Uma pergunta pode estar tirando o sono de muitas famílias que aguardam novos integrantes durante o período de pandemia: amamentação pode transmitir coronavírus às crianças? Gestantes com suspeita ou contaminadas podem passar o vírus para os bebês? A verdade é que ainda não há evidências suficientes para qualquer confirmação, mas pesquisas estão sendo feitas, em várias partes do mundo, com recém-nascidos de mães portadoras da doença COVID-19 e já apresentam alguns resultados.
De acordo com as informações divulgadas pela revista científica sobre medicina, The Lancet, publicadas na terça-feira (17), estudos realizados até fevereiro de 2020 não haviam identificado transmissão da doença COVID-19 de gestantes para bebês. Isso não significa, no entanto, que a transmissão não ocorra, já que as amostras ainda são limitadas.
Os dados apresentados por pesquisadores chineses à publicação Frontiers in Pediatrics, na segunda-feira (16), também não comprovaram a transmissão vertical durante gestação e período neonatal, pela amamentação. O teste foi realizado com três bebês, nascidos de mulheres grávidas que deram positivo para COVID-19, na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, China, onde a doença foi identificada pela primeira vez. Nenhum deles apresentou resultado positivo para o vírus.
Cuidado neonatal
Análises que examinam recém-nascidos podem ser tranquilizadoras, mas a preocupação de médicos, alertada por meio da The Lancet, tem sido a transmissão após o nascimento via contato por secreções respiratórias infecciosas. Por isso, segundo estes especialistas, a separação entre o bebê e a mãe deve ser individualmente discutida por um equipe interdisciplinar, considerando as instalações locais e os fatores de risco para resultados neonatais adversos, como prematuridade e sofrimento fetal, encontrados em uma amostra na China.
“Embora todos os nove bebês testados tenham resultados negativos para a infecção por COVID-19, complicações neonatais após o parto, como angústia, eram provavelmente secundárias à doença materna”, diz o estudo.
Amamentação e coronavírus
Embora os estudos até aqui não tenham detectado a presença do vírus no leite materno de mães portadoras do COVID-19, isso não significa que a transmissão vertical não possa ocorrer. É por isso que o consenso chinês em relação à amamentação contraria as evidências disponíveis.
A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o aleitamento seja mantido caso seja desejo das mães, tomando-se os devidos cuidados.
De acordo com a organização, os benefícios da amamentação ainda superam quaisquer riscos potenciais de transmissão do vírus por meio do leite materno. Como explica a Academy of Breastfeeding Medicine (ABM), organização internacional que reúne médicos dedicados à promoção e suporte à amamentação, o leite materno oferece proteção contra muitas doenças e há raras exceções sobre quando a amamentação não é recomendada.
Esta também é a opinião do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Federação das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASCO), comunicada em nota de alerta, no dia 13 de março.
A OMS reforça que mães que estiverem em áreas afetadas ou apresentarem sintomas de febre, tosse ou dificuldade em respirar devem procurar atendimento médico e seguir as instruções de um profissional de saúde.
Mães expostas ao coronavírus ou com sintomas leves que se sentirem à vontade para amamentar, conforme orienta a ABM, devem seguir as medidas de prevenção para minimizar a exposição viral adicional ao bebê:
- Lavar as mãos antes e depois de tocar o bebê na hora da mamada;
- Usar máscara facial durante a amamentação.
“Se a mãe tiver COVD-19, pode haver mais preocupações, mas ainda é razoável optar por amamentar e fornecer leite expresso para o bebê. Limitar a exposição do bebê por secreções respiratórias pode exigir uma adesão mais cuidadosa às recomendações, dependendo da doença da mãe”, descreve ABM.
Se a mãe estiver muito doente ou não se sentir à vontade para amamentar diretamente a criança, ela pode ser incentivada a extrair o leite manualmente ou utilizando bombas de extração láctea (com a higiene adequada do objeto) para que um cuidador saudável ofereça ao bebê.
Higiene
A higiene das mãos inclui o uso de desinfetante para as mãos à base de álcool que contém 60% a 95% de álcool antes e depois de todo o contato com a mãe afetada, contato com material potencialmente infeccioso e antes de colocar e remover o equipamento de proteção individual, incluindo luvas. A higiene das mãos também pode ser realizada lavando-a com água e sabão por pelo menos 20 segundos. Se as mãos estiverem visivelmente sujas, use água e sabão antes de retornar ao desinfetante para as mãos à base de álcool. (Fonte: ABM)
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Risco de aborto?
A Royal College of Obstetricians and Gynecologists, associação de profissionais do campo da obstetrícia e ginecologia, sediada em Londres, Reino Unido, afirmou que não há dados que apontem um risco de aumento de aborto espontâneo ou perda gestacional precoce em relação ao COVID-19. “Como não há evidências de infecção fetal intrauterina com COVID-19, é atualmente considerado improvável que haja efeitos congênitos do vírus no desenvolvimento fetal”, indica a publicação da organização, revisada no dia 13 de março de 2020.