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Animação brasileira ‘Perlimps’ é como uma brincadeira de criança

Cena do filme "Perlimps" com os personagens Claé e Bruô

Como se fosse uma brincadeira de crianças, “Perlimps”, a nova animação do diretor Alê Abreu, nos convida a refletir sobre os impactos das ações dos seres humanos na natureza e, com delicadeza, consegue tratar temas complexos, como a amizade entre opostos e a busca pela paz em um contexto de guerra.

Os agentes secretos de reinos rivais, Claé e Bruô, são de culturas completamente diferentes, mas precisam aprender a trabalhar juntos para cumprir uma importante missão: decifrar a mensagem dos Perlimps e encontrar uma forma de impedir os Gigantes de destruírem o Bosque Encantado.

“Os Gigantes precisam de guerra para ficarem mais gigantes (…) Mas as pessoas não voltam da guerra.” – Perlimps

Abreu conta ao portal Lunetas que seus filmes convidam o espectador a participarem da obra. “Eles não estão fechadinhos. São filmes fáceis de entrar, mas difíceis de sair. Você também precisa ajudar a construir aquela história. Ligar os pontos, desfazer as metáforas e criar junto comigo o filme.”

“No mundo da infância tudo é possível, e eu queria colocar o espectador nessa situação.” – Alê Abreu

Além de considerar a audiência como coautora da obra, o diretor revela que o enredo do filme partiu da lógica dos jogos infantis, em que as regras são reinventadas a todo tempo. “Eu busco essa liberdade das crianças na feitura dos meus filmes. Desde o início do projeto, minha ideia era olhar para as brincadeiras e tentar trazer essa lógica que beira o surrealismo tão própria da infância e tão diferente dos adultos para o filme. Eu imagino ser uma criança quem está dirigindo, de forma que eu deixo o ‘Alê Criança’ mandar no ‘Alê Adulto'”.

“Mas, pela primeira vez, eu não fiz um filme pensando apenas no ‘Alê Criança’, eu também pensei em outra criança que estava aqui do meu lado, meu filho”, que foi o primeiro espectador de “Perlimps”, conta Abreu. “Fizemos uma sessão em casa, com direito à pipoca e tudo, e nos sentamos juntinhos na frente da televisão.”

Assistir ‘Perlimps’ ao lado do meu filho João foi a maior emoção da minha vida. Isso permitiu um encontro muito bonito e que ficará pra sempre na memória”, conta o diretor Alê Abreu

“Ele disse que Claé e Bruô eram agentes secretos procurando os Perlimps para ajudá-los. Eu perguntei se eles tinham encontrado e João deu três batidinhas no peito, mostrando que entendeu a mensagem de uma forma tão bonita e confirmando para mim que o filme estava pronto”, conclui.

Uma obra de arte à brasileira

Uma década depois da indicação ao Oscar de Melhor Animação por “O menino e o mundo”, Alê Abreu se afasta do estilo minimalista e chega a uma nova estética multicolorida, que torna a viagem pelo Bosque Encantado de Perlimps uma experiência rica em cores, diferentes luminosidades e texturas, em referência à diversidade da fauna e flora brasileiras.

Para Lorenzo Tarantelli, que começou o processo de dublagem do protagonista Claé com 10 anos – e que divide o elenco com Stênio Garcia e Giulia Benitte -, é incrível ver inúmeros desenhos se transformando em uma animação para as telas do cinema. “Saber que essa animação foi feita no Brasil me dá um orgulho imenso”, afirma. “As crianças brasileiras estão muito acostumadas com animações da Disney, mas o jogo das nossas cores e músicas, em conjunto com as vozes é simplesmente encantador.”

Tarantelli explica que fazer a voz original de uma animação é diferente da dublagem de uma língua para outra, pela possibilidade de conhecer e construir os personagens através da interpretação. “Embora seja mais lento, esse processo adiciona camadas à narrativa, permitindo uma maior identificação por parte dos espectadores”, diz.

Sobre a trilha sonora de “Perlimps”, “Bola de meia, bola de gude”, de Milton Nascimento, é a canção guia do filme por a infância representar a esperança e persistência que podem ajudar os adultos a enfrentarem as adversidades do mundo. O compositor André Husoi, responsável pela canção original do filme e coordenador do grupo Barbatuques, se inspirou nesse grande mestre da música brasileira para traduzir as emoções que atravessam os protagonistas do filme por meio de diferentes recursos, como percussão corporal, instrumentos com origem em outros países e elementos eletrônicos em um contexto de fantasia.


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