Para alguns especialistas, a não vacinação representa um perigo extremamente nocivo à saúde pública de uma forma geral
Diante de um crescente movimento contrário à vacinação em todo o mundo, médicos e especialistas cada vez mais defendem a importância da vacinação na infância.
Procedência, efeitos colaterais, desencadeamento de condições nocivas são alguns dos receios que rondam o assunto “vacinação infantil” no Brasil. Pais e mães se dividem entre quem vê nas vacinas o santuário da proteção dos filhos e quem acredita que a vacina em crianças pode deixá-las mais suscetíveis a doenças.
Por outro lado, a vacinação foi responsável por erradicar doenças como varíola, poliomielite, sarampo, rubéola e síndrome da rubéola congênita, além de minimizar consideravelmente casos de coqueluche e meningite.
Devido à importância do assunto para a infância e as muitas dúvidas que o tema suscita, o Lunetas investigou quanto disso é mito e o quanto é risco real. Afinal, vacinas podem ser uma escolha de cada família ou uma obrigatoriedade de saúde pública?
Para o pediatra e infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Alfredo Gilio, as vacinas são pilares imprescindíveis da imunidade da criança, principalmente por sua dupla importância: de um lado, sua atuação em cada indivíduo que a recebe, e, de outro, seu valor social e histórico. O médico explica:
“A vacinação é uma das principais medidas para a prevenção de uma série de doenças. Tem uma importância muito grande individualmente e epidemiologicamente, ou seja, para redução ou mesmo erradicação de algumas doenças”
O Programa Nacional de Imunização foi criado em 1973. De lá para cá, o que mudou? Quais parâmetros são seguidos hoje? Há divergências entre a recomendação do Ministério da Saúde (Calendário Nacional de Imunização) e da Sociedade Brasileira de Pediatria.
“Para os calendários do Programa Nacional de Imunizações (PNI), são seguidas as premissas: a disponibilidade de uma vacina segura e eficaz para uma determinada doença, o seu custo e a possibilidade de atingir o maior número possível de crianças”
“No calendário da Sociedade Brasileira de Pediatria, são acrescentadas algumas vacinas e também se sugere algumas outras apresentações de vacinas para as mesmas doenças que são prevenidas através do PNI. É importante ressaltar que o Programa Nacional de Imunizações do Brasil é um dos mais completos do mundo”, explica o pediatra.
Quanto à procedência das vacinas utilizadas hoje no país e seu caminho até chegarem no paciente, o profissional conta que varia bastante, mas que, independente de sua origem, a distribuição, regulação e orientação à população são conduzidas pelo Ministério da Saúde. “As utilizadas no Brasil podem vir dos laboratórios nacionais como o Instituto Butantan e de laboratórios internacionais”, esclarece.
Ainda sobre essa questão, o médico defende a qualidade do produto disponibilizado no país. “As vacinas disponíveis hoje são bastante seguras e eficazes. Não há risco significativo de doenças graves. O risco mais frequentemente referido que é o de autismo após vacinas já está completamente descartado na literatura médica mundial”, diz Alfredo.
No extremo oposto da questão, estão os defensores da não vacinação, o chamado “movimento antivacina”. É crescente no mundo todo o número de pais que se recusam a vacinar seus filhos, movidos por uma série de fatores como a descrença no sistema de saúde, a desconfiança sobre a procedência das vacinas oferecidas (sobretudo na rede pública) e também por acreditarem que vacinar contra doenças erradicadas é desnecessário.
A este fenômeno social e cultural, os médicos deram o nome de “desaparecimento da percepção de risco”, ou seja, quando uma população ou mesmo um grupo de profissionais despreparados deixa de ter rigor sobre a importância de se proteger contra uma determinada doença há muito desaparecida.
Para a homeopatia, por exemplo, a vacina seria responsável por desencadear reações inflamatórias no organismo, teoria que o pediatra Alfredo Gilio desmente. Outras correntes – religiosas, filosóficas e de outras ordens –, como a Antroposofia, por exemplo, acreditam que é mais saudável para o corpo desenvolver imunidade de forma natural, ou seja, por meio da própria doença quando ela ocorrer. O pediatra explica:
“Muitas doenças estão sob controle justamente por causa da vacinação. Quando ocorre relaxamento nas taxas de cobertura dessas vacinas a doença reaparece, como aconteceu recentemente com o sarampo”
Para os especialistas, a não vacinação representa um perigo extremamente nocivo à saúde pública de uma forma geral, uma vez que as famílias que optam por esse caminho estão considerando somente o efeito individualizado da prática, desconsiderando a consequência em nível macro, social e histórico.
“As famílias que optam por não vacinar os seus filhos estão deixando-os expostos às doenças que as vacinas protegem e que nem sempre são doenças leves. Ao mesmo tempo, estão expondo outras crianças ou adultos que podem contrair essas doenças se tiverem contato com seus filhos ”, defende Alfredo.
Já o médico infectologista Renato Kfouri defende que, diante de tantas posições contrárias, a informação é a principal aliada, e por isso é preciso ficar atento às pesquisas desenvolvidas sobre o assunto.
“É importante observar os estudos de segurança das vacinas, que acompanham populacionalmente os efeitos de cada uma delas. São estudos muito sérios, com dados que seguem afirmando sua importância. Com isso, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos ministérios dos países é para que se dê as vacinas de acordo com os calendários”, diz.
A maioria das vacinas oferecidas em clínicas privadas de imunização e as disponibilizadas na rede pública de saúde é a mesma. “Entretanto, para outras há diferenças na apresentação, por exemplo, reduzindo o número de picadas ou reações adversas. Além disso, algumas vacinas não são disponibilizadas na rede pública”, explica o pediatra.
Para fazer download do Calendário Nacional de Vacinação, clique aqui.
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Segundo o Ministério da Saúde, todas as doenças prevenidas pelas vacinas que constam no calendário de vacinação, se não forem alvo de ações prioritárias, podem voltar a se tornar recorrentes.