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Notícias da pandemia: como decidir o que as crianças devem saber?

Imagem de pai e filho estão sentados em um campo aberto, olhando para o horizonte. O menino, de mais ou menos 10 anos, está envolto em uma manta. O pai está de bermuda curta e camisa preta longa, tem cabelos claros e pouco grisalhos.

Ouvi recentemente a história de uma criança pequena cuja mãe achava importante ela acompanhar as notícias na televisão para saber o que está acontecendo. Fiquei com um desconforto estranho, pensando sobre como cada família escolhe – e isso, logicamente, deve ser escolhido por cada família – o modo de falar sobre determinado assunto com os filhos, principalmente quando o assunto é envolve notícias sobre a pandemia da Covid-19.

O que faz alguém achar necessário para uma criança de quatro anos ver que valas foram cavadas em um cemitério para receber dezenas de mortos? O que me conforta, de certa forma, é que a crueza de uma cena dessas pode ser vista com a cortina da fantasia, que se interpõe entre uma criança pequena e a aridez de muitos fatos cotidianos. Ainda assim, penso nos pais. Tento absolutamente não julgar, mas entender. Como então decidir o que os filhos devem saber?

Em um mundo desprovido do sentimento do sagrado das coisas, da natureza e do ser humano, os acontecimentos podem realmente se tornar banais. Mas a frase “eu tenho que dizer a verdade para eles” precisa ser melhor compreendida. 

Qual é a verdade do mundo para uma criança pequena? A confiança na vida.

Podemos observar como uma criança pequena confia e acredita nas coisas. A verdade, para ela, é tudo o que acontece, tudo que seus pais lhe contam, todas as histórias que ouve. O sapo que virou príncipe, a moça que foi acordada do sono eterno com um beijo, a carruagem que virou abóbora. Essas imagens alimentam a criança positivamente. Eu não preciso explicar para ela que uma carruagem é feita de ferragens e a abóbora é um fruto que nasce no chão. Não é esse tipo de informação que a criança precisa ouvir, por um simples motivo: ela vai descobrir no tempo certo que um sapo não vira príncipe na vida real.

Uma criança de três anos não tem a mesma percepção e consciência de um adolescente de 17 anos. Ela não precisa ainda ter uma crítica aos eventos malucos desse mundo. Mas ela pode, sim, receber algo que traga consistência para o seu desenvolvimento como ser humano, que prepare sua confiança, sua bondade, sua generosidade. Isso dificilmente se aprende vendo as notícias na televisão.

Tudo tem o seu tempo, mas a infância passa logo. Por isso, devemos preservar a criança pequena da realidade crua do mundo, como as muitas mortes desta triste pandemia, e dar a ela, no lugar, as brincadeiras e a fantasia que trarão sabedoria, confiança e equilíbrio na vida jovem e adulta.

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