Das petecas à observação dos animais, as brincadeiras que surgiram nas comunidades originárias ensinam que, para se divertir, basta estar animado e ter criatividade. Assim, as crianças indígenas brincam nas comunidades relembrando o que a infância tem de melhor: a liberdade.
Além disso, as brincadeiras indígenas têm histórias e elementos que perpetuam a identidade dos povos originários. Seja por uma semente de um fruto típico da região ou por imitar animais da floresta e das águas, a natureza está sempre presente.
“Uma das coisas que certamente faz parte da educação das crianças indígenas é a possibilidade delas serem, sobretudo, crianças”, diz Daniel Munduruku. “Ela é incitada por meio de jogos e brincadeiras, contações de histórias ou jogos de roda. O jogo coletivo educa o corpo, as histórias educam o espírito. Esse tipo de atividade faz com que as crianças aprendam a ser um sujeito individual em uma comunidade.”
De acordo com a educadora e documentarista Renata Meirelles, “o brincar permite que esta conexão consigo e com o mundo aconteça o tempo todo”. Em parceria com o Instituto Alana, ela registrou em vídeo e livro brincadeiras indígenas de várias regiões brasileiras.
A partir das referências do projeto Território do Brincar e do Parabole, organização de pesquisa e promoção educativa e cultural infantil, o Lunetas traz então sete brincadeiras indígenas para apresentar às crianças e aproximá-las de diferentes culturas.
Vamos brincar?
- 1. Peteca
Feita com areia, couro e penas, a peteca é um brinquedo versátil da cultura indígena e pode render muitas brincadeiras. Contudo, a mais tradicional é lançar a peteca com a palma da mão para a pessoa da frente aparar também com a palma da mão, já devolvendo o lance. Mas, se tiver mais gente para brincar, basta formar um círculo e jogar a peteca para cada um, sem deixá-la cair. Assim, vence quem for o último a deixar a roda.
- 2. Tucunaré
Esse peixe comum da região amazônica inspirou o professor indígena Perankô a criar uma brincadeira a partir do vai e vem dos peixes do rio. Ele observou que o tucunaré ficava sempre no fundo e não se mexia enquanto os peixes menores iam para as águas rasas. Assim, ele propôs que as crianças se dividissem entre os peixes menores e os tucunarés para brincar em uma dinâmica de pega-pega com obstáculos.
O espaço é delimitado com pau fincados no chão e barbantes amarrados, formando dois quadrados: um dentro do outro. Desse modo, o maior deve cobrir o menor por completo e com folga. Com isso, enquanto os tucunarés ficam no quadro central, do fundo, eles tentam pegar os peixes menores no quadrado de dentro.
- 3. Cabo de guerra
Uma das brincadeiras mais populares (afinal, foi até competição olímpica no passado, lembra?) ainda garante a diversão das crianças. Basta dividir dois grupos com o mesmo número de participantes. O primeiro de cada fila segura um lado da corda seguido dos demais. Para medir a movimentação da corda, pode-se fazer uma linha no chão com giz ou com alguma pedra. A batalha começa quando os grupos puxam a corda até um deles ultrapassar a linha. Desse modo, para vencer, é preciso força e movimentos coordenados das equipes.
- 4. Pião de tucumã
Um caroço de fruta, um graveto e o chão de terra. Esses elementos são o suficiente para formar essa brincadeira. No Parque do Xingu, no Pará, o caroço é o de tucumã, que é arredondado e liso. É preciso fazer três furos no centro do caroço: um embaixo, um em cima e em um dos lados. Por fim, é só enfiar um graveto ou pedaço de madeira (que será o suporte) no caroço e amarrar um barbante na ponta desse suporte. Para brincar, cada um deve puxar o barbante com força sem deixar o pião entortar. Assim, ele vai girando e o ar que entra no caroço forma um apito diferente. É isso que dá toda a graça de rodar esse pião.
- 5. Briga do galo
Não tem briga nem galos de verdade. Essa brincadeira, na verdade, é mais um desafio de equilíbrio e estratégia. Isso porque os participantes ficam de braços cruzados e uma das pernas dobrada para trás. Com apenas um pé no chão, um time tenta derrubar o outro usando apenas os ombros. Então, vence quem conseguir derrubar ou fazer o oponente pisar no chão com os dois pés. A “luta” deve ser conduzida com respeito e segurança. Por isso, fique de olho nas regras.
- 6. A onça e a galinha
Crianças das escolas indígenas Kaingang e Guarani, no interior do Paraná, brincam dessa espécie de pega-pega. A onça precisa caçar uma das galinhas que atravessa o campo em que a fera vive. Primeiramente, basta demarcar um campo no chão e traçar uma linha no meio. Enquanto a criança que representa a onça fica no centro, as crianças que são as galinhas atravessam o campo correndo. Afinal, a ideia é fugir do ataque da onça.
- 7. Heiné Kuputisü
Completar um circuito pulando em uma perna só demanda muito equilíbrio e coordenação motora. Nesta brincadeira, que é popular entre os Kalapalo, no Alto Xingu, cada participante precisa cumprir o trajeto formado por retas e curvas desenhadas no chão com uma perna. Não vale trocar de perna. Por fim, ganha quem conseguir ir mais longe.