“Não é todo carrapato que mata“, afirma o pediatra Daniel Becker. Mas o carrapato-estrela (amblyomma sculptum) pede atenção especial entre as espécies do aracnídeo, porque se um deles, que estiver hospedando uma bactéria do gênero riquétsia, se fixar na pele de alguém por pelo menos quatro horas, pode causar a febre maculosa. Segundo o Ministério da Saúde, trata-se de uma doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável, mas que tem alta taxa de letalidade. A transmissão pelo hospedeiro é a única forma de contaminação; uma pessoa infectada não pode transmitir a doença para outra pessoa.
Além do carrapato-estrela, há também o amblyomma aureolatum, que transmite a bactéria na região metropolitana da cidade de São Paulo. Duas espécies de riquétsias podem causar a doença: a rickettsia rickettsii, que leva ao quadro de Febre Maculosa Brasileira (FMB), considerada a forma grave da doença, registrada no norte do estado do Paraná e nos estados da região Sudeste; e a rickettsia parkeri, que tem sido registrada em ambientes de Mata Atlântica (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará), com quadros clínicos menos graves.
Segundo o Dr. Paulo Olzon, médico infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM), a doença é rara, por isso não deve haver pânico. “Embora a gente esteja no inverno com proliferação de carrapatos na zona rural, nem sempre esses carrapatos são portadores das riquétsias.” A doença tem maior incidência no Sudeste e Sul do país e é mais comum entre os meses de junho e novembro, período em que predominam as formas jovens do carrapato e de menor tamanho, conhecidas como micuins, que, segundo alerta o Ministério da Saúde, são os mais perigosos porque são mais difíceis de serem vistos.
Como identificar a febre maculosa?
Os principais sintomas são:
- Febre;
- Dor de cabeça intensa;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia e dor abdominal;
- Falta de apetite;
- Dor muscular constante.
Com a evolução do quadro, também podem aparecer manchas vermelhas no corpo, inchaços, gangrena dos dedos e orelhas, ou até mesmo paralisia que começa nas pernas e pode alcançar os pulmões, causando paradas respiratórias. Os sintomas levam em média de sete a dez dias para se manifestar.
Tem tratamento?
Assim que surgirem os primeiros sintomas, é importante procurar uma unidade de saúde para avaliação médica. O tratamento é feito com antibióticos. O atraso no diagnóstico e, consequentemente, do início do tratamento pode provocar complicações graves, como o comprometimento do sistema nervoso central, dos rins, dos pulmões, das lesões vasculares e levar a pessoa infectada a óbito.
Um estudo realizado no Laboratório de Bioquímica e Imunologia de Artrópodes do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da Universidade de São Paulo (USP), revelou que a expressão de uma proteína durante a alimentação do carrapato-estrela é fundamental para a sua sobrevivência – o que pode orientar a produção de um imunizante contra a doença. A partir do estudo, pedaços dessa proteína (peptídeos) estão sendo produzidos para imunizar animais que produzirão anticorpos contra ela.
Como proteger as crianças?
Em áreas consideradas de risco (como parques, lagoas, fazendas, entre outros lugares isolados que possuem gramados e muitas árvores), o Ministério da Saúde orienta:
- Usar roupas claras ajuda a identificar o carrapato, que é escuro;
- Usar calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas;
- Evitar andar em locais com grama ou vegetação alta;
- Usar repelentes de insetos;
- Verificar se você e seus animais de estimação estão com carrapatos.
Caso encontre um carrapato no corpo, remova-o com uma pinça, com cuidado e firmeza. O carrapato não deve ser apertado ou esmagado, porque isso pode fazer com que o aracnídeo libere bactérias que penetram em pequenas lesões na pele. Após retirar o carrapato, lave a área da picada com álcool ou sabão e água, e coloque todas as peças de roupas em água fervente para esterilizar.
* Com informações de Ministério da Saúde (1) (2) e Jornal da USP (Ivan Moraes Conterno, Marcelly Nassar e Andréa Fogaça)
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Em Campinas (SP), três adultos e uma adolescente de 16 anos faleceram por febre maculosa. Todos estiveram em um evento na Fazenda Santa Margarida, no distrito Joaquim Egídio. A vigilância em saúde da cidade atualmente investiga o sexto caso suspeito da doença.