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Como nasce um pai? 15 livros sobre paternidade

Livros sobre paternidade: Homem adulto segurando afetivamente a cabeça de um bebê. Os dois apertam os olhos, sorrindo e olhando um para o outro. A foto é preto e branca, com grafismos coloridos verdes, azuis e cor-de-rosa.

Já ouviu aquela história de que “quando nasce um bebê, nasce uma mãe”? E como nasce um pai? No Lunetas, falamos com frequência sobre a construção dos vínculos entre pais e filhos, e podemos observar essa relação de diversas perspectivas.

Um dos pontos a se considerar é que a construção da maternidade é física – há uma barriga que cresce, hormônios que se agitam e uma nova corporalidade que se manifesta. Para o homem, a paternidade acontece de outras formas, e não acompanha um corpo que se transforma, mas o aspecto emocional que se acomoda à chegada de uma nova vida.

Para celebrar a paternidade sensível e acolher as transformações que perpassam a construção do “tornar-se pai”, selecionamos algumas leituras de interesse sobre o assunto. Livros que falam sobre o que é ser pai no século 21, em que cada vez mais emerge a potencialidade da chamada “masculinidade positiva“. Uma libertação dos estereótipos do homem provedor, que não demonstra emoções, para celebrar a sensibilidade do masculino.

Como toda lista, é um ponto de partida, longe de ser definitivo. Tem ficção, não ficção, relato autobiográfico, quadrinho e outros gêneros sobre paternidades diversas, com focos também diversos – racialidade, gênero, limitações específicas, adoção, entre muitas outras. São livros que mostram como a paternidade – assim como a maternidade – não precisa e nem pode ser heróica, mas presente e amorosa.

Para isso, a ficção também nos lembra sobre os pais omissos e ausentes, e as marcas que o abandono pode deixar na vida de um indivíduo. Confira as dicas, e conheça esses livros que acolhem as múltiplas paternidades que podem existir, considerando que a figura do pai pode ser representada por qualquer pessoa que exerça o papel de referência em cuidado e afetividade para a criança.

O jornalista paulistano Luiz Fernando Vianna é pai de um garoto com autismo. Escrito em primeira pessoa, o livro é uma espécie de diário hiperrealista de um relacionamento pai e filho do ponto de vista do transtorno: como a relação dos dois nasce, cresce e se desenvolve a cada dia sob a luz – e, muitas vezes, sob a sombra também – da condição do filho. O leitor acompanha uma jornada real, permeada por tentativas e erros, inseguranças e medos. Não por acaso, Luiz Fernando escolheu como epígrafe do livro os versos de Paulinho da Viola: “as coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”. Leia a entrevista que fizemos com o autor e saiba mais sobre o livro.

Neste livro, a argentina Malvina Muszkat, psicanalista e especialista em mediação de conflitos, reflete sobre o que chama de “assimetrias na formação de identidade de homens e mulheres”. Ela acredita ser possível construir novas masculinidades – e consequentemente, de paternidade – a partir do diálogo e da afetividade. “Defendo a tese de que o masculino em nossa cultura é tão subordinado quanto o feminino, embora isso não seja reconhecido como imaginário coletivo”, diz.

O ator e diretor, pai de Maria Antônia e João Vicente, faz neste livro um convite à alteridade. Conforme o título sugere, ele avalia os desafios da vida em sociedade a partir da perspectiva da negritude. Em relatos pessoais, ele compartilha reflexões sobre família, gênero, empoderamento e discriminação, passando por paternidade e parentalidade. “Ao rejeitar qualquer tipo de segregação ou radicalismos, Lázaro nos fala da importância do diálogo”, diz a sinopse.

