Que a brincadeira é imprescindível na vida de uma criança, todo mundo já sabe. Mas afinal, quais os verdadeiros impactos – cognitivos, emocionais e afetivos – do brincar no desenvolvimento infantil?
O nosso parceiro Tempojunto fez um compilado de entrevistas sobre o tema, publicadas ao longo de 2016. São especialistas, pesquisadores da infância, cineastas, pedagogos e profissionais da área que já passaram também pelo Lunetas , e respondem, com a certeza de quem vê os resultados de perto diariamente, qual é a influência de uma rotina de brincadeira e ludicidade para os pequenos.
1. Álvaro Leite, pediatra, professor titular da Universidade do Ceará e coordenador do Instituto da Primeira Infância
Álvaro explica que a brincadeira tem dois papéis importantes na relação de apego entre pais e filhos. Primeiro porque o brincar é um dos veículos de comunicação da criança com o adulto, e quando se mostra disponível para a brincadeira, o adulto “diz” à criança que ele se importa, que ele está atento a ela, fortalecendo os vínculos positivos. Uma segunda função da brincadeira é auxiliar pediatras, psicólogos e especialistas a entender a relação de vínculo afetivo que há entre um adulto e um bebê ou uma criança que estejam atendendo e observando. Bem como o grau de segurança, amor próprio e autonomia da criança. Por exemplo, o tempo que a criança “se solta” dos pais num ambiente estranho para brincar, se ela se volta para os pais no sentido de garantir a aprovação deles ao que ela está fazendo/brincando e a qualidade da brincadeira (se é saudável, construtiva ou se é muito desorganizada, desestruturada). Leia a entrevista completa.
2. Estela Renner, diretora do Filme “O começo da Vida”, sobre o desenvolvimento das crianças nos primeiros mil dias
Olhar de verdade para as crianças na primeira infância e entender a importância do amor e dedicação no começo da vida é a receita para uma sociedade melhor. “Quando você dá atenção ao começo da história, ela pode mudar por inteiro”, defende Estela, diretora do documentário “O Começo da Vida”.
3. Tânia Fortuna, pedagoga, coordenadora do projeto “O que é a Brincadeira”, da UFRJ e especialista em brinquedos
“Um brinquedo, uma brincadeira, um jogo, é tanto melhor quanto mais engendra mistério e oportuniza a ação (física ou mental). Assim, as condições em que é possível brincar são aquelas em que o indivíduo que brinca é sujeito da brincadeira, e não mero espectador, passivo, como também é provocado, desafiado”, explica Tânia ao iniciar nossa entrevista.
“Brinquedo é tudo aquilo que provoca a ação e interação da criança”
A rigor, nenhum brinquedo ou jogo pode ter este nome sem ação de quem brinca, ou seja sem a brincadeira acontecer efetivamente.” Leia a entrevista completa.
4. Diego Adame, coordenador da Fundação Lego
Brincar é uma atividade que provoca um estado lúdico da mente. Por conseguinte, aprendizagem por meio do brincar é o processo de aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes neste estado lúdico. “É a maneira mais surpreendente e criativa de aprendizagem”, explica Diego. Leia a entrevista completa.
5. Bruno Garcia, ator e diretor da peça “O Livro de Tatiana”, sobre a descoberta da adolescência
“A brincadeira é algo que deveria ser eterno”, defende Bruno. Como ator, ele teve oportunidade de acompanhar o público infantil durante seus primeiros trabalhos, ainda criança. Depois mais jovem, com as peças “Mogli” e “Ver Estrelas” (respectivamente de 1992 e 1995), e agora novamente com “O Livro de Tatiana”. Diante dessa experiência, o ator comenta como ele percebe mudanças nas crianças durante estas décadas, ou se somos nós adultos que mudamos nosso jeito de lidar com elas. “É claro que há um amadurecimento delas e o contato com a tecnologia, mas as crianças continuam crianças e antenadas com tudo que nós apresentamos a elas”, conta. Leia a entrevista completa.
“A brincadeira é algo que deveria ser eterno”
6. Flavia Merelas, advogada, especialista em Direito Digital e Direitos Autorais e da Imagem
Aqui, Flávia fala sobre a relação direta que a brincadeira tem, hoje em dia, com os recursos tecnológicos. Ela explica que atualmente a discussão não é mais sobre apresentar ou não a tecnologia para as crianças. Mas quais são os limites e como nós adultos temos que lidar com nosso papel de responsáveis também pela tecnologia mostrada a nossos filhos. Flavia ressalta o fato de que as crianças aprendem por imitação. E se elas nos vêm o tempo todo no celular, computador, tablet, smartphone, terão mais propensão a desejar esses recursos na hora da brincadeira. Leia a entrevista completa.
7. Renata Meirelles, educadora, documentarista e diretora do filme “Território do Brincar”
“A brincadeira para a criança é quando ela se estabelece como ser. Ela e a si mesma na sua potência máxima e o brincar permite que esta conexão consigo e com o mundo aconteça o tempo todo”, afirma Renata. “A criança não brinca para se tornar algo, ela é na brincadeira uma conexão com ela mesma. E para o adulto, ao brincar ele entra em contato com o próprio eu. A brincadeira pode conectar o adulto com sua própria expressão”, afirma.