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Bernardo Toro: o que a crise climática tem a ver com a educação

Imagem de Bernardo Toro um homem branco falando ao microfone com a mão estendida. Bernardo Toro é um dos mais importantes pensadores da educação e da democracia

Pare por alguns segundos e tente responder a essa pergunta: Qual é o maior problema que o Brasil enfrenta atualmente? Esta provocação foi feita pelo filósofo Bernardo Toro durante sua aula magna sobre o paradigma do cuidado no 5º Seminário Internacional de Educação Integral, em São Paulo (SP).

Bernardo Toro é um dos mais importantes pensadores da educação e da democracia na América Latina, é diretor da Fundação Avina da Colômbia e mestre em pesquisa e tecnologias educacionais. Sua resposta foi na contramão do que esperava a plateia. Ele afirma que a maior adversidade que o Brasil e a Colômbia, seu país de origem, enfrentam hoje chama-se crise climática.

“A crise climática será o determinante das transformações educacionais, políticas e econômicas da espécie humana. É o que de mais grave aconteceu nos últimos cem mil anos e nos trará consequências para toda a espécie. Nós, enfrentamos pela primeira vez, o desafio para o qual temos pouco tempo para nos preparar.

E o que a crise climática tem a ver com a educação? O filósofo afirma que a crise climática vai transformar a nossa forma de pensar, fazer, agir, comer, produzir e consumir.

A expressão “mudança climática” refere-se a qualquer alteração do clima que ocorra ao longo do tempo devido à variabilidade climática natural ou atividades humanas.

Atividades como a agropecuária (que libera poluentes por causa de fertilizantes e dos dejetos do gado bovino), o descarte de lixo, a queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, e mudanças no uso do solo (como o desmatamento) emitem grande quantidade de gás carbônico, entre outros poluentes. A retenção desses gases na atmosfera causa perturbações em suas dinâmicas e fenômenos, como o efeito estufa. A principal evidência disso é o aquecimento global.

Não podemos parar de consumir e também não podemos parar de produzir se quisermos viver. Sendo assim, a pergunta que devemos nos fazer é: como viver, como consumir, nessa nova configuração?

Para ele, que já atuou como assessor dos ministérios da educação no Brasil e na Colômbia, “somente o cuidado vai nos dizer o que podemos fazer na educação, na política, na economia”. Toro enfatiza que, historicamente cuidado foi uma questão feminina. Depois passou a ser vista como uma questão de saúde, no sentido que os doentes precisam de cuidado.

Foi o teólogo Leonardo Boff que, no livro “Saber cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra”, estruturou o cuidado como grande ordenador da realidade das novas gerações. Um livro que foi determinante para a discussão no mundo a respeito do cuidado.

Poder prever, prevenir e controlar o risco da autodestruição da espécie humana e fortalecer nosso relacionamento e autopercepção como uma espécie única que se comporta como uma família humana requer uma nova ordem ética.

Cuidar de si

O cuidado não é uma opção: aprendemos a cuidar ou perecemos (Leonardo Boff)

Saber cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra

Tudo o que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver – uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra. Uma antiga fábula diz que a essência do ser humano reside no cuidado. O cuidado é mais fundamental do que a razão e a vontade. Este livro procura detalhar o cuidado em suas várias concretizações – cuidado com a Terra, com a sociedade sustentável, com o corpo, com o espírito, com a grande travessia da morte. A ótica do cuidado funda uma nova ética, compreensível a todos e capaz de inspirar valores e atitudes fundamentais para a fase planetária da humanidade.

Quando amamos, cuidamos e quando cuidamos, amamos. O cuidado constitui a categoria central do novo paradigma da civilização que está emergindo no mundo todo. Citando o filósofo e teólogo Lernardo Boff, Bernardo Toro explica que o cuidado assume uma função dupla de prevenção a futuros danos e regeneração de danos passados.

Cuidar do espírito

“A maioria de vocês são pessoas altamente espirituais por uma questão: Vocês trabalham todo dia e noite evitar e diminuir a dor da ignorância, a dor da exclusão”, sustentou o pesquisador para uma plateia formada principalmente por educadores.

Ele defendeu que ensinemos autoconhecimento e autorregulação às crianças. “Somente a autorregulação pode dar liberdade ao ser humano, não há nada que possa trazer liberdade ao Brasil, não há nada que nos possa fazer livres, se não a capacidade de nós mesmos nos darmos ordens”, afirmou.

Este autoconhecimento permite se valorizar, lhe permite se autorregular para conseguir aquilo que é necessário para construção social. Sem a autorregulação não vai ser possível que o ser humano tome as condutas para enfrentar as crises climáticas. “Imagine a disciplina necessária para sobreviver na escassez”.

Fortalecer o próximo

A crise climática vai precisar de algo muito importante que é o fortalecimento dos vínculos emocionais porque provavelmente vamos sumir como espécie. “O vínculo é a certeza que existem outras pessoas que me aceitam assim como eu sou”, demonstrou.

Para encerrar, Bernardo Toro tocou no tema de suicídio entre os jovens e sustentou que os casos estão crescendo de forma assustadora porque não estamos criando vínculos. “Vínculo com a sociedade começa com segurança na escola. As crianças que crescem dessa maneira dificilmente vão trazer danos ao patrimônio público, dificilmente vão destruir os bens públicos”. 

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