70% das crianças de 0 a 3 anos no Brasil não têm acesso a creches

Os dados fazem parte da pesquisa "Cenário da Infância e Adolescência no Brasil", realizada pela Fundação Abrinq, com base em 23 indicadores sociais.

Da redação Publicado em 28.03.2017
Rosto de menina sorrindo, com o cabelo preso em rabo de cavalo, brincando no gira-gira de uma escola. Foto em preto e branco.

Resumo

Em São Paulo, apenas uma em cada 20 crianças consegue vagas em creches por liminar da justiça. Mais de 100 mil crianças aguardam na fila de espera por uma vaga nas creches da cidade.

70% das crianças brasileiras de zero a três anos não tem acesso a creches. A informação está na pesquisa “Cenário da Infância e Adolescência no Brasil“, divulgado pela Fundação Abrinq.

A pesquisa reúne 23 indicadores sociais que revelam dados alarmantes sobre temas diversos, como moradia, violência contra a criança, acesso a água, e educação, utilizando como referência informações de orgãos e instituições públicas, como o Ministério da Educação.

Segundo o site do Centro de Referências em Educação Integral, Heloísa Oliveira, administradora executiva da Fundação Abrinq, afirma que as desigualdades sociais tornam o desafio na educação ainda maior, pois as regiões onde há menos creches são as mesmas onde há maior concentração de população de baixa renda. “A falta de acesso muitas vezes está combinada com a pobreza e a vulnerabilidade social, onde o desenvolvimento integral da criança não é garantido”, comenta.

 

A falta de acesso muitas vezes está combinada com a pobreza e a vulnerabilidade social, onde o desenvolvimento integral da criança não é garantido

A carência do acesso

Se o panorama do acesso às creches é crítico quando falamos do âmbito nacional, o cenário não se altera muito nos municípios.

Em São Paulo, apenas uma em cada 20 crianças consegue vagas em creches por liminar da justiça. Mais de 100 mil crianças aguardam na fila de espera por uma vaga nas creches da cidade.

Os dados acima aparecem no documentário “Direito à educação infantil”, produzido pelo advogado Rubens Naves, do Grupo de Trabalho Interinstitucional sobre Educação Infantil (GTIEI) em conjunto com o projeto “Direito à Creche”.

Por que isso é tão grave?

A educação é um direito inalienável da criança. Porém, quando o Estado não oferece políticas públicas que garantam o acesso a esse direito, ele é deixado de lado, deixando as famílias reféns das instituições privadas, que oferecem experiências pelas quais a maioria dos brasileiros não pode pagar. Esse cenário perpetua uma realidade de exclusão  da infância.

No caso das mulheres, a situação é ainda mais delicada. Dados do IPEA informam que a jornada de trabalho das mulheres é de 7,5 horas a mais do que a dos homens, por semana, o que configura uma retrato da desigualdade de gênero e divisão sexual do trabalho.

Na prática, mulheres trabalham 55 horas por semana, contra 50 dos homens. Segundo o estudo, mais de 90% das mulheres continua trabalhando em afazeres domésticos após o expediente de trabalho formal. Quando o acesso à creche não é garantido, a dinâmica de cuidados e trabalho da família é ainda mais dificultada.

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