Chapeuzinho Vermelho é a detetive contratada para desvendar o mistério de um corpo que perdeu a sua sombra na Fabulândia, uma rede social onde todos queriam estar para conversar, encontrar amigos, buscar visualizações e se divertir.
Mas, no mundo digital, tudo o que se faz – as descobertas, interações e escolhas on-line – contribui para deixar os mecanismos mais eficientes. Assim, eles passam a entregar conteúdos atrativos e a manter as pessoas conectadas por mais tempo. Sem contar a vulnerabilidade a que nos sujeitamos à medida que as redes buscam transformar informações e comportamentos em mercadoria.
“Todas as informações pessoais produzem sombras, que se alimentam e crescem toda vez que alguém conta algo de si para a plataforma”, narra o livro “Detetive Chapeuzinho e o mistério da sombra digital”. “Essas sombras ganham vida própria e facilmente são capturadas. As pessoas estão tão ocupadas e distraídas que ninguém nem se dá conta.”
Com elementos do mundo virtual e personagens conhecidos das crianças pelos contos de fadas, a narrativa traz um mistério que aconteceu na Fabulândia, a rede social que promete a quem entrar uma experiência fabulosa. Criado a partir da escuta de crianças em oficinas, aborda conceitos como, por exemplo, comportamento e privacidade digitais. Além disso, propõe uma reflexão sobre o uso dos aparelhos eletrônicos e das redes sociais de maneira saudável e mais segura. Já está disponível para download gratuitamente e exemplares físicos serão lançados pela Companhia das Letrinhas.
“A intenção com essas conversas é desenvolver o letramento digital entre os mais novos. Assim, podem ir ganhando um pouco mais de consciência sobre os riscos e perigos das telas, em especial, das redes sociais”, diz Pedro Markun, um dos autores do livro.
Uma passagem emblemática é o termo de uso que é preciso assinar para entrar na Fabulândia. São tantas concessões que o leitor vai pensar duas vezes antes de aceitar as próximas letras miúdas de qualquer contrato.
A literatura como aliada para afastar as crianças do celular
Para criar uma experiência on-line responsável e consciente, bem como encontrar maneiras saudáveis de nos relacionar com a tecnologia, o Lunetas selecionou livros infantojuvenis que abordam diversos aspectos do uso excessivo das telas e suas consequências.
Afinal, como acredita Markun, “na leitura compartilhada, adultos, crianças e adolescentes podem, juntos, falar sobre hábitos do mundo digital, privacidade, os espelhos e a relação distorcida de imagem que temos nas redes sociais, por exemplo”.
“No mundo virtual, não há espaço para imperfeições. Há apenas pessoas que vivem em um mundo perfeito”, diz a pediatra Ana Escobar em seu livro “Meu filho tá online demais, e agora?” (Manole)
Por fim, o uso excessivo de telas pode trazer uma série de consequências para a saúde física, mental e social. Então, reprogramar a infância para uma vida fora das telas é importante também porque dificuldades, dias tristes e frustração são naturais e saudáveis para as crianças.
Conheça outros livros que falam da relação com a tecnologia
Desde a capa e logo nas primeiras páginas, Ana já aparece capturada pelo celular nesta narrativa ficcional criada por duas autoras vietnamitas. Embora os adultos da família peçam para que Ana passe menos tempo no celular, eles mesmos não largam o aparelho. A mudança vem quando todos sofrem pelas consequências do uso excessivo e seguem uma recomendação médica: menos tempo de tela.
Cecília um dia acordou com a cabeça quadrada. No consultório, outras crianças com o mesmo problema assustaram o médico: era uma epidemia. Mas ele não tinha ideia do que fazer. Sabida era a vovó da menina porque logo sugeriu que ela deixasse o tablet, o celular e a televisão para ir lá fora se divertir com brincadeiras de quando não existia nada disso.
A simpática galinha Pipoca descobriu que poderia fazer muitos amigos ao encontrar um celular no estábulo da fazenda Fricotico. Era “olá” para a tela o dia inteiro e a noite também. Assim, foi deixando de lado os velhos amigos que estavam por perto. Empolgada com as novas amizades virtuais, preparou então uma festa para os conhecer e se meteu em uma grande enrascada.
O narrador – no caso o próprio livro – tece um diálogo-convite para que o leitor entre em seu mundo, sempre mostrando suas diferenças em comparação ao celular, que nomeia apenas de “ele”. Ao brincar e manusear esta obra, a criança pode (re)descobrir como é gostoso se entregar à imaginação. Por fim, este livro-narrador provocativo lembra a todos nós, caso sofra uma queda em meio às brincadeiras propostas: “Se eu caí no chão, não tem problema, sou forte e muito mais resistente que ele ali. Minha família tem milhares de anos, e ele ali ainda vai ter que esperar um tempão para que seu familiar mais antigo chegue aos 100 anos.”
Este livro trata da valorização da imagem de si. A narrativa desconcertante coloca o leitor em um mundo distópico, que se parece bastante com o real. Nela, acompanhamos então a vida do Senhor Aparecido, um homem muito expressivo que chamava a atenção, desde a infância. Ao descobrir as selfies, se fotografar se torna uma obsessão. Com o tempo, sua expressividade vai esmaecendo e ele paga um preço alto para reconquistá-la. Será que ele consegue?
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