Quem convive com crianças provavelmente já passou pela mesma situação do piloto no livro “O pequeno príncipe”, que recebeu o pedido para desenhar um carneirinho e, depois de muitas tentativas, nada agradou. Ou foi uma criança que desistiu de uma carreira de pintor porque confundiam seu desenho de uma jiboia engolindo uma fera com um chapéu.
Mas, mesmo que seja desenhando só bonecos de palitinho, o mais importante é se divertir com as crianças, diz Clara Gavilan, mãe de Lucas, 7, e Alice, 5. Ela é ilustradora, criadora e pesquisadora de livros ilustrados e cresceu em uma família que incentivava a expressão artística desde cedo.
Brincar de desenhar
“Tinha uma brincadeira que aprendi com meu pai e faço até hoje: ele desenhava um rabisco no papel e, por fim, as crianças – eu, minha irmã e meus primos –, íamos completando até formar um desenho. Eu adorava”, lembra. Atualmente, Clara segue conversando com a criança que foi, diz, e usa muito do repertório e das lembranças em seus livros.
Foi de uma brincadeira junto de seu filho Lucas que nasceu o livro “Sua vez!”: um ia fazendo intervenções no desenho do outro. Assim, um monstrinho desenhado pela Clara ganhava uma saia de tutu feita pelo Lucas. Da brincadeira para a mesa de trabalho, Clara não queria perder a espontaneidade. Então, usou os mesmos materiais: papel sulfite e lápis de cor jumbo.
Lápis e papel na mão: 3 livros para brincar de desenhar
Para espantar a vergonha, a autocrítica e até a preguiça dos adultos quando surge o pedido dos pequenos ou mesmo como um convite a passar um tempo juntos, o Lunetas selecionou livros para aprender a desenhar (do seu jeito!). É só pegar papel e lápis e se entregar à diversão com as crianças.
Para se divertir não é preciso muito: dois lápis, folhas de sulfite e duas pessoas dispostas a brincar. Podem ser mais pessoas e mais lápis também! O importante é aceitar o convite do livro: soltar a criatividade e a imaginação, sem se preocupar se o desenho está “bonito”.
“Todo mundo sabe desenhar, o que está faltando é se divertir com os desenhos” – Clara Gavilan
A autora conta que o livro surgiu depois de uma amiga lhe confidenciar que tinha muita dificuldade em desenhar o que o filho pedia. Assim, teve a ideia de dividir os desenhos em etapas em um passo a passo para facilitar. O livro traz categorias de desenhos como animais, humanos, plantas, comidas, construções e vida cotidiana. É um manual completo e divertido, para crianças e adultos.
“Quanto mais confortável e divertido for, melhor fica o desenho” – Chika Miyata
Angela é especialista em desenhos que enfatizam formas simples e arredondadas e fazem parte da cultura kawaii (lê-se cauaí), palavra em japonês que pode ser traduzida como “adorável”. Ela traz um passo a passo para desenhar diversas fofurices, de animais a comidas, e mostra que até uma construção pode ser fofa.
“Ilustrações fofas sempre deixam as pessoas felizes. Mesmo que seja só um rabisquinho no guardanapo de alguém, não tem erro: anima o dia” – Angela Nguyen
Um desenho, muitos benefícios
Um estudo da Universidade de Surrey, na Inglaterra, acompanhou 9 mil crianças entre 2 e 4 anos até a adolescência. Na idade pré-escolar, elas precisavam desenhar, dobrar papel e empilhar blocos. Para executar essas tarefas são necessárias habilidades motoras finas para a manipulação de objetos com as mãos. Atividades como essas “muitas vezes podem ser percebidas simplesmente como ‘brincadeira’ por pais, cuidadores e educadores”, diz a autora Angelica Ronald. No entanto, o estudo sugere que o desenvolvimento de tais habilidades “faz parte do caminho que leva a resultados educacionais e comportamentais mais tarde”. Assim, mais habilidades estavam associadas a notas mais altas em exames avaliativos aos 16 anos e menos habilidades estavam associadas a mais problemas comportamentais e mais sintomas de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) durante a escola primária e secundária.