Ilustrações Orádia Porciúncula

Em uma paleta de cores vivas, a narrativa visual criada por Orádia Porciúncula convida os leitores a viver o encantamento de Rafinha pela Unidos da Saudade.

Ilustrações Orádia Porciúncula

É no encontro entre os mais velhos e a infância que o samba mantém a tradição.

Ilustrações Orádia Porciúncula

Quando a ala das baianas passa, o público sente a energia do seu vento ancestral.

Ilustrações Orádia Porciúncula

Mais que samba, as agremiações trazem lições conectadas ao saber ancestral dos povos negros, como a coletividade e a união.

Ilustrações Orádia Porciúncula

A alegria que o samba traz é símbolo de resistência dos negros escravizados, um legado que não deve ser esquecido.

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Livro mostra a cultura da infância nas escolas de samba

Imagem de capa mostra ilustração do livro A menina que queria rodar a baiana. Um fundo verde e o desenho de avó e neta vestidas de baiana.

Um encontro de gerações unido pelo samba. Essa é uma das leituras possíveis para “A menina que queria rodar a baiana”, com texto de Tiago Freitas e ilustrações de Orádia Porciúncula (Cortez). O livro é inspirado em uma história real de avó e neta.

“A Bah está há 20 anos na Escola de Samba Império da Casa Verde, e vive o carnaval todos os dias. Laura queria desfilar junto da avó, na ala das baianas, mas ainda não tinha idade porque era preciso ter, no mínimo, 12 anos ”, conta Freitas, que também é pesquisador de enredo da escola.

No livro, a protagonista Rafinha ouve o batuque da “Escola de Samba Unidos da Saudade” e isso desperta sua curiosidade. Depois de muitos questionamentos da menina, a avó decide, então, levá-la para conferir de perto como é uma escola de samba. Assim, Rafinha se apaixona pelo giro das baianas e decide que quer desfilar nesta ala.

“Diz a lenda que, quando uma baiana gira, a poeira que levanta é de muito afeto, carinho e saudação às senhoras negras de luz que abriram os caminhos do samba em um passado distante”, aponta um trecho da narrativa.

Nos desfiles, a ala das baianas é uma das mais aguardadas. Enquanto giram, a alegria das tias baianas – como eram conhecidas antigamente – sempre contagia o público. Freitas conta que esse giro evoca um “vento ancestral” porque traz elementos espirituais do passado. “Essa alegria é uma resistência. As baianas, mães pretas do samba, transformam a dor da escravidão em amor”, diz.

“A menina que queria rodar a baiana”, de Tiago Freitas e Orádia Porciúncula (Cortez)

Rafinha descobre o universo das escolas de samba na companhia de sua avó. Ao conhecer mais sobre a Unidos da Saudade, ela traça um paralelo com a escola que as crianças frequentam, que ensina matérias e dá notas nas provas. Mas além de aprender a sambar, as agremiações ensinam coisas extraordinárias, como tocar tambor, compor música ou girar na avenida, como as baianas.

Crianças na escola de samba cultivam a tradição

“Muito do encantamento que a Rafinha vive na narrativa do livro foi o que passei quando me vi envolvido no dia a dia das escolas”, conta o autor. Ele concilia sua atuação como professor na Educação Básica da rede municipal de ensino de Guarulhos (SP) às atividades de sambista. Além disso, é enredista na Escola de Samba Império de Casa Verde desde 2023, em São Paulo. No Rio de Janeiro, já atuou nas Escolas de Samba Unidos de Bangu, Unidos da Ponte e Unidos de Lucas.

A Império de Casa Verde apresenta uma ala das crianças com 60 integrantes. Assim como em outras agremiações, elas começam acompanhando pais, mães e outros familiares nos ensaios. Não é raro encontrar meninos e meninas que já frequentavam os encontros ainda na barriga da mãe. Desse convívio aprendem a essência das escolas de samba na prática.

“O que seria do samba se não houvesse as crianças e a tradição dos mais velhos?”, questiona Freitas. Para ele, esse elo entre a sabedoria dos antigos e a curiosidade das crianças é o caminho para manter viva a tradição secular das escolas.

“A ala das crianças forma a nova geração, mostra todas as possibilidades dentro da escola, descobre talentos e prepara para o legado do samba.”

Avó e neta no samba: Bah e Laura, 12 anos, são a inspiração para o livro. Como baianas, elas desfilam na Império de Casa Verde, em São Paulo.

Narrativa acompanha a relação de avó e neta no samba

Não à toa, o primeiro aprendizado das crianças é o respeito aos mais velhos. E vai além com cidadania, coletividade e união. Afinal, o desfile nota 10 no carnaval é resultado do trabalho realizado por uma equipe bem coordenada. “É o ponto final de muito estudo, pesquisa e dedicação de todos os integrantes o ano inteiro”, arremata Freitas.

Um trecho da narrativa resume os valores do samba, aprendizados que valem para crianças e adultos: “Seus integrantes devem lutar por democracia, união, proteção às crianças, respeito aos idosos e à diversidade e se lembrar sempre de que a diversão, o lazer e a alegria proporcionados pela Escola de Samba são frutos da resistência dos negros escravizados do passado – um legado que deve ser lembrado para sempre.”

Quem é quem na avenida

  • Velha Guarda: formada pelos integrantes mais velhos da Escola, que guardam a tradição e a história daquele pavilhão e do samba.
  • Ala das baianas: formada pelas senhoras que giram com elegância, representando a ancestralidade do samba.
  • Ala das crianças: formada pelas crianças da Escola, representando a nova geração do samba.
  • Ala de passistas: homens e mulheres que sambam com elegância e imponência durante as apresentações na quadra e no dia do desfile.
  • Rainha de bateria, madrinha e musa: são mulheres escolhidas pela diretoria para desfilar na frente da bateria com muita ginga e vigor. Geralmente são mulheres importantes e com trajetória na comunidade.
  • Ala musical: formada pelos cantores e cantoras que fazem parte do carro de som do desfile e conduzem o samba-enredo durante os ensaios na quadra e no dia do desfile, no Carnaval.
  • Carnavalesco: comanda a equipe artística. É ele quem idealiza toda a concepção do desfile, desde os modelos das fantasias, decoração dos carros alegóricos, adereços, e promove adequação do samba com o enredo junto dos compositores.

Fonte: livro ‘A menina que queria rodar a baiana’

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