Leia um trecho de “Na minha pele”

Esta viagem que começa aqui só é possível porque redescobri um mundo que é meu, mas que não pertence só a mim. Ele é parte de uma busca que todos nós devemos fazer para compreendermos quem somos. Por isso, sempre que eu falar de mim neste livro, estarei também falando sobre você. Ou, ao menos, sobre essa busca saudável por identidades. Os momentos que soarem mais autobiográficos estão aqui apenas para servir de fio condutor da viagem que fiz para destrinchar esse tema. Se posso fazer alguma sugestão, aconselho que abra este livro não para encontrar minha biografia, mas para ouvir as vozes dos que estão ao meu lado. Estas páginas foram elaboradas por várias vozes. É uma narrativa capitaneada por mim, mas que conta com a contribuição de uma série de personagens — alguns famosos e muitos anônimos —, que se reúne aqui para construir um caudaloso fluxo de informações, sentimentos e reflexões. São pessoas de diferentes idades, profissões, gênero e religiões.

A partir de uma carta escrita para o filho em 2014, em meio às discussões sobre discriminação racial nos Estados Unidos, o jornalista americano Ta-Nehisi Coates reflete sobre o que é habitar um corpo negro na América. No livro, ele aproxima as grandes questões socioculturais e históricas da humanidade, como o racismo, a desigualdade social e a intolerância com a vida do filho, como pais preocupados que antecipam as angústias futuras dos filhos. Um relato autobiográfico que se revela uma declaração de amor paterno. “Como podemos avaliar de forma honesta a história e, ao mesmo tempo, nos libertar do fardo que ela representa?”, questiona.

“Bebegrafia” não é apenas um livro ilustrado sobre tornar-se um pai ou uma mãe. É uma maneira de eternizar esse momento, congelar no tempo algo muito delicado e fugaz. “O ‘Bebegrafia’ conta em primeira pessoa como foi nossa experiência com nossos bebês. Não somente “como demos conta do recado” mas também sobre o que ‘não demos conta’. Sem julgamentos. A lente do humor não permite isso. Não é mais um manual, um discurso absoluto, pelo contrário. É um convite aos novos pais e mães se inspirarem com o novo, o inédito, o inusitado”, explicam os autores.

Divulgação/Timo

Livro “Bebegrafia”, de Rodrigo Bueno e Victor Farat.

Blogueiro e porta-voz da paternidade ativa, Marcos Piangers, de Florianópolis, é autor de dois livros sobre o assunto, “Papai é pop” (versões 1, 2 e em quadrinhos) e “O poder do eu te amo”. No primeiro, ele defende a presença amorosa como o único elemento que não pode faltar na vida de uma criança. Já o segundo é uma celebração da potência do afeto. Fenômeno na internet, os vídeos de Piangers falam sobre família, parentalidade e principalmente sobre vínculos afetivos, chegando a 50 milhões de visualizações.

Giselle Sauer

Marcos Piangers, e as filhas Aurora e Anita. “O machismo nos afasta da mágica que é cuidar dos filhos”.

Pai de Dante e Gael, Thiago Queiroz é educador parental, autor do Paizinho Vírgula e cocriador do Tricô de Pais, primeiro podcast com foco em paternidade. Neste livro, ele conta como a paternidade e a aplicação do conceito da “disciplina positiva” no dia a dia construiu sua relação com os filhos, transformou sua própria masculinidade e o fez se reconectar com sua própria referência paterna. “Certo dia, num desses textos que eu escrevi relatando o que eu estava vivendo durante a gestação do Gael, sobre meus medos e pensamentos de como seria criar dois filhos, recebi um comentário que jamais imaginei receber. Era do meu pai. ‘Será que chegou a hora de nos reencontrarmos, filho?'”, escreve.

Mais conhecido como Pedrinho, o publicitário e escritor Pedro Fonseca, de Pernambuco, é pai de Joaquim, Irene, Teresa e João. Neste livro, ele reúne crônicas e cartas que escreveu para os filhos no projeto autoral Do Seu Pai, onde publicou até 2016. “Este é um livro sobre o nascimento de um pai”, diz a sinopse. Com uma linguagem que explora os limites entre a poesia e a dureza do cotidiano, ele narra o mundo para as crianças que futuramente irão lê-lo. “Que o amor que está nessas páginas seja nosso encontro em forma de livro, que nos aproxime, e que possa também ser seu guia, mapa, diário”, escreve.

Pedro Fonseca/pedrinhofonseca.com/doseupai

“O novo, filhos, é o maior inimigo das nossas certezas”, escreve Pedro em um dos textos publicados em “Do seu pai”.

Autobiográfico e misto de sensibilidade com crueza, o livro conta, por meio de quadrinhos, o encontro inesperado de um pai com a condição genética da filha, que nasceu com síndrome de Down. A história acompanha os sentimentos que permeiam a vida de um pai recém-nascido diante do novo: da raiva à rejeição, culminando na construção do amor paterno. Um livro para lidar com o medo da imperfeição e – tanto para quem a vivencia quanto para quem defende a inclusão – aceitar a diferença como parte inevitável de ser humano.

O cultuado escritor norueguês Karl Ove Knausgård ganhou fama mundial com a série de livros “Minha luta”, em que revisita suas próprias memórias e os limites entre ficção e realidade. No primeiro volume, “A morte do pai”, ele volta à sua juventude em busca de reconstruir a trajetória do pai, com quem tinha uma relação distante. “Sensível, Knausgård investiga também o próprio presente: aos 39 anos, pai de três filhos, ele deve se ajustar à rotina em família, trocar fraldas e apartar brigas, tudo isso enquanto tenta escrever seu novo romance, numa luta diária”, conta a sinopse.

Conhecido por seu trato poético com a linguagem em prosa, Carrascoza escreveu três livros em que aborda, direta ou indiretamente, o assunto paternidade. “Caderno de um ausente” (vencedor do prêmio Jabuti 2015), sua abordagem mais específica do tema, trata-se de um romance epistolar, uma longa carta, cheia de afetos e descobertas do mundo, para a filha Beatriz, que acaba de nascer, com medo da possibilidade de não estar por perto quando ela crescer. Na sequência, o segundo volume “Menina escrevendo com pai” traz Beatriz já adulta que responde a carta do pai, narrando a relacionamento entre pai e filha. “A pele da terra” fecha a trilogia, e é narrado por Mateus, irmão de Bia. “Um olhar tríplice sobre os vínculos entre pais e filhos, e sobre como pequenas ações do cotidiano nos marcam para sempre”, adianta a sinopse.

Divulgação

“Trilogia do Adeus”, de João Anzanello Carrascoza.

Prêmio Portugal Telecom, Jabuti e São Paulo de Literatura em 2008, o romance autobiográfico fala sobre a relação do autor com o filho Felipe, que tem síndrome de Down. Com uma linguagem realista e coragem de nomear seus medos de novo pai, o escritor relembra as dificuldades de construir vínculos afetivos com o filho e os desafios internos e externos que vivenciou com a chegada da paternidade. O livro já foi traduzido para oito idiomas, e ganhou adaptação no teatro e no cinema, lançadas em 2011 e em 2016, respectivamente.

Definido pelo jornal francês como “um Kafka português”, o livro acompanha a busca da jovem Hanna, de 14 anos, pelo pai, Marius, que se esconde do passado. Portadora de uma doença congênita, Hanna leva consigo uma caixa com perguntas que ajudam a entender o que é o ser humano. A partir de uma história construída a partir da empatia pelos homens comuns, o leitor acompanha a fragilidade das relações e reflete sobre o impacto da ausência do pai.

Este livro-reportagem de Lícia Loltran é um convite à desconstrução de estereótipos sobre os relacionamentos homoafetivos. Há, na sociedade, uma distorção quanto ao público e o privado dessas relações e uma tendência em limitá-las, apenas, ao campo do sexo e da intimidade (privado) e não ao da afetividade, da busca pela felicidade e do respeito à diversidade. Essas histórias também destacam as dificuldades de casais homoafetivos na legalização de suas uniões, nas adoções e, principalmente, na superação de preconceitos.

Neste livro sobre diversas experiências de parentalidades atípicas, o autor Andrew Solomon fala sobre as chamadas “identidades horizontais” (ou seja, divergentes dos padrões familiares e sociais predeterminados). O livro acompanha as histórias reais de famílias com filhos com síndrome de Down, autistas, prodígios, transexuais, esquizofrênicos, crianças com deficiências simples ou múltiplas, e crianças cuja concepção foi fruto de um estupro. Crianças, enfim, que vieram “diferentes” e desafiaram o afeto dos pais.

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