O dia 19 de abril é conhecido como o Dia do Índio. Apesar de haver muito pouco o que se comemorar em relação à temática, se considerarmos a destruição crescente dos territórios habitados pelos povos indígenas, a data pode ser uma boa oportunidade para conhecer um pouco mais da cultura e dos valores dos primeiros habitantes do nosso país, e nos aproximarmos dela.
Então, para celebrar a data e honrar essa cultura, o Lunetas convidou o líder indígena Ailton Krenak e o escritor e professor brasileiro Daniel Munduruku para uma reflexão: o que a infância das crianças indígenas pode ensinar às famílias dos grandes centros urbanos?
Que inspirações e ensinamentos podemos tirar de seu modo de viver, de encarar o mundo e de se relacionar com a natureza? E, principalmente, como aproximar as crianças dessas culturas tão ricas para o entendimento da História e cultura do Brasil?
Confira os depoimentos:
“A comunidade é a primeira referência de afeto da criança indígena”
“Uma criança que nasce num aldeia não tem uma residência particular, ela nasce no seio de um coletivo. Essa experiência real de conviver com um mundo de diferentes idades, principalmente um mundo com os adultos e família por perto, é considerada uma primeira orientação afetiva e emocional para a criança”
“A criança indígena tem liberdade de ser criança integralmente”
“Uma das coisas que certamente faz parte da educação das crianças indígenas é a possibilidade delas serem, sobretudo, crianças. Ela é incitada por meio de jogos e brincadeiras, contações de histórias ou jogos de roda. O jogo coletivo educa o corpo, as histórias educam o espírito. Esse tipo de atividade faz com que as crianças aprendam a ser um sujeito individual em uma comunidade”
“A convivência com a natureza nutre a colaboração com o mundo externo”
“Se observarmos uma criança na aldeia durante seus primeiros cinco anos de vida, ela ficou suja de barro, tomou chuva. Uma criança que pode subir em árvore, que pode levar picada de marimbondo, formiga, está exposta a riscos e isso a ajudará a lidar com o mundo. Ela será capaz de criar e se proteger no mundo. Se você só tem insegurança e medo em relação a tudo que está ao seu entorno, é difícil desenvolver uma atitude colaborativa”
“Nunca se pergunta para uma criança indígena o que ela vai ser quando crescer”
“É uma pergunta retórica, mas implica também em uma concepção de futuro e desenvolvimento e sucesso na vida, e isso às vezes faz com que a criança perca o referencial que ela precisa ter enquanto criança. Ela está formando sua identidade”