Criar espaços onde as crianças possam lidar com os desafios atuais é uma demanda urgente, diz a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A pesquisa “O que significa empoderar as crianças hoje? Implicações para a educação e o bem-estar”, lançada esta semana, reconhece que crianças são capazes de participar de grandes decisões globais, como definir políticas públicas relacionadas a assuntos econômicos, sociais ou ambientais, por exemplo, ou mesmo se engajarem com as questões mais imediatas de suas comunidades. Mas, para isso, é preciso garantir o que a pesquisa chama de “empoderamento infantil”.
Ouvir as crianças é uma maneira de garantir a proteção de seus direitos básicos
Para incentivá-las a compreender o mundo em que vivem, a proposta é promover a capacitação de crianças e adolescentes. Segundo a OCDE, esse “empoderamento infantil” faz com que entendam melhor suas realidades e tenham repertório para estarem engajadas em diversas temáticas.
Quando as crianças têm “oportunidades autênticas de participar na elaboração de temas como políticas e práticas escolares, elas tendem a estar mais preparadas para contribuir positivamente para o clima escolar e a coesão social”, diz a pesquisa.
A participação ativa das crianças estimula habilidades como:
- pensamento crítico;
- empatia;
- resolução de problemas;
- e valorização da democracia.
Assim, as escolas têm papel fundamental para oferecer às crianças as competências necessárias para que se envolvam como cidadãos informados, capazes de melhorar as democracias e construir novas possibilidades para que as pessoas deem a sua opinião.
O que impede a participação de crianças nessas decisões?
Entender as crianças como “agentes de transformação, e não apenas como seres vulneráveis” é o maior desafio, diz a OCDE. Além de questões culturais, como o fato de que frequentemente não consideramos as opiniões e vontades desse grupo, também é preciso “repensar os sistemas de poder”, pois eles privilegiam sempre as mesmas pessoas em decisões que impactarão o mundo todo.
Para a organização, deve-se evitar uma inclusão superficial ou a simples “recriação de estruturas adultas com a tentativa de enquadrar as crianças”. Nesse sentido, o primeiro passo seria preparar os professores para que observem as crianças por uma ótica mais participativa.
O estudo cita ainda desafios estruturais, como “a rotatividade de professores e lideranças”. Ou seja, se o responsável por um projeto precisa mudar de escola, por exemplo, isso pode interromper as ações e prejudicar o envolvimento dos estudantes. A rotina digital das crianças e adolescentes é outro ponto de atenção. Isso porque a menor interação com seus pares, junto ao aumento dos casos de ansiedade e solidão, implicam diretamente na falta de estímulo para o engajamento social e político.
Para a OCDE, “a infância está mudando com a digitalização, globalização e mudanças climáticas”. Então, é preciso fortalecer as práticas educativas e os espaços dedicados a suas vozes.
O “Guia participação dos estudantes na escola” traz orientações sobre como envolver alunos do ensino fundamental e médio nas decisões da escola e também como ampliar uma cultura da participação em temas sociais. Os caminhos passam pela escuta dos estudantes até o estímulo à autonomia para a tomada de decisões.