Substituir o cinza predominante em grandes cidades por áreas mais verdes é uma das estratégias que temos não só para garantir a qualidade do ar que respiramos, mas também para ajudar a regular o clima do nosso planeta.
Para trazer qualidade de vida aos moradores e lidar com a emergência climática, cidades começam a apostar em soluções para que a natureza ocupe mais espaços, públicos e privados. Os parques naturalizados são uma dessas apostas: ao aproveitarem a topografia, os ecossistemas originais e os recursos naturais disponíveis no território (troncos, folhas, sementes, galhos, pedras, água, terra), favorecem a naturalização dos espaços de lazer, o brincar livre das crianças, a convivência entre as famílias e o vínculo com a natureza.
Os brinquedos, mobiliários e instalações são pensados a partir de elementos naturais, encorajando experiências sensoriais e motoras mais desafiadoras, que estimulam a criatividade de crianças com e sem deficiência, de todas as idades, gêneros, classes sociais e etnias. A disposição dos materiais e estruturas nos parques naturalizados são dinâmicas, podem ser mudadas de lugar e ressignificadas, levando em conta as necessidades das crianças e deixando-as livres para inventarem suas próprias brincadeiras.
Os parques naturalizados são áreas multifuncionais, que podem ser implantadas de forma simples e barata, ampliando a rede de áreas verdes urbanas, trazendo às grandes cidades mais espaços de convívio ao ar livre e diminuindo a desigualdade de acesso a equipamentos de lazer de qualidade.
Para conectar as pessoas e aumentar seu engajamento na preservação, planejar esses lugares requer o envolvimento de quem vai usá-los. Eles podem ser criados em espaços como escolas, condomínios, praças, parques, clubes e em terrenos antes abandonados, em um sistema híbrido de compromisso entre a comunidade e a prefeitura.
“Pesquisas apontam que os parques naturalizados representam uma estratégia de sucesso frente ao desafio de oferecer espaços acessíveis às crianças onde seja possível encontrar outras crianças, brincar de forma independente e passar tempo do lado de fora”, comenta a engenheira florestal Bebel Barros, pesquisadora do programa Criança e Natureza. Ela destaca que “esses espaços podem ser reconhecidos como soluções baseadas na natureza, pois proporcionam benefícios ambientais, sociais, econômicos, e ajudam a construir a resiliência e a enfrentar as crises ambientais que estão postas.”
- Saiba mais: Parques naturalizados: paisagens para o brincar
Onde estão os parques naturalizados?
Após a experiência do projeto piloto Fortaleza Mais Verde, voltado à recuperação de espaços degradados e expansão de áreas verdes em Fortaleza (CE), que resultou nos microparques naturalizados José Leon e Seu Zequinha, a prefeitura pretende levar a iniciativa para 40 novas áreas, já mapeadas.
“A construção desses dois microparques ampliou nossa visão para locais abandonados, cheios de lixo que, com criatividade, intervenções rápidas e a baixo custo, podem ganhar uma função”, diz Mariana Gomes, arquiteta e planejadora urbana da prefeitura de Fortaleza.
“Os parques foram montados com a participação ativa das pessoas que irão utilizá-los, em especial das crianças. Elas mostravam que brinquedos fazer e como seguir a partir do que criavam, de como se movimentavam e como usavam os elementos que já estavam ali”, conta Guilherme Blauth, consultor de brincadeiras e espaços naturais que prestou assessoria e treinamento para as equipes da prefeitura.
Outras prefeituras ligadas à Rede Urban95, uma iniciativa da Fundação Bernard Van Leer com apoio do Instituto Cidades Sustentáveis, como Niterói (RJ), Jundiaí (SP) e Caruaru (PE), também devem instalar parques naturalizados em breve, demonstrando o interesse por iniciativas que conjuguem a “renaturalização” de seus territórios com benefícios para as infâncias.
Criança e Natureza O programa Criança e Natureza é uma iniciativa do Instituto Alana para conectar todas as crianças com a natureza, para a saúde e o bem-estar da infância e do planeta.
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