Após um episódio de violência, é comum que as escolas procurem aumentar a vigilância e o policiamento, fechando-se para o território. Será que este é o caminho?
Mesmo em regiões de extrema violência urbana urbana, não é só possível, como também necessário, estabelecer uma relação de troca com a comunidade. Então, como discutir a importância de garantir segurança na escola sem isolá-la de seu território?
Segurança nas escolas foi um dos diversos debates suscitados pelo “massacre de Suzano”, como ficou conhecido o homicídio praticado por dois jovens em uma escola na cidade da Grande São Paulo na última quarta-feira. No entanto, falar sobre proteção à infância e a adolescência no ambiente escolar é uma discussão complexa, que demanda entendimento sobre uma série de questões fundamentais para entender como a relação escola-cidade acontece.
De quais formas a escola se relaciona com a comunidade na qual ela está inserida? Essa é uma questão que não se esgota em uma resposta única, e nem numa resposta simplificada. Compreendê-la passa por questionar o próprio modelo de educação de que estamos falando?
Para a educação integral, no qual estamos ancorados no Lunetas, a aprendizagem acontece na vida, e não somente na escola. Aprender é algo que ultrapassa os limites da escola, e se dá no bairro, na cidade, na família e na sociedade como um todo.
“O aumento da vigilância e policiamento, a construção de grades, cercas e muros foram consideradas por alguns representantes do poder público e da sociedade como soluções para o combate à violência — fechando assim as escolas para o território e a comunidade”, diz o texto do nosso parceiro, Centro de Referências em Educação Integral.
Mesmo em regiões de extrema violência urbana, estabelecer uma relação de troca com a comunidade, não é só possível, como também necessário, e há experiências escolares bem-sucedidas que comprovam isso. Então, de que forma podemos discutir a importância de garantir segurança nas escolas aos estudantes sem isolá-los em um microcosmos que não dialogue com o entorno?
“A Educação Integral se espelha em estudos de segurança pública e experiências de escolas que, mesmo em territórios que convivem com a violência urbana cotidiana, abriram suas portas para a comunidade e se conectaram com o entorno para enfrentar problemas dentro e fora da sala de aula”, explica o texto.
Para discutir o assunto, o CR convidou dois profissionais que trabalham direta ou indiretamente com a questão da criança no território, a socióloga Helena Singer, e o especialista em direitos da criança e do adolescente Ariel de Castro Alves.
Após um acontecimento como o de Suzano, as escolas podem automaticamente partir para um caminho de acirrar seu policiamento a fim de proteger os estudantes. Segundo os especialistas, o principal indício de que essa medida não é eficaz é o fato que todos os grandes episódios de violência em escolas foram praticados por pessoas que tinham vínculo e acesso à escola em questão. Ou seja, não se trata de erguer muros para conter uma ameaça externa, e sim de fortalecer as bases – sociais, humanas, psicológicas, emocionais, dentre outras – daqueles que estão dentro da escola.
“Catracas, bibliotecas trancadas e portões fechados denunciam a desconfiança da escola em relação aos estudantes e funcionários, e portanto, estes acabam se reconhecendo como indivíduos indignos de confiança, além de contaminar com insegurança as relações, sejam eles alunos ou professores”, explica Singer.
Outro ponto levantado por Singer foi o caráter nocivo de responder à violência com mais violência, algo que foi também suscitado pelo ocorrido em Suzano.
“O que causa o homicídio é o acesso à arma. Não houvesse arma, não haveria homicídio”, resume Helena Singer.
A proposta de armar civis como forma de lidar com a violência é, segundo os especialistas, uma forma irresponsável de sobrecarregá-los com a responsabilidade de conter tragédias. Além disso, transmite aos estudantes – crianças e jovens em formação – a ideia de que é natural lidar desta forma com a violência.
“Para os educadores, pode prevalecer a noção de que infância e juventude são casos de polícia. Para as crianças, que veem policiais armados nas ruas para defender cidadãos, ao ver um professor armado, surge a hipótese de que entre eles pode haver um assassino”, afirma a socióloga.
Além disso, de acordo com os entrevistados, a consequência disso é inevitavelmente o isolamento da escola em relação à comunidade.
“A relação de pertencimento da escola com a comunidade é fundamental para evitar situações de violência. As escolas deveriam abrir aos finais de semana e os professores mediadores poderiam estabelecer as relações comunitárias, com as famílias, com ONGs e com colaboradores”, explica Ariel de Castro.
“A melhor prevenção [à violência] é por meio do diálogo e dos vínculos entre estudantes e educadores”
Clique aqui para ler o texto completo do Centro de Referências em Educação Integral.
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