“Quando meu pai lia para mim, eu me encostava sobre ele e me tornava parte de seu peito e de seus braços”, escreve Maurice Sendak, autor do clássico “Onde vivem os monstros”. “Crianças abraçadas durante a leitura sempre associarão esse momento com os corpos dos seus pais e isso as tornará leitoras para sempre. Essa ligação dura a vida inteira.”
Ao receberem a notícia de que um bebê está a caminho, os pais logo começam a preparar o ninho. Para a educadora Denise Guilherme, os livros também merecem atenção, pois “a leitura pode contribuir para a construção de vínculos, aproximando – desde cedo – pais e crianças em torno da literatura. “Ler para os bebês pode ser uma grande oportunidade da dupla criar experiências estéticas de desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade, da inteligência e da imaginação.”
“Os livros apresentam a beleza da palavra e das imagens.”
Mas, bebês devem ganhar apenas livros de pano e de banho? A partir de que idade introduzir obras com texto? Que títulos são os mais adequados para esse público? Para tentar esclarecer algumas das dúvidas mais comuns sobre literatura para bebês, A Taba lista dicas para a formação desses leitores a partir da criação de sua primeira biblioteca.
Confira estas ideias para criar a primeira biblioteca do bebê:
1. Livro é brinquedo
Para os bebês, o livro é apenas um brinquedo a ser explorado: é comum querer mordê-lo, sacudi-lo e observá-lo de diferentes maneiras. Por isso, os livros de pano, de banho e cartonados podem ser uma ótima porta de entrada. Mas, não é preciso investir muito neles. Um ou dois volumes nesse formato são suficientes.
2. A arte importa
Evite títulos com imagens estereotipadas e que simplesmente associam um desenho ao nome de determinado objeto. Os livros podem ser um excelente campo para os pequenos experimentarem a arte. Para isso, as obras devem conter imagens que possam ampliar o repertório estético dos pequenos, com ilustrações criadas a partir de diferentes projetos gráficos e literários, os chamados livros-álbum.
3. De geração a geração
Tornar-se pai ou mãe pode nos levar de volta à infância, relembrando as cantigas, canções e parlendas que fazem parte da memória. Livros com esse tipo de texto permitem que adultos e crianças possam resgatar a cultura oral brasileira, criando momentos de cumplicidade entre as gerações.
4. A memória da repetição
Quando aprendem um comportamento ou realizam algo que lhes proporciona prazer, os bebês adoram repeti-los. Por isso, costumam gostar de livros com histórias cuja estrutura apresenta elementos de repetição, com frases e trechos que aparecem muitas vezes, pois são facilmente memorizados, tornando a leitura possível, mesmo que ainda não saibam ler convencionalmente.
5. Voz e ritmo são fundamentais
Pesquisas revelam que desde a vida intrauterina os bebês são capazes de escutar e reconhecer a voz dos pais. Essa atenção à entonação, ao ritmo e à sonoridade das palavras se mantém, especialmente na primeira infância, quando começam a falar e se aproximar da palavra escrita. Talvez isso explique porque as crianças muito pequenas apreciam tanto as histórias rimadas.
6. Participação ativa
Contos de acumulação, ou seja, histórias que possuem uma estrutura que se repete, na qual novos elementos vão sendo incluídos a cada página, são uma ótima pedida. Isso porque esse tipo de narrativa permite que as crianças – pouco a pouco – memorizem os trechos lidos, participando ativamente do momento da leitura.
7. Poesia, poesia
Toda boa biblioteca precisa ter livros de poemas. Bebês adoram metáforas e estão muito atentos aos jogos de linguagem, ao ritmo e à sonoridade presentes na comunicação humana.
8. Os contos de fadas
Por sua alta qualidade artística e sua permanência através dos tempos, esses textos aproximam as crianças da cultura universal por meio de uma linguagem rica e elaborada que não poupa a inteligência dos leitores.
9. Qualidade é mais importante que quantidade
Mais do que a quantidade de livros, aposte na qualidade do acervo. Para formar um leitor, é preciso dar acesso a esse repertório. Se você tem dificuldade em escolher bons títulos, clubes de assinatura que oferecem um serviço de curadoria podem ajudar.
10. Companhia é ouro
De nada adianta uma linda bebeteca cheia de livros, se junto dela não houver um adulto disponível para estar ao lado, acompanhando, emprestando sua voz e seu colo, repletos de afeto, de modo que o momento da leitura possa ficar guardado na memória e no coração dos pequenos.
* Texto originalmente publicado em A Taba, por Denise Guilherme, mestre em Educação, formadora de professores e consultora na área de projetos de leitura.
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