Nil é um menino feliz, mas que está crescendo com uma preocupação: como se tornar um homem. Antes ele até brincava de casinha com suas bonecas, mas, depois de muito observar seu entorno em busca de exemplos, concluiu que brincadeira de menino era outra. Também não dava mais para demonstrar sentimentos. Chorar, nem pensar. Pelo contrário, para se tornar um homem de verdade, Nil precisava ser corajoso, dominante, imprudente, agressivo e forte.
A história de Nil contada por Joan Turu no livro “Homens choram” é a de muitos meninos. Afinal, as crianças aprendem pela observação e nem sempre há bons exemplos perto. Nem na família, na escola ou na TV. Mas será que ser homem é isso?
Nesta narrativa ilustrada, acompanhamos a jornada de autodescoberta de Nil, um menino que acredita que chegou sua hora de se tornar um homem e não sabe bem como fazer isso. Então, ele procura exemplos para se inspirar. Mas é um abraço e uma boa conversa que vão ajudá-lo de verdade.
Romper com a masculinidade tóxica
As crianças desde cedo vão consumindo em pequenas doses os símbolos carregados de machismo que apontam para o ideal esperado pela sociedade: homens viris, valentões, frios, competitivos. É um lugar de masculinidade violenta, nada saudável. Tudo isso vai alimentando o imaginário sobre o que é ser homem, diz Luciano Ramos, especialista em masculinidades, paternidades e antirracismo. E essas expectativas são uma carga muito pesada para a infância.
“Os meninos têm sua masculinidade forjada nesse modelo fracassado e inalcançável. É preciso romper com esse padrão”, ressalta Ramos.
Por isso, em seu livro “Quinzinho”, Ramos aposta em um modelo de masculinidade que coloca o cuidado centrado na figura do pai, em vez de ser responsabilidade das mães, como reforçam os estereótipos de gênero.
“Foi uma escolha intencional, porque via pouquíssimos livros apresentando a participação paterna no desenvolvimento infantil. Queria trazer um pai que pensa no dia a dia, desde o momento em que essa criança acorda até quando vai dormir, de forma a naturalizar esse debate”, explica. Então, é ele quem cuida, acolhe e apoia o filho. Um dia, ao buscar o menino na escola e voltarem para casa conversando, descobre o que o chateia.
Além do livro trazer questões fundamentais para a construção urgente de uma sociedade antirracista, a relação entre Quinzinho e seu pai mostra, em texto e imagens, a dimensão de uma paternidade ativa ao explorar masculinidades alternativas e afetuosas.
“Nascemos com nossos sexos biológicos, mas a construção da masculinidade e da feminilidade se dá na relação cotidiana, ao longo da vida. Começa na infância, quando costumam ser definidos os papéis de gênero. Decidimos o que cabe aos meninos e às meninas, do que podem ou não brincar, a cor da roupa adequada”, afirma o autor.
Ainda há muito a ser feito em sociedade para que os meninos cresçam com boas referências do que é ser homem, diz Ramos. Por isso, “é fundamental que os meninos possam brincar com diferentes brinquedos e se envolver em brincadeiras em que possam exercer cuidados. Inclusive que os seus pais brinquem com eles dentro desse contexto.”
Novos modelos para inspirar os meninos
Apresentar referências positivas de masculinidade saudável ajuda a ampliar a conversa e entender que homens choram, demonstram afeto, e precisam ser emocionalmente educados, sem estereótipos. Afinal, meninos e meninas têm fragilidades, vulnerabilidades, e não há nada de errado em externá-las.
Além disso, cada vez mais homens dividem as tarefas de cuidado e não ficam responsáveis apenas por pagar contas e trabalhar fora de casa. Aliás, pode acontecer de ganharem menos que a companheira ou o mesmo que outras mulheres desempenhando a mesma função.
Por isso, com a ajuda do Luciano Ramos, Lunetas recomenda mais três livros infantis sobre o tema, para que famílias e educadores possam começar a conversa com as crianças.
Quantas vezes os meninos já ouviram que homens não choram? Foi o que aconteceu com o Nito. De tanto engolir o choro, ele acabou ficando doente. O único jeito, então, de melhorar era “desachorar”, como aconselhou o médico. Livro de estreia de Sonia Rosa, publicado pela primeira vez em 1995, já trazia discussões sobre a construção da masculinidade na infância
A peça de teatro que conta a história do menino que vive em um minúsculo planeta, na companhia da árvore ancestral africana, o baobá, rodou o Brasil e se tornou livro em 2020. A narrativa fala da importância de valorizarmos quem somos e de onde viemos, além de mostrar a força dos laços de carinho e afeto.
Primeiro livro da coleção, apresenta Gustavo, um menino que cresce rodeado por expectativas sobre como deve se comportar. À medida que ele vai amadurecendo, começa a questionar essas regras impostas, desafiando as crenças arraigadas em nossa sociedade e inspirando reflexões sobre essa cultura.