Como está a caderneta de vacinação do seu filho? No Brasil, surtos de doenças evitáveis com a imunização adequada, como o surto de sarampo em três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Amapá) e o surto global de hepatite, que atingiu crianças nos últimos meses, acendem um alerta em relação à saúde infantil.
Em apenas três anos, a cobertura de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (Tríplice Viral D1) no Brasil caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49%, em 2021. A cobertura da vacinação contra poliomielite também caiu no mesmo período: de 84,2% para 67,7%, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgados em abril.
Percebidas com maior intensidade desde 2016, as taxas de vacinação passam pelo maior retrocesso contínuo a nível global, segundo o Unicef. Os motivos? Além da pandemia de covid-19, a disseminação de inverdades sobre a eficácia das vacinas, a percepção da população da não necessidade de vacinar já que algumas doenças não estão presentes no seu meio de convívio e manifestações anti vacinas que acabam gerando dúvida e criando desconfiança na população são algumas causas relatadas pelo Dr. Pedro Cavalcante, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Medicina de Família. Pesquisadores da Revista Fapesp também relatam problemas com o sistema informatizado de registro de vacinação, ainda em 2018.
O risco de retorno da poliomielite
A poliomielite é uma doença infectocontagiosa aguda, transmissível de forma fecal-oral, que pode provocar sintomas como os de um resfriado comum a problemas graves no sistema nervoso, como paralisia irreversível, principalmente em crianças com menos de cinco anos de idade.
O Brasil não detecta casos desde 1990, recebendo em 1994 uma certificação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) de área livre de circulação do poliovírus (PVS). No entanto, desde 2015 tem sido detectada uma progressiva queda das coberturas vacinais para poliomielite, menores que 95%, podendo levar à formação de grupos de pessoas não vacinadas, com riscos de sequelas graves ou até mesmo morte.
Segundo a Fiocruz, a faixa vacinal para combater a poliomielite deve ficar a partir de 80%. Para efeitos de comparação, a vacinação contra a pólio chegou a 98,3% em crianças de até um ano em 2016, enquanto, em 2021, apenas 69,9% das crianças na mesma faixa etária foram vacinadas, os menores números em cinco anos. Amapá (44,2%), Roraima (50%) e Rio de Janeiro (53,9%) são os estados com pior cobertura vacinal da poliomielite no país.
Com o risco de retorno da doença, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação (de 8 de julho a 9 de setembro) busca alcançar cobertura vacinal igual ou maior que 95%, na faixa etária de um a cinco anos de idade, além de reduzir o número de não vacinados de crianças e adolescentes menores de 15 anos. O Ministério da Saúde espera vacinar aproximadamente 14 milhões de crianças.
E o surto de varíola dos macacos?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a varíola dos macacos uma “Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional” (ESPII) desde julho, mas as chances da doença se tornar pandêmica são consideradas baixas: como a transmissão é realizada através do contato com animais, humanos ou materiais contaminados, é mais difícil do vírus ser transmitido quando comparado ao Sars-Cov-2, que é transmitido por via respiratória. Em coletiva realizada nesta terça-feira (26), a OMS declarou que o Brasil possui uma “situação preocupante” com a doença, devido a uma alta significativa de casos e poucas possibilidades de testagem.
De acordo com relatório divulgado pela OMS no dia 10, o Brasil teve alta de 190,7% no número de casos da doença no Brasil entre julho e agosto. Dados do Ministério da Saúde atualizados até a noite do dia 17 de agosto apontam que o Brasil é o terceiro país com maior número de casos positivos de varíola dos macacos.
Apesar do crescimento do número de casos (o total de casos em 18 de agosto era de 3.450), o Ministério da Saúde reportou 42 casos em crianças e adolescentes de 0 a 17 anos, o que equivale a apenas 1,9% dos casos até o dia 6 deste mês, enquanto homens de 30 a 39 anos respondem por 45,7% das vítimas. Mas “como a maioria das doenças infectocontagiosas em crianças menores de cinco anos, o risco de desenvolver a forma grave é sempre maior, devido ao sistema imunológico da criança ainda estar em formação”, explica o Dr. Pedro Cavalcante. Além disso, o pediatra relata que profissionais de saúde e educadores estão sendo treinados no município de São Paulo para identificar os sintomas da varíola do macaco, diminuindo o risco de contaminação caso algum aluno ou paciente apresente sintomas.
* Com informações do Ministério da Saúde, Revista Fapesp e Unicef.
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