“A COP vem para solucionar problemas ambientais que afetam os países, como o desmatamento e as queimadas“, afirma Esmael, 12, morador do bairro do Jurunas, um dos mais populosos de Belém. Onde ele vive é muito comum ter alagamento. “Qualquer chuvinha já alaga tudo. Minha família sofre porque nossa rua enche e ficamos impossibilitados de sair com os bueiros entupidos”, conta.
A cidade, capital do estado do Pará, será a sede da COP 30, em 2025, quando países se reunirão para discutir a emergência climática em curso que, segundo o Unicef, é uma crise dos direitos das crianças.
Enquanto percebem a movimentação de obras e eventos perto de suas casas, crianças e adolescentes periféricos como Esmael precisaram da iniciativa popular para saber mais sobre o encontro mundial. Em fevereiro, ele participou com mais de 400 pessoas ligadas a associações e coletivos da “COP das Baixadas”. O evento alternativo buscou aproximar as questões climáticas dos problemas que afetam diretamente a rotina de quem mora na periferia da cidade e os moradores se comprometeram a inserir a educação climática e ambiental no dia a dia da comunidade.
Tão perto, mas tão longe da COP
Na Vila da Barca, uma das maiores comunidades de palafitas da América Latina, a educadora popular Suane Barreirinhas questiona quem vai ter acesso a essa “janela de oportunidades”, como definiu o prefeito da cidade.
Para ela, que ensina sobre as mudanças climáticas para crianças e adolescentes da comunidade, “Belém já está sendo explorada e o grande evento já está acontecendo”. Mas, “falar de mudanças climáticas ainda parece elitista. As periferias estão se adaptando há muito tempo para as consequências da crise ambiental e os moradores precisam ser ouvidos”, diz. “Aqui, as crianças estão em cima da maré, nas palafitas, e sabem que está alagando mais. Isso afeta o território deles.”
JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, reforça a importância de “preparar e envolver essas populações nos debates, afinal são elas que estão na ponta da crise climática e da sua solução”.
O que esperar da COP 30 para a infância?
É a primeira vez que uma cidade dentro da Amazônia será sede de um evento de importância global sobre as mudanças climáticas, que afetam sobretudo 1 bilhão de crianças que estão crescendo em países mais poluídos e expostos a eventos climáticos extremos. De acordo com a Unicef, 8,6 milhões de meninos e meninas sofrem com falta de água e 7,3 milhões com riscos de enchentes.
Segundo Amaral, a expectativa é de que a revisão das metas dos países para alcançar um clima seguro até 2030 traga as infâncias para o centro do debate, principalmente entre as pautas de educação, que devem estar em evidência, inclusive com um Pavilhão da Educação. “Espera-se uma agenda robusta e perene de discussões sobre educação climática que ajude na resiliência do clima e na proteção das crianças.”
Com os olhos voltados para a Amazônia, o menino Esmael aproveita para deixar um recado aos representantes que estarão na sua cidade daqui a dois anos: “Vejo a Amazônia como um mundo cheio de coisas importantes, mas tem que ser cuidada. Então, espero que eles venham se unir para juntos solucionarem não só os problemas climáticos, mas em especial a educação e a saúde das crianças.”
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O que é a COP?
A Conferência das Partes (COP) é uma reunião anual entre vários países membros da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que avaliam a situação climática do planeta e propõem medidas capazes de solucionar ou conter os avanços da crise.