Desde 2022, o prêmio World’s Best School Prizes (Prêmio Melhor Escola do Mundo) reconhece projetos escolares que compartilham práticas sobre meio ambiente, saúde, impactos sociais e inovação tecnológica pelo mundo. O objetivo é incentivar que escolas públicas tenham ações transformadoras na vida dos estudantes e da comunidade escolar.
Com quatro projetos concorrendo à premiação, este ano o Brasil tem mais finalistas do que qualquer outro país, exceto o Reino Unido e a Índia. Os três finalistas de cada uma das cinco categorias serão anunciados em setembro e o vencedor, em novembro. O júri é composto por educadores, ONGs, representantes do Governo e sociedade civil. Além disso, uma votação popular dará à escola mais votada o prêmio Escolha da Comunidade.
“Escolas de todo o mundo podem agora aprender com as soluções [de cada projeto], portanto, é hora de os governos também o fazerem”, disse Vikas Pota, fundador da organização britânica T4 Education, que promove a premiação.
Conheça os projetos brasileiros finalistas do prêmio em 2024:
1. Escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria das Graças Escócio Cerqueira (PA)
Unir acessibilidade e o contato com a natureza fez essa escola pública de Itaituba, interior do Pará, concorrer na categoria “Ação Ambiental”. O “trabalho de formiguinha partiu dos próprios alunos”, conta a professora Eliude Ramos, que leva à frente a iniciativa. Há dez anos, ela dá aulas no Atendimento Educacional Especializado (AEE) e coordena projetos inclusivos com seus alunos surdos e com outras deficiências, envolvendo, assim, a comunidade escolar.
Desta vez, decidiu investir em uma atividade prática de sustentabilidade e preservação da natureza. “Começamos com coletas de sementes de ipê amarelo, na escola. Depois, ampliamos a coleta para outras espécies da Amazônia, como açaí, buriti e jatobá”, lembra.
Depois, as sementes foram entregues para quem compareceu ao bazar de roupas usadas, organizado pelos alunos do AEE. O evento começou nas redes sociais, com vídeos em que os alunos surdos ensinavam aos seguidores os sinais da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) relacionados a vendas, como, por exemplo, o nome das peças de roupas e as cores.
Ao mesmo tempo em que a escola ficou mais verde com as mudas cultivadas pelos próprios alunos, outros espaços da cidade ganharam mais árvores. Isso porque, ao longo do ano, eles plantaram mudas nativas às margens de um igarapé, no jardim de uma escola de ensino infantil e nas redondezas de um lago. “Agora, vamos construir um viveiro para guardar as mudas que não foram plantadas”, diz a professora Eliude Ramos. Além disso, eles criaram berçários feitos de caixas de ovos e de papelão para cultivar as sementes.
Durante as ações, é possível aprender com os alunos e professores como preparar o solo, plantar da forma correta e cuidar de cada espécie. O projeto já impactou cerca de 500 pessoas na cidade, triplicando o número de participantes. Atualmente, a escola virou referência na região e firmou parcerias com ONGs e órgãos do governo para estimular a educação ambiental, o que aumentou o número de matrículas e da frequência escolar. Para Eliude, a maior satisfação foi conseguir despertar o interesse pela consciência ambiental e formar “alunos guardiões ambientais da Amazônia”.
2. Núcleo de Ensino da Unidade de Internação de Santa Maria (DF)
Concorrendo na categoria “Superação de Adversidades”, a escola faz parte de uma unidade de internação socioeducativa com 150 meninos. Lá, professores desenvolvem o projeto RAP, que significa “Ressocialização, Autonomia e Protagonismo”. Ou seja, a ideia é trabalhar músicas e poesias para ensinar práticas de trabalho em equipe e respeito.
Segundo a escola, essa iniciativa amplia a capacidade de socialização dos estudantes promovendo a diversidade, a comunicação não violenta e a conscientização sobre os direitos humanos. Como resultado, os adolescentes se envolvem mais nas atividades, melhoram os índices de alfabetização e o interesse pela educação.
Além disso, o RAP, liderado pelo professor Francisco Celso Leitão Freitas, conta com debates sobre cinema e festivais de hip hop. Segundo o educador, o projeto já impactou quase 1.500 meninos em situação de internação. Com a redução considerável da reincidência de atos infracionais, a iniciativa levou Freitas a ser reconhecido pela diferença que fez na vida dos estudantes ao receber o Prêmio Educador Transformador 2024.
3. Colégio Militar de Manaus (AM)
Com um projeto de educação informatizado, a escola concorre na categoria “Inovação”. A proposta é manter aulas on-line para os estudantes do ensino fundamental e médio, que vão morar em locais de fronteira ou de outras missões destinadas aos pais militares. Assim, esses alunos mantêm a frequência escