“Onde vivem os monstros”, de Maurice Sendak, é o melhor livro infantil de todos os tempos, segundo 177 especialistas de 56 países que formaram uma equipe de jurados da BBC. Não surpreende. O livro foi um marco da literatura infantil de língua inglesa. Além disso, foi traduzido para mais de 20 idiomas, influenciando gerações mundo afora.
Publicado no Brasil primeiro pela CosacNaify, e atualmente pela Companhia das Letrinhas (em pré-venda, com previsão de lançamento em outubro), “Onde vivem os monstros” já virou filme, peça de teatro, ópera e até inspirou uma música da banda Metallica.
Então, por que essa obra que ganhou tanta projeção é a melhor da história? Descubra 6 motivos para esse livro ser tão querido, pela crítica e pelos leitores! Mas, para conhecer a história de Max, o menino que parte em uma viagem ao mundo dos monstros e lá vira rei depois de agir mal com a mãe, é preciso ler com os próprios olhos.
“Onde vivem os monstros” é o melhor livro infantil porque…
- 1.
Antes de tudo, muitos especialistas consideram “Onde vivem os monstros” um “livro ilustrado perfeito”. Sua primeira publicação, em 1963, foi um expoente desse tipo de obra e influenciou toda a geração seguinte de artistas. Isso porque, no livro ilustrado, a palavra, a imagem e a tecnologia – no caso, o livro – estão em diálogo. Além disso, a poética acontece não apenas nas palavras, como num romance tradicional, mas na combinação de todos esses elementos. - 2.
Originalmente escrito em inglês, “Onde vivem os monstros” se disseminou na língua mais falada por não nativos no mundo. Livros nesse idioma têm muito mais oportunidades para leitura e análises em qualquer um dos seis continentes. - 3.
A abordagem da infância em toda a sua complexidade e contradição, sem idealizações, foi bastante inovadora para um livro infantil à época do lançamento. Para visões mais conservadoras da infância, ainda hoje a história sobre o empoderamento da criança em relação ao adulto, com toda a malcriação de Max, é considerada ousada. - 4.
“Onde vivem os monstros” tem muitas camadas. Portanto, cada vez que você ler o livro, pode encontrar algo diferente. Por exemplo, quando Max decide ir embora da ilha dos monstros, pois “ficou sozinho, com vontade de estar em algum lugar onde alguém gostasse dele de verdade”, e os monstros dizem “Oh, por favor, não vá embora… nós vamos comer você… gostamos tanto de você”. Há tantas possibilidades de leitura nessa frase! Ou seja, dá para entender que os monstros queriam devorá-lo, de maneira literal. Mas também pode ser a raiva de Max que quer devorá-lo. Daí, pensamos naquela raiva que extravasamos e vai nos libertando gradualmente, seguida de um sentimento de tristeza, incompreensão e solidão. - 5.
O livro conversa com leitores de diferentes idades, crianças ou adultos. Esse “livro sem idade” é uma tendência da literatura infantil, em que o adulto deixa de ser o centro e a criança “o outro”. Consequentemente, é um livro que não trata o leitor criança de maneira subjugada ou infantilizada, como se ele fosse inferior ao leitor adulto. Nesse sentido, está alinhado à visão da infância contemporânea na sociedade ocidental, que não a enxerga como uma etapa a se superar. - 6.
“Onde vivem os monstros” apareceu na lista de 35 jurados, sendo 20 deles europeus e 10 norte-americanos. Ou seja, apenas cinco jurados que votaram no livro são de países de outros continentes. E, pior, apenas dois desses países nunca foram colonizados pela Europa. Por isso, como os europeus e norte-americanos formam um grupo de grande influência cultural mundial, é de se esperar que o livro eleito seja desses lugares.
Prêmio tem tempo e lugar
Como você pode ter percebido, a leitura de cada obra literária depende do tempo e do lugar. Do mesmo modo, qualquer prêmio que diga que uma obra é “a melhor de todos os tempos” tem o marcador da época e da sociedade daquela premiação.
Mesmo assim, “Onde vivem os monstros” traz diversas características que dialogam com visões contemporâneas de livro ilustrado e de infância. E isso tem grande impacto em diferentes partes do mundo.
E para você, qual o melhor livro infantil de todos os tempos?
* Renata Nakano é idealizadora e diretora-geral do Clube de Leitura Quindim. É mestre em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, possui MBA em Gestão de Negócios pelo IBMEC, e bacharel em Comunicação Social pela UAM. Há 20 anos no mercado editorial, seu foco é literatura infantil. Como pesquisadora, recebeu bolsa da International Youth Library em Munique, biblioteca de maior acervo de LIJ do mundo. Além disso, editou relevantes obras teóricas da crítica internacional no Brasil.
** Este texto é de exclusiva responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Lunetas.