Resistência e luta pela cultura popular brasileira. Esta é a missão do educador paraense Ângelo Fonseca, também conhecido como Mestre Saci Ângelo. Aos 65 anos, ele costura bonecos de pano para recontar os encantos das lendas amazônicas. “Quero perpetuar a identidade dos povos amazônicos. Os bonecos foi a forma que encontrei de me comunicar com mais facilidade com as crianças”, diz.Ângelo nasceu no município de Alenquer, no Baixo Amazonas, região onde atualmente projeta uma escola de arte e educação com o objetivo de resgate e preservação da cultura da floresta.
Após um processo de pesquisa e produção, o educador se apresenta em escolas para conversar com crianças e adolescentes. Além do espetáculo, ele ensina jovens e suas famílias a produzirem bonecos de pano, que podem servir também como fonte de renda. Dessa maneira, por meio de manis, botos, icamiabas e sacis, os encantos da região vão oferecendo outros sentidos à história local e repovoando o imaginário das novas gerações. A seguir, o Lunetas conta a origem de alguns bonecos produzidos pelo educador.
“Temos uma história que precisa ser preservada. Não podemos se dizimados”
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1 Boto
Ele é um encantado do rio, mas se veste de branco e aparece durante a noite em festas de povoados ribeirinhos para seduzir as moças, que quase sempre acabam engravidando. O chapéu esconde o furo na cabeça por onde o bicho das águas respira. Pajés e curandeiros recorrem à magia para impedir que as mulheres sejam vítimas da influência desse “Don Juan caboclo”. Na região, dizem “os filhos do Boto” para as pessoas cuja paternidade é desconhecida.
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2 Curupira
Com seus cabelos de fogo e pés ao contrário, o Curupira protege as florestas. A criatura é capaz de confundir e até enlouquecer aqueles que a invadem em busca de puro prazer ou destruição. Só recebe sua proteção quem respeita as matas, caça ou busca recursos por necessidade.
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3 Iara
Iara é uma ninfa irresistível. Chamada de “Vênus amazônica”, sua voz é melindrosa e atrai crianças e outras pessoas para dentro do rio. Dizem que os desaparecidos foram “encantados”, ou seja, estão no fundo das águas sendo iniciados no preparo dos remédios e todos os mistérios da magia. Depois de sete anos, o jovem retorna para junto dos seus, quando se torna uma espécie de xamã.
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4 Mapinguari
Existe um gigante peludo com olho na testa e boca no umbigo que vive nas florestas amazônicas. Ninguém sabe ao certo se sua armadura é feita de casca de tartaruga ou couro de jacaré. Ele não teme caçadores, pois é capaz de dilatar o aço da espingarda com um sopro. Algumas histórias associam essa figura aos indígenas que atingiam uma determinada idade e passavam a viver solitários no meio da mata.
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5 Matinta Pereira
Matinta Pereira é associada à figura de uma bruxa cabocla, que se transforma em gato, pássaro, porca e morcego, que pousa nas casas de pequenos vilarejos. Quem já escutou o assobio da velha garante que é de arrepiar a alma. Para evitar os maus presságios trazidos por ela, os habitantes da casa oferecem tabaco e cigarros.
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6 Vitória-régia
Conta a lenda que uma jovem indígena chamada Naiá adorava ver a lua (Jaci) ao anoitecer. Diziam que Jaci descia à procura de uma virgem para transformá-la em estrela. Em virtude disso, Naiá saía todos os dias para buscar a sorte de alcançar os céus. Um dia, afogou-se ao se encantar com o reflexo da lua nas águas do igarapé. Jaci, reconhecendo o esforço da moça, a transformou em Vitória-régia, essa flor que só abre suas pétalas e exala o perfume sob a luz do luar.
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7 Saci
Um personagem famoso do folclore brasileiro, o Saci-pererê é conhecido por ter uma perna só e estar sempre com o cachimbo na boca. Ele gosta de pregar peças nas pessoas, deixando a comida queimar, escondendo objetos, entre outras travessuras. No entanto, sai voando entre o redemoinhos de vento sem que o vejam. O segredo para sua obediência é capturá-lo com uma peneira, retirar seu gorrinho vermelho e prendê-lo numa garrafa.
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8 Jurupari
Existem muitas narrativas ligadas a Jurupari, do mal que provoca pesadelos até o maior legislador entre os indígenas. Sua figura está associada aos rituais de iniciação masculina. Ângelo prefere a versão de que Jurupari foi um deus que veio dos céus à procura de uma esposa perfeita para o Sol, uma missão inatingível. Enquanto conviveu com os homens, estabeleceu condutas morais de relacionamento amoroso, higiene pessoal, plantio e restituiu o patriarcado entre as aldeias.
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9 Ataíde
Um ser com cara de porco e genitais que chegam até o chão. Ele tem pinta de monstro e circula pelos manguezais do litoral paraense. Não faz mal nenhum a quem vive com respeito catando alimento do mangue, mas exige lealdade à andada, época de acasalamento das espécies, quando é proibida a extração de caranguejo. Caso contrário, sua vingança é cruel.
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10 Mani
Mani nasceu em uma aldeia no interior do Pará, com a promessa de trazer prosperidade a seu povo. Diferente dos demais, era uma menina de pele muito branca. Ao completar um ano de vida, morreu misteriosamente e foi enterrada dentro da oca em que vivia. Exatamente ali nasceu uma planta de raiz branca e folhas comestíveis. A menina havia renascido para alimentar a aldeia, por isso, a planta ganhou o nome de “Manioca”, que, em Tupi, significa “cada e Mani”.
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11 Icamiabas
Elas eram guerreiras altas e de cabelos compridos, que viviam montadas em cavalos. Eram conhecidas como icamiabas, mas, quando os espanhóis chegaram na região, as associaram com as guerreiras amazonas, da mitologia grega. Essas mulheres não deixavam os homens se aproximarem delas. Uma vez ao ano, em lua cheia e fértil, preparavam baguetes à beira do rio e se perfumavam para celebrar um período de procriação. Após o banho, faziam muiraquitãs, amuletos da sorte em formato de sapo. As crianças nasciam meses depois: os meninos eram entregues aos guerreiros (guacaris) e as meninas eram criadas pelas icamiabas.
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