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30 anos do ECA: a lei que primeiro olhou para a infância

Imagem de uma criança negra empunha um megafone e grita por seus direitos

Cuidar da infância é um ato coletivo. A responsabilidade deve ser compartilhada entre família, sociedade e Estado. Para estruturar esses cuidados, a sociedade civil reuniu, há 30 anos, suas principais reivindicações e assinou, em 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um marco legal para defesa e proteção integral de cada criança e adolescente brasileiro.

A partir desse movimento histórico, referência inclusive para outros países, o ECA passou a reconhecer, oficialmente, crianças (0 a 12 anos incompletos) e adolescentes (12 a 18 anos) como sujeito de direitos, pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta em seus direitos inalienáveis, por meio de um Sistema de Garantia de Direitos. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter uma legislação destinada à proteção de menores, ratificando tratados internacionais da época, como a Declaração Universal dos Direitos da Criança, de 1979, e da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1989.

Afinal, “crianças não são miniadultos”, lembra Pedro Hartung, Coordenador do Programa Prioridade Absoluta do Instituto Alana. “Como elas ainda estão desenvolvendo suas capacidades, precisam de leis e políticas públicas que possam lhes garantir seus direitos”.

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Mas há muito a ser feito. A luta pela efetiva implementação dos direitos de crianças e adolescentes, que ainda são sistematicamente violados ou negligenciam aqueles mais vulneráveis, e pelo rigoroso cumprimento da lei pede vigília constante.

Para Iolete Ribeiro da Silva, Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente:

“Crianças e adolescentes são os mais afetados em momentos de crise, ampliando sua vulnerabilidade”

Comemoramos a seguir os muitos avanços dessa construção histórica do ECA, mas também lançamos um olhar cuidadoso sobre os principais desafios a serem superados, além de ameaças e retrocessos no contexto sociopolítico brasileiro, aliado à pandemia e à crise econômica em curso em nosso país.

“Não podemos entregar menos que a democracia, e a democracia inicia pela infância”, destaca Maria do Rosário, Deputada Federal e Presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa e Promoção dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes. Para ela, “os princípios norteadores do ECA encontram-se tão vulneráveis quanto a infância brasileira, que precisa ser percebida no seu contexto de família, comunidade e nação”, ressalta.

Florence Bauer, representante do Unicef Brasil, lembra ainda da particularidade do momento que estamos atravessando. “Mais do que nunca, precisamos colocar as crianças e adolescentes no centro da resposta à crise da pandemia, no sentido de reafirmação de direitos e de reconstrução.”

Quais os principais motivos para celebrar?

Desde a assinatura do ECA, a vida de meninas e meninos brasileiros receberam mais atenção, especialmente a dos mais vulneráveis, negros, indígenas, migrantes, crianças em situação de rua. Foram muitos os avanços sociais. Entre eles, comemoramos:

Quais os principais motivos para seguir lutando?

Contudo, apesar das conquistas, ainda há muitos pontos a superar para garantir o acesso de meninas e meninos a todos os seus direitos. A vulnerabilidade social, sobretudo de jovens negros, pobres e periféricos, é um desafio. O ECA precisa ser uma ferramenta inclusiva e igualitária de garantia de direitos, combatendo a negligência, o abandono e o extermínio dessa população. Para enfrentar essas questões, especialistas destacam a importância de fortalecer as redes e o apoio intersetorial, a efetivação de políticas públicas, mais investimentos na área e ainda evitar os retrocessos, sobretudo durante a pandemia, que pode ampliar as desigualdades.

De acordo com Richard Pae Kim, Secretário Especial de Programas, Pesquisas e Gestão Estratégica do Conselho Nacional de Justiça, “os números ainda preocupam, a despeito do estatuto estar completando 30 anos”.

“O quadro de omissão já afeta duas gerações de crianças e adolescentes”

Para conhecer mais sobre os avanços e os desafios para meninas e meninos no Brasil, acesse o relatório “30 anos da Convenção sobre os direitos da criança”, preparado pelo Unicef, em 2019.

O protagonismo de crianças e adolescentes

Além de serem consideradas em todas as decisões e beneficiárias de boas práticas previstas por lei, crianças e adolescentes podem e devem fazer parte da solução. Segundo Ignacio Ybáñez, embaixador da União Europeia no Brasil, adultos responsáveis devem “trabalhar juntos para que as vozes de crianças e adolescentes sejam ouvidas e amplificadas”.

Yusra Mardini, Malala Youzafzai, Greta Thunberg. Conheça no vídeo a seguir, produzido pelo Unicef, meninas e meninos que estiveram à frente de grandes mudanças na sociedade, defendendo seus direitos por educação, dando visibilidade à questão de refugiados e migrantes, e lutando contra a violência e a favor do meio ambiente.

Além de recorrer a Conselhos Tutelares, às Polícias Civil e Militar e ao Ministério Público, denúncias de casos de maus-tratos e negligência a crianças e adolescentes podem também ser noticiadas pelo disque-denúncia:

  • Disque 100 nacional
  • Disque 181 estadual
  • Disque 156 municipal

*Matéria construída a partir do acompanhamento do Congresso Digital 30 anos do ECA, organizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), nos dias 13 e 14 de julho.

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