Para Priscila Cruz, fundadora do movimento Todos Pela Educação, "educar uma criança não é tarefa exclusiva da escola". Leia a entrevista com ela
Conversamos com Priscila Cruz, do movimento Todos pela Educação, sobre educação pública. Para ela, o abismo social entre as crianças mais e menos favorecidas em termos de acesso à educação, se abre muito cedo.
Acesso à educação infantil pública e de qualidade é um dos direitos universais da criança. Infelizmente, no Brasil e no mundo, ainda há muito o que avançar para que o direito seja assegurado. O Plano Nacional de Educação traz como uma de suas 20 metas a universalização, até 2016, ou seja, esse ano, da Educação Infantil na pré-escola para as crianças de quatro a cinco anos de idade e a ampliação da oferta de Educação Infantil em creches, até 2024) para atender no mínimo, 50% das crianças de até três anos.
“É um desafio grande, mas imprescindível para a melhoria da qualidade da Educação no Brasil”, comenta Priscila Cruz, presidente-executiva e fundadora do movimento Todos Pela Educação.
Porém, educar uma criança não é tarefa exclusiva da escola. A LDB (Lei de Diretrizes básicas da Educação Nacional) diz que a Educação Infantil é complementar à ação da família, e que, portanto, reconhece e compreende que a base da educação começa em casa. Nesse sentido, pesquisas evidenciam que a qualidade da educação infantil melhora quando as propostas pedagógicas consideram o apoio e a orientação aos pais.
“Os dados mostram que a brecha entre as crianças mais e menos vulneráveis abre muito cedo, tanto na escola quanto em casa”
Na entrevista a seguir, confira o que disse Priscila Cruz sobre os principais desafios da educação infantil no país, a relevância da brincadeira para o desenvolvimento infantil, e também sobre a importância da participação e engajamento das famílias no processo de aprendizado das crianças:
Priscila Cruz: As pesquisas mostram que o papel das famílias na educação e as suas expectativas em relação aos benefícios que ela proporciona são determinantes na trajetória escolar dos filhos – e, novamente, essa expectativa costuma ser maior entre as famílias com maior nível socioeconômico. Torna-se evidente que o desenho das políticas públicas deve prever ações que envolvam as famílias e elevem a educação na primeira infância ao mais alto nível de prioridade na sociedade.
As famílias têm que entender que a oferta de Educação de qualidade não é um favor, é um direito, e que elas podem e devem reivindicar esse direito sempre que julgar que não está sendo plenamente atendido. Devem buscar estar presentes na escola sempre que possível.
A escola deve estimular essa participação, estar aberta e buscar informar e envolver a família nas principais decisões e resolução de problemas ao longo do ano.
Priscila Cruz: Todos nós trazemos uma bagagem única de vida, portanto, não adianta achar que tudo o que funciona para um funciona para todos. A escola tem que estar preparada para lidar com a diversidade e com os diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos.
“O que não pode é deixar nenhum aluno para trás. Todos podem e têm o direito de aprender”
Priscila Cruz: Hoje, a Educação Infantil é a etapa que recebe menor investimento por aluno e, segundo o economista e Prêmio Nobel James Heckman, cada dólar investido na primeira infância tem um retorno de 17 dólares.
Ou seja, um investimento com uma alta taxa de retorno, afinal, uma oferta de Educação de qualidade desde os primeiros anos de vida impacta positivamente todos os demais anos escolares e a formação dessa pessoa. Investir também em qualidade na oferta de educação nessa etapa tem um grande potencial para garantir as mesmas oportunidades para todos, ainda mais em um país ainda tão desigual como é o Brasil. Os dados mostram que a brecha entre as crianças mais e menos vulneráveis abre muito cedo, tanto na escola quanto em casa.
“Enquanto 51% da população de zero a três anos das famílias no quartil mais alto de renda frequentam a escola, apenas 22% das crianças das famílias no quartil mais baixo têm acesso à educação”
E em casa, o acesso a oportunidades de aprendizagem também se distribui de forma desigual: aos quatro anos, as crianças mais pobres terão escutado até 30 milhões de palavras a menos do que as que se encontram em situação menos vulnerável.
Priscila Cruz: Como disse anteriormente, ainda temos que garantir a oferta de vagas para todas as crianças de quatro e cinco anos e atender a demanda de zero a três anos, mas tão importante quanto, é garantir a qualidade do atendimento dessas crianças, com, por exemplo, infraestrutura adequada, professores bem formados e um projeto político pedagógico que apoie e estimule o desenvolvimento de acordo com a idade.
As políticas públicas de Educação Infantil também devem estar muito bem articuladas com as demais políticas que afetam diretamente o desenvolvimento na primeira infância, como a assistência social e a saúde.
Priscila Cruz: Existem muitas evidências sobre a relação entre o brincar e o aprendizado, listo aqui algumas delas:
Lunetas: Considerando a importância da brincadeira e da experimentação, qual a sua avaliação sobre os currículos e diretrizes da educação infantil pública?
Priscila Cruz: A Base Nacional Comum, que está em fase de elaboração no momento, deve ter o brincar e o experimentar em seu bojo para a Educação Infantil, sempre tendo em vista sua necessária relação com as aprendizagens que devem ser adquiridas ano a ano pelas crianças para garantir o seu pleno desenvolvimento.
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