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Camilla e sua filha Janaína na Festa de Iemanjá em 2020

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Janaína, segurando uma rosa para Iemanjá

lang="pt-BR">Festa de Iemanjá e as oferendas à rainha do mar desde a infância
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Festa de Iemanjá e as oferendas à rainha do mar desde a infância

Festa de Iemanjá: Imagem de mulheres e homens negros vestidos de branco e azul.

Há 100 anos, nascia a Festa de Iemanjá, quando pescadores baianos passaram a oferecer presentes à Iemanjá, divindade das águas, ao pedirem por fartura na pesca e um mar tranquilo. Reconhecida como Patrimônio Cultural de Salvador desde março de 2020, as homenagens à orixá se concentram na Praia do Rio Vermelho, todo dia 2 de fevereiro, desde 1923. Entre as oferendas, flores brancas, perfume de alfazema e comidas.

“É dia dois de fevereiro / Quando na beira da praia / Eu vou me abençoar” – Maria Bethânia

Camilla Veras conta que desde criança mantém uma relação próxima com a orixá e que fez questão de transmitir o costume à filha quando ela ainda estava na barriga. Há quatro anos, mãe e filha vão juntas às festas acender velas e entregar flores à rainha do mar. Aliás, “minha filha se chama Janaína em homenagem a Yemanjá”, diz.

A dupla não deixou de frequentar o mar nem mesmo durante a pandemia. “Íamos fazer os nossos rituais de agradecimento do ano e pedidos para o novo ciclo”, conta Camilla. Este ano, além do centenário da festa, comemora-se a retomada oficial dos festejos presenciais à Iemanjá.

Quando perguntada sobre o porquê de participar das homenagens para a rainha do mar, Janaína conta que vai na festa porque ama muito Iemanjá, e também que realizou oferendas à divindade das águas em 2023: “esse ano eu dei dois cartões, um meu e um do meu pai, e também uma flor”, diz. Ela compartilha o que estava escrito no cartão dedicado à orixá:

“Querida Iemanjá, te amo muito! Eu gosto muito de você e quero que você fique aqui pra sempre”

Apesar de ter nascido em Salvador, a festa se espalhou pelo Brasil, podendo ser comemorada em datas distintas, a depender do culto da casa de umbanda ou candomblé. No Rio de Janeiro, por exemplo, acontece hoje o “Dia de Iemanjá no Arpoador”. Marcos André Carvalho, músico e candomblecista responsável por idealizar o evento, aponta, em entrevista à Agência Brasil, que o carioca tem uma dívida por não ter dado visibilidade suficiente para a herança africana que fundou a cidade.

“Tudo nasceu nos terreiros, como o samba; a bossa-nova nasceu do samba; a batida do funk nasceu dos tambores”

Já em Alagoas, os festejos públicos dedicados à Iemanjá acontecem em 8 de dezembro, devido a um episódio conhecido como “Quebra do Xangô”, quando invadiram terreiros, violentaram candomblecistas e umbandistas, e prenderam praticantes das religiões entre os dias 1 e 2 de fevereiro de 1912, fazendo com que diversos terreiros fechassem e que pais e mães de santo acabassem indo embora para outros estados. “Esse evento, durante muitos anos, ficou restrito aos jornais como sendo uma ação para limpar as almas da população das práticas religiosas demoníacas e perigosas para a sociedade”, conta a historiadora Clara Suassuna, diretora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab), em entrevista para a Universidade Federal de Alagoas.

Quem é Iemanjá?

“Na nação Ketu, ela é Iemanjá. Na nação Angola, ela é Kaiala. E na nação Jeje, dependendo dos caminhos, ela pode ser chamada de Aziri-Tobossi… e assim sucessivamente”, conta a Yalorixá Jaciara Ribeiro, em entrevista para a Agência Brasil. Com seu culto nascido entre o povo Iorubá Egbá, a explicação mais conhecida para o nome “Iemanjá” vem da expressão iorubá “yèyé omo ejá”, que significa “mãe cujos filhos são peixes”. A divindade também está atrelada ao rio Yemojá, que corre em direção ao mar – na África, o culto de Iemanjá é atrelado às águas doces, mas desde que chegou no Brasil entre o fim do século 18 e metade do século 19, rios e cachoeiras fazem parte do culto de Oxum. Para saudá-la, chamam “odoyá” (mãe das águas).

“Como se saúda a Rainha do Mar? Alodê, Odofiaba, minha-mãe, Mãe-d’água, odoyá!” – Maria Bethânia

Iemanjá sempre esteve presente na produção cultural da educadora e contadora de histórias Lia Rocha. Para ela, falar da divindade para os pequenos era “algo muito forte”, que transmitia às crianças “o respeito, a valorização e o cuidado com a natureza, principalmente com o mar, que é o habitat da grande rainha”. Junto de Oxum, Iemanjá é orixá de cabeça (responsável por reger a atual encarnação do indivíduo) da educadora, e em algumas ocasiões, enquanto contava histórias sobre as divindades, as crianças perguntaram se a educadora era Iemanjá, o que a fazia negar, entre risos, reforçando que as crianças são sensíveis e que conseguem sentir a energia da divindade.

“Seria interessante se crianças tivessem mais contato com esse patrimônio cultural da nossa afrobrasilidade”

A divindade é associada à fertilidade, à maternidade e protege os pescadores. No Brasil, é comum que o sincretismo atrele a imagem de Iemanjá à Nossa Senhora dos Navegantes, santa católica, o que tornou a orixá conhecida com pele branca e cabelos lisos. Por conta dessa relação, foi apenas este ano, no centenário das celebrações da Festa de Iemanjá, que a Casa de Iemanjá, lugar em Salvador onde vivem pescadores e marisqueiras da Colônia de Pescadores Z-01 do Rio Vermelho, e comunidade que deu início à Festa de Iemanjá em 1923, ganhou a primeira escultura que personifica Iemanjá com traços da beleza feminina africana, aproximando a população do sagrado e ajudando a compor a identidade local.

* Com informações de Agência Brasil (1) (2), UOL e UFAL.

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