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Por que a proteção de crianças on-line não pode esperar?

Uma menina de traços orientais e cabelos escuros está de perfil e há um computador à sua frente

“As crianças se encontram vulneráveis e até negligenciadas com um smartphone em mãos que lhes permite acessar todo e qualquer tipo de informação, mesmo que não a busquem intencionalmente”, afirma Renata Cardinali, direcionadora familiar e mestra em educação. “São induzidas por algoritmos propositalmente desenvolvidos para mantê-las o máximo de tempo possível diante das telas. Passam horas sendo educadas por influenciadores digitais e páginas que as distraem com palavras e comportamentos vazios, descolados da realidade e da vida em sociedade. E, o pior, sem supervisão.”

Por isso, o PL 2628/2022 busca promover uma mudança de comportamento entre os responsáveis por garantir a proteção delas no ambiente digital. Entre as boas práticas que famílias, sociedade e grandes empresas podem adotar, estão:

O PL 2628 ganhou projeção depois que o influenciador Felca falou sobre adultização e o uso de imagens de crianças e adolescentes nas redes sociais. Ele é importante para efetivar direitos no ambiente digital e criar regras para as empresas do setor, redes sociais, jogos, aplicativos e outros serviços oferecidos pelas chamadas big techs (Instagram, TikTok, Kwai, YouTube, por exemplo). Depois de aprovado na Câmara dos Deputados, em 20 de agosto, os pontos do texto original alterados voltam então para o Senado para nova votação. Entre as medidas, está a exigência de que plataformas adotem um design responsivo à infância, bloqueando conteúdos pornográficos, violentos ou ligados a vícios, e práticas publicitárias predatórias. As empresas terão que fornecer ferramentas de supervisão parental eficazes e será preciso adotar mecanismos de verificação de idade e vinculação de contas de menores de 16 anos com a de seus responsáveis.

O que pensam os especialistas sobre a lei das plataformas digitais

Ao ressaltar os pontos fundamentais do projeto de lei para as plataformas digitais, um médico, uma advogada, uma educadora e uma especialista em direitos infantis mostram que a responsabilidade sobre a adultização e o uso das redes sociais é coletiva.

Punição das plataformas

“O PL 2628 visa coibir mecanismos viciantes das plataformas e a transparência do algoritmo para reduzir a publicidade dirigida. Além disso, é muito importante a cláusula que exige a remoção imediata e prioritária de qualquer conteúdo que viole direitos de crianças e adolescentes e a punição das plataformas quando não seguirem a lei.” – Daniel Becker, pediatra e ativista pela infância

Restringir conteúdos impróprios

“É urgente que, sendo a internet um espaço público, regras sociais e de garantia de direitos sejam marcadores de boa convivência nas plataformas digitais. O direito da criança ser assistida em seu desenvolvimento, em condições de liberdade e dignidade, deve se estender também para o mundo digital. Apoiar o PL 2628 é certificar-se de que as plataformas digitais criem sistemas de proteção para ela, garantindo-lhe a identificação legítima de sua idade para o uso, a viabilização de ferramentas capazes de ajudar os pais a monitorar, com mais rapidez e facilidade, os acessos aos conteúdos consumidos por suas crianças, bem como a restrição ao acesso e compartilhamento de conteúdos impróprios para a faixa etária.” – Renata Cardinali, direcionadora familiar, mestra em educação pela PUC-SP, escritora, palestrante e idealizadora dos projetos Deproprapais e Depropraprô

Responsabilidade coletiva

“Em matéria de direitos, o PL 2628 não é exatamente inovador. Isso porque toda criança e adolescente já tem, hoje, o direito de ser protegida integralmente contra qualquer tipo de conteúdo que possa ferir a sua dignidade, seja ele criado por terceiros, pela própria família ou, de maneira incauta, por eles próprios. O que o PL faz, e daí a sua urgência, é criar ferramentas de proteção desses direitos, de forma a garanti-los efetivamente. O ponto principal é a exigência de mecanismos de controle sobre o que crianças e adolescentes acessam na internet. Além de reconhecer que essa responsabilidade é coletiva, com a devida responsabilização das plataformas digitais.” – Anna Figueiredo, advogada, fundadora da Fenda Consultoria, especializada em maternidade e infância, doutoranda na USP e professora de direito do Insper

Popularização do tema

“A adultização se dá de diversas formas, e não só na exploração sexual. São comportamentos que podem ser observados e modificados, considerando uma educação qualificada na prevenção de violências, que inclua aspectos de gênero e de sexualidade. Quanto mais informação, maiores são as probabilidades de não haver situações de violência. Dessa forma, levar a pauta para todos os espaços de discussão é influenciar políticas públicas e novas formas de agir.” – Soraia Melo, coordenadora da Rede Não Bata, Eduque

E o que nós podemos fazer?

As mudanças propostas pelo projeto de lei devem guiar a atuação das plataformas digitais. Assim, visam garantir ações concretas sobre a monetização de imagens infantis, a publicidade disfarçada e o aliciamento comercial de menores, por exemplo. Mas, enquanto o PL está em tramitação, o que cada um de nós pode fazer?

Os especialistas indicam alguns caminhos:

Prevenção e denúncia

A SaferNet Brasil, associação que promove o uso ético, responsável e seguro da internet, orienta sobre sobre crimes e violações dos direitos humanos no ambiente digital, de forma anônima e sigilosa. Profissionais especializados orientam sobre como prevenir violências on-line, o que fazer para denunciar e identificam instituições de saúde que atendem em várias regiões do país. Além disso, o Disque 100 é um serviço telefônico gratuito, que recebe denúncias de violações de direitos humanos 24 horas por dia.

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