e fazendo dieta comigo. Seria muito frustrante se ele comesse chocolate ou pizza na minha frente”, brinca Thais.

Aleitamento materno depende de apoio

Não há dúvidas sobre os benefícios do leite materno. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno por dois anos ou mais, sendo exclusivo nos seis primeiros meses. Os esforços coletivos para o incentivo dessa oferta ao bebê levam países do mundo inteiro a comemorar, anualmente, a Semana do Aleitamento Materno, entre os dias 1 e 7 de agosto. Em 2020, a campanha discute o impacto da alimentação infantil no meio ambiente e na mudança climática, alinhando os vínculos da amamentação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. 

Semana Mundial do Aleitamento Materno
De acordo com a Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (WABA), o estímulo ao aleitamento humano atende aos ODS ao promover saúde e bem-estar, menor poluição do ar e das águas, conciliando o consumo responsável pela redução do uso de mamadeiras e bicos de plástico, diminuindo a exploração animal e o desmatamento provocados pela produção leiteira. 

Apesar da importância, muitas atitudes desencorajam o aleitamento materno exclusivo, entre elas a falta de ações do Estado e de empresas para a redução da iniquidade de gênero, que acabam sobrecarregando as mulheres e pressionando para que retornem antes dos seis meses de licença maternidade recomendados pela OMS. 

De acordo com a WABA, esse cenário é um dos fatores que limitam o tempo voltado ao autocuidado e fazem com que as lactantes interrompam a produção de leite de forma precoce, devido ao esgotamento. O impacto é ainda maior para mulheres que atuam na informalidade ou que exercem a maternidade solo, acumulando mais jornadas de trabalho.

A enfermeira responsável pelo Banco de Leite Materno do Hospital Universitário de Maringá (HUM), no Paraná, Christyna Beatriz Tavares, explica que a oferta de leite materno depende do apoio às mulheres. Segundo ela, a rede pode envolver profissionais de saúde, como os pediatras e consultores especializados em amamentação, os grupos de mães e a própria família. 

“Esse é um período de produção de ocitocina e prolactina, hormônios que controlam a fisiologia do aleitamento materno. Eles vêm da mesma região do cérebro em que é liberado o estresse, ou seja, se a lactante se sente insegura, desmerecida ou pressionada, isso impacta diretamente na produção de leite”, atenta. 

Como a rede de apoio pode contribuir?

Mesmo as mães sendo protagonistas, atitudes tomadas pela rede de apoio exercem um papel fundamental para estabelecer a amamentação e garantir o prolongamento dessa prática. Christyna Beatriz Tavares apresenta alguns caminhos de como pais, familiares, amigos e profissionais de saúde podem auxiliar as lactantes. 

  • Buscar informações é importante. Amamentar requer tempo e adaptação, por isso, estar preparado para esse período pode ajudar a evitar surpresas e se tornar um ponto de suporte para a mãe. O pai ou a rede de apoio podem também buscar informações sobre como funciona a pega, possíveis dores e desconfortos, empedramento e qual papel assumir para ajudar a mãe. O leite humano pode ser extraído manualmente e, em muitos casos, ser ofertado por outra pessoa em copinhos e armazenado em vidros recicláveis. 
  • A potência do elogio e do apoio emocional. Frases como “você não está fazendo a pega correta” ou “não é assim que se posiciona o bebê” podem desestimular a mãe e trazer um peso ainda maior ao processo de amamentação. O cuidado e o aprendizado precisam de afeto e empatia. Elogios são sempre bem-vindos. 
  • Tente não julgar. As experiências da família e de amigos podem variar quando se trata do cuidado com os filhos. Nesse caso, é importante não julgar ou ter uma postura de vigilância com a lactante, mas deixá-la buscar apoio profissional especializado e ter liberdade para tomar decisões de acordo com as necessidades do bebê.  
  • Um profissional especializado ajuda no acolhimento da mãe. A pressão pelo uso de fórmulas industrializadas quando não necessárias ainda é grande. Por isso, é interessante ajudar a mãe a buscar profissionais de saúde especializados ou consultores em aleitamento materno, incentivando a troca de opiniões e contato entre os profissionais, em caso de opiniões divergentes.
  • Dividir os cuidados com o bebê é essencial. A crença de que pais são apenas espectadores está mudando. É importante que o cuidado seja dividido para que ninguém fique sobrecarregado. Se a mãe amamentou, o pai pode assumir a parte da digestão, higiene, troca de roupas ou dormida. Todas as ações culturalmente assumidas pela mãe podem ser exercidas pelo pai ou pela rede de apoio. 
  • Que tal assumir as demandas da casa? Isso vale para qualquer amigo ou familiar. Fazer um chá, preparar a comida ou ajudar na limpeza são ações importantes para evitar ainda mais trabalho para as mulheres, deixando que a casa se torne um ambiente de conforto e segurança. 
  • A mãe também precisa ser priorizada. Quando o bebê nasce, as atenções se voltam a ele. A mãe pode se sentir deixada de lado ou vazia. É importante estar ao lado dela, garantir água fresca durante as mamadas, perguntar se ela está bem e demonstrar carinho. Isso também faz com que ela sinta o prazer da companhia.

Doação de leite
Como a produção durante os primeiros meses é maior do que a demanda do bebê, as mulheres têm opção de se tornarem doadoras de leite, ou seja, da sobra da mamada. Essa foi uma escolha de Thais Borges após o nascimento da filha. “A ordenha diária é uma rotina natural que gera alívio. Quando vi que teria excedente, entrei em contato com o banco de leite mais próximo”, relata. Nesse caso, a busca de informações, apoio, higienização de materiais e ajuda na extração pode ser mais um papel assumido pela rede de apoio.

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