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Em Taboão da Serra (SP)), mesmo sendo fã da boneca, Raone, 7, ainda não pôde ver "Barbie". Seus pais preferiram assistir ao conteúdo previamente

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Carol Prestes decidiu levar apenas suas filhas com idade superior a 12 anos em sessão em São Pedro da Aldeia (RJ)

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Alice Coelho, 6, posa com a fantasia costurada por sua mãe especialmente para ir ver o filme, em Santo Antônio de Jesus (BA)

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Alice, 11, produziu sua própria tiara personalizada de papel para assistir "Barbie" ao lado de sua mãe em Florianópolis (SC)

lang="pt-BR">Classificação indicativa: 'esse filme é ou não é para criança?'
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‘Esse filme é ou não é para criança?’

Foto de duas meninas comem pipoca enquanto olham na mesma direção. As duas usam peças de roupa rosa.

A “onda rosa” do fenômeno “Barbie” não chegou aos brasileiros menores de 12 anos, apesar de dar vida a uma boneca. A exemplo da maioria dos países que exibiu o filme, a classificação indicativa levou em conta cenas com linguagem imprópria e violência fantasiosa, por exemplo.

Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, considera justa a restrição. “A classificação indicativa pode ser uma aliada das famílias na hora de escolher desenhos, filmes e jogos para crianças. Isso porque faz um filtro inicial de conteúdos e temas adequados ou não a determinadas faixas etárias.”

No Brasil, a classificação indicativa é regulamentada por uma portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública e tem como princípios básicos a proteção integral da infância, a preservação da liberdade de expressão e a garantia de acesso à cultura. Especialistas do Instituto Alana integram o Comitê de Acompanhamento pela Sociedade Civil para a Classificação Indicativa (CASC), onde formulam propostas que poderão resultar em políticas públicas.

A classificação indicativa geralmente aparece no canto da tela e segue um sistema de cores. “Se é verde, é livre para todos os públicos; as demais cores acompanham o número correspondente de 10 a 18 anos”, diz Mello. As seis escalas são definidas com base em descritores como atos criminosos, conteúdo sexual, linguagem inapropriada, violência, medo. Às vezes, antes da classificação oficial, as produtoras indicam uma autoclassificação, que vem no formato AL, A10, A12, A14, A16 e A18.

‘A classificação indicativa não está ali à toa’

“Trata-se de uma classificação etária ‘indicativa’, isto é, não é uma proibição ou censura”, explica Diego Penha, doutor em psicologia, em entrevista ao Lunetas. Segundo ele, além de ser um cuidado em relação às crianças, “o objetivo é também salvaguardar as produtoras, os streamings e os cinemas de qualquer acusação.”

Para não ter uma classificação restritiva e aumentar as chances de sucesso de bilheteria e público, tenta-se evitar cenas com sangue, sexo explícito e consumo de drogas ilícitas. Filmes com maior classificação indicativa normalmente atingem um número menor de espectadores por limitar as entradas do cinema. Os catálogos de plataformas digitais e o horário de exibição em TV Aberta também devem seguir as mesmas regras.

Embora pais e cuidadores tenham dúvidas se devem ou não levar seus filhos ao cinema ou mesmo liberar o acesso aos conteúdos nas diversas plataformas, Mello nos lembra que a classificação indicativa não está ali à toa. “Por trás dela existem especialistas que observam uma série de critérios quanto à proteção da infância.”

Ela reforça que, quando o conteúdo não é considerado adequado às crianças, também é importante abrir espaço para o diálogo. A partir disso, é possível decidir na esfera privada se a criança pode ir ou não ou cinema, pois, mesmo sem ter a idade mínima, ela pode entrar nas sessões se acompanhada de um de seus responsáveis.

No caso de “Barbie”, a opinião dos responsáveis pela obra coincidiu com o parecer dos avaliadores do Ministério da Justiça. Contudo, em algumas plataformas de avaliação de filmes, como o Common Sense Media, por exemplo, há quem considere o filme uma “comédia inteligente e colorida com temas apropriados para maiores de 11 anos”.

Quais são as pautas de ‘Barbie’?

Numa crítica à sociedade contemporânea, a crise existencial da Barbie (Margot Robbie), junto de seu amigo Ken (Ryan Gosling), nos conduz por temas como igualdade de gênero, feminismo, patriarcado e diversidade. A pergunta é: o conteúdo trata de temas de fato relevantes para a infância e que permitem que a criança se reconheça na tela?

A avaliação deve considerar obras pensadas prioritariamente para meninos e meninas, que possam auxiliá-los no seu processo de desenvolvimento psíquico e emocional, além de promover sua cidadania. Independente se está ou não ambientado em um universo de brinquedos.

O que pensam as famílias e crianças sobre ‘Barbie’?

Apesar de tratar sobre temas complexos para crianças, Alice, 11, gostou muito de ver uma história da Barbie no mundo real sobre feminismo. “Acho que poderia ter classificação de 10 anos porque falou de assuntos difíceis para crianças menores entenderem, como assédio, depressão, feminismo e patriarcado, mas pra mim foi tranquilo.”

Foi por isso que a pedagoga Carol Prestes decidiu levar apenas suas filhas mais velhas ao cinema. “Não levei minha filha de seis anos, porque sabia que não era um filme infantil. A classificação é um direcionamento, mas nós temos nossa responsabilidade também”, diz. “Foi uma experiência muito importante poder trocar tanto com minhas meninas e relembrar esse momento de brincadeira com cada uma. Não só pela Barbie, mas pelo brincar mesmo.”

Como conversar com as crianças sobre ‘Barbie’?

“A divulgação de ‘Barbie’ mostrava que era um filme para adultos, então decidimos esperar para assistir primeiro”, conta Amanda Lopes, mãe de Raone, 7, que sempre fica atenta à classificação indicativa. Para ela, às vezes alguns pais não estão preparados para debater certos temas com os pequenos. “Nós problematizamos filmes de violência, de luta, de heróis batendo em vilões, mas permitimos que nosso filho assista outros conteúdos com classificação indicativa mais alta, desde que tratem de temas que possam auxiliar no seu desenvolvimento e que já debatemos em casa, como questões de gênero e o universo LGBTQIA+”.

“Às vezes sinto que os pais têm medo de conversar com as crianças”, diz Aloma Coelho que, depois de ouvir especialistas e ler matérias a respeito do filme, decidiu levar sua filha Alice, 6, ao cinema. “Considero a classificação indicativa importante, mas acredito no equilíbrio e no diálogo. Decidi levá-la porque entendi que ela poderia conversar sobre tudo comigo e quero que tenha doces memórias sobre o brincar.” A menina é apaixonada pela boneca e passou três dias costurando um vestido para ir à sessão.

As brincadeiras da infância com bonecas foram revisitadas pelas amigas Ana Beatriz, Stephany Rayane e Nicolly, todas com 13 anos. “Nós gostamos muito da parte que o Allan enfrenta outros homens, porque representa que não são todos que são a favor do patriarcado”. Sobre a classificação, elas comentam: “Uma criança menor que vai ver o filme e não tem o mínimo de conhecimento sobre o assunto, não iria entender nada.”

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