Para a mãe feminista Cila Santos, muitos homens percebem a paternidade como algo "facultativo" devido ao ideal de masculinidade socialmente construído
"Que parte da educação de um menino o orienta sobre a importância da família? Do cuidado?". Um relato sincero sobre como a negligência paterna é construída.
Cila Santos é mãe, feminista e escreve para o site Militância Materna. Para discutir a negligência paterna, que ela chama de “paternidade de ocasião” ela escreveu um texto em que reflete sobre a construção social dessa tal ‘paternidade facultativa.
Para ela, a naturalização do abandono paterna começa na educação desigual que recebemos desde cedo, que impute somente sobre as meninas noções de cuidado e responsabilidade.
“Mulheres aprendem que a maternidade é um destino, uma função que devem cumprir para serem completas. Desde o seu nascimento recebem todo um treinamento que a encaminham para a culminância da sua vida que, segundo lhe dizem, acontece quando ela engravida e se torna mãe. Homens, por outro lado, aprendem muito claramente que paternidade é uma atividade facultativa, que podem ou não exercer sem muitos constrangimentos sociais”, defende.
No texto, ela comenta sobre os impactos dos referenciais de papéis de gênero que oferecemos às crianças. Segundo Cila, a sociedade tem a tendência de criar os meninos para perceber as mulheres como recompensas.
“O menino nasce e desde já tudo a sua volta gira em torno dos prodígios que ele deverá alcançar e recompensas sexuais que ele eventualmente ganhará por conta disso (“esse vai ser jogador de futebol e pegar um monte de mulher”).
Desde criança ele começa a aprender que “sucesso” é ter dinheiro e ter mulheres (“e as namoradinhaS?”). Ele recebe de presente: carros, bolas, bonecos de guerreiros, soldados, super-heróis. E fantasia matar inimigos e salvar o dia”, explica.
Enquanto isso, ela afirma, muitas meninas ainda recebem uma educação voltada para a vida doméstica. “Quantas famílias incentivam suas meninas a brincar de desbravar o mundo, lutar contra inimigos invisíveis e ter pretensões de salvar o planeta?”, provoca.
“Que parte da educação de um menino o orienta sobre a importância da família? Do cuidado? De se respeitar mulheres? De valorizar o amor não-sexual? Um relacionamento? A família? Que parte da educação de um menino orienta sobre sua responsabilidade com seus futuros filhos?”
O texto reforça a importância de oferecer a meninos e meninas uma educação pautada na igualdade entre os gêneros, de modo que eles cresçam conscientes de que todas as responsabilidades de uma família devem divididas. Para ela, é essa falha que começa na infância que pode acabar naturalizando o abandono paterno no futuro, afinal, meninos foram ‘treinados’ para não assumir tarefas.
“Nenhum homem é constrangido por não registrar seus filhos, por não contribuir para o seu sustento, por abandoná-los emocionalmente. A função que é esperada de um homem na sociedade não é a paternidade. É o papel de macho-alfa conquistador. É isso sim que lhes é cobrado todo dia, incessantemente”.
Por outro, ela pontua no texto a dificuldade de romper com esse ideal de masculinidade socialmente construído, que é nociva para as mulheres e também para os homens, que muitas vezes são induzidos a silenciar suas emoções.
“O principal desafio da paternidade hoje é um desafio anterior que é o de romper com o padrão de masculinidade tóxica a que todo homem é submetido.
Começa por ter coragem de rasgar a cômoda cartilha do papel social que diz quais as funções deveriam ser do homem ou da mulher. As regras dessa cartilha, implicita e explicitamente exigem que o homem explore o trabalho de uma mulher”.
Clique aqui para ler a publicação na íntegra.
Comunicar erro