Um caso suspeito de poliomielite em uma criança de três anos na cidade de Santo Antônio do Tauá, no Pará, acendeu um alerta na última semana. O Ministério da Saúde esclareceu, na sexta-feira (7), que o caso é de Paralisia Flácida Aguda (PFA) e não configura poliomielite, informando que a criança se recupera bem e não precisou ser internada. O Brasil segue sem casos confirmados de poliomielite desde 1989, porém a baixa cobertura vacinal ameaça um retorno da doença, que pode causar sequelas graves, como paralisia, ou até mesmo matar. Segundo levantamento realizado pelo Lunetas no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, entre janeiro e agosto de 2022, foram aplicadas 1.170.138 doses a menos de vacinas contra a poliomielite comparado ao mesmo período em 2021.
Entre janeiro e agosto de 2021, o país aplicou 6.679.071 doses de vacinas contra a poliomielite no país. No mesmo período em 2022, foram 5.508.933 doses, mais de 1,1 milhão a menos.
“O Brasil sempre foi exemplo de vacinação e sempre tivemos uma cobertura vacinal muito alta contra a pólio e outras doenças imunopreviníveis até poucos anos atrás. Com movimentos antivacina e fake news, isso foi se perdendo durante a pandemia e não tem por que a gente deixar essa doença voltar a circular no nosso meio”, conta a médica alergista Clarissa Morais Busatto Gerhardt, membra do Departamento Científico de Imunização da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia). Segundo dados da OMS, em meados dos anos 1980, a doença causava paralisia em quase 100 crianças diariamente; hoje, mesmo estando erradicada nas Américas, colocou Nova York em estado de emergência no início de setembro após o vírus ter sido encontrado em esgotos da cidade. Vale reforçar que a doença não tem tratamento: a prevenção é feita unicamente por meio da vacinação.
“Um caso de poliomielite confirmado pode colocar em risco toda uma população”
Explicando a poliomielite
Também chamada de pólio ou paralisia infantil, a poliomielite é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, podendo ser transmitida por via fecal-oral, com o contato direto com fezes de pessoas contaminadas, ou por via oral-oral, por meio de gotículas de secreções ao falar. Além da vacinação, combater a transmissão do poliovírus também passa por políticas públicas que ofereçam saneamento básico e possibilitem higiene pessoal digna para todas as pessoas.
Sintomas
A doença pode causar febre, mal-estar, dor de cabeça, de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, prisão de ventre, espasmos, rigidez na nuca e até meningite. Nas formas mais graves, é possível apresentar quadros de paralisia nos membros inferiores (flacidez muscular).
Tratamento e sequelas
A doença não possui tratamento específico, fazendo com que casos que envolvem paralisia precisem de sessões de fisioterapia para melhorar a qualidade de vida do paciente. Também podem ser prescritos medicamentos para aliviar dores musculares e nas articulações. Entre as sequelas, as principais são problemas e dores nas articulações, osteoporose, pé torto, crescimento diferente das pernas, paralisia nas pernas, em músculos da fala e deglutição, dificuldade de falar, atrofia muscular e hipersensibilidade ao toque.
E como funciona a vacinação?
Crianças menores de cinco anos devem ser vacinadas com três doses da injetável Vacina Inativada Poliomielite (VIP) aos dois, quatro e seis meses de idade; e devem receber mais duas doses de reforço com as gotinhas da Vacina Oral Bivalente (VOP).
“É importante todo mundo colocar o calendário vacinal em dia, não só crianças, mas também adultos, gestantes, idosos e imunodeprimidos. Essas doenças evitáveis com vacinação podem causar sequelas e levar a óbitos, e não queremos isso para as crianças se temos a chance de prevenção. Precisamos conscientizar as famílias, explicando os benefícios da vacinação e da segurança das vacinas”, conta a Dra. Clarissa. Segundo pesquisadores da Fiocruz, o Brasil não cumpre a meta de 95% do público-alvo desde 2015, patamar necessário para que a população seja considerada protegida contra a doença.
“O risco que corremos é alto da poliomielite voltar a circular e se propagar como há 30 anos atrás”
* Com informações de Ministério da Saúde, Biblioteca Virtual em Saúde e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
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