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Nomofobia: o vício em celular que está tomando conta das crianças

Nomofobia: foto de uma criança branca, que está embaixo de um cobertor e acessa o celular.

Apesar de ainda não ser oficialmente considerado um transtorno mental, o vício pelo celular já ganhou um nome: nomofobia, que vem de “no-mobile-phone phobia” e significa medo de ficar sem celular. Ele é característico de quem não consegue desgrudar da telinha e sente a necessidade compulsória de checar mensagens, vídeos e ficar horas em aplicativos.

Já temos evidências de que os efeitos da dependência ao celular no comportamento e cérebro se assemelham aos de outros vícios. E, assim como outros tipos de dependentes, os viciados em celular não se sentem desencorajados ou não conseguem mudar apesar das consequências negativas em sua mente, corpo e convivência social. No cérebro, a atividade neural também se mostra alterada.

Consequências da dependência

Um estudo publicado na revista Nature realizado com jovens dependentes de celular e sem outros problemas de saúde indica o mesmo tipo de alteração de outros vícios. E os mecanismos neurais alterados nos ajudam a entender a dificuldade que essas pessoas têm para mudar de comportamento, além da tendência para desenvolver comorbidades.

Para crianças e adolescentes, as consequências podem ser ainda piores, uma vez que o cérebro deles ainda está em desenvolvimento. Por isso, quando adultos, podem vir a ser ainda mais dependentes – o que também vale para maconha e cigarros eletrônicos, o famoso “pen drive” ou vaping. Mas, é claro, serve de alerta o histórico de vício familiar.

O celular, infelizmente, pode funcionar como um dreno cerebral, roubando a cognição, ou seja, as capacidades mentais. Quase mil estudantes foram testados em três situações: celular na mesa, na mochila e em outra sala de aula. Conclusão: mesmo desligado, quanto mais perto o celular, menor o desempenho escolar do aluno. E quanto maior a dependência, pior o desempenho escolar. 

Existem impactos para as relações?

E o impacto nos relacionamentos? Família, namoro, amizade? Estudo com monitoramento dos chamados “millennials” (jovens entre 25 e 35 anos) mostra que, com o celular perto, eles se sentiam divididos e, portanto, mais desconectados; mas, sem o celular, se sentiam mais conectados. Por isso, é importante pensar desde cedo em algumas regras familiares e etiquetas sociais, como colocar todos os celulares numa caixa durante a refeição ou ativar o modo silencioso antes de entrar em um restaurante.

Além disso, aproximadamente um quarto das crianças e dos jovens apresentam uso problemático do celular com maiores chances de desenvolver depressão e ansiedade, além de problemas de sono. Utilizar o celular à noite é o pior cenário: o filtro de luz azul não é capaz de bloquear totalmente a estimulação de melanopsina, necessário para a produção de melatonina, hormônio fundamental para uma boa noite de sono. Há evidências também de que esta luz causa dores de cabeça e dores musculares, que podem levar até mesmo ao transtorno musculoesquelético.

Dicas para reduzir a nomofobia

Mas, o que fazer? O celular é essencial na sociedade de hoje e parece irrealista exigir que se viva sem ele – ao menos, da adolescência em diante. Também é uma ferramenta para nos comunicarmos, pedirmos ajuda em emergência, nos localizarmos e até termos momentos de lazer. Neste caso, o melhor caminho é o do meio – e, para ajudar você e seus filhos, eis aqui algumas recomendações valiosas para cultivar a moderação: 

Muito provavelmente seus filhos precisarão da sua ajuda – dependentes podem ter dificuldade de seguir essas regras sozinhos e podem apresentar sintomas de abstinência com a redução do uso. É possível que precisem de acompanhamento psicológico e psiquiátrico, como em qualquer outro vício.

Quem ama cuida. E quem cuida deve ensinar a dominar o celular, e não ser dominado por ele. Enfim, ser digital conscientemente.

 *Claudia Feitosa-Santana é neurocientista com pós-doutoramento pela Universidade de Chicago, doutorado e mestrado pela USP. Autora do livro “Eu controlo como me sinto”, ed. Planeta.

**Este texto é de exclusiva responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Lunetas.

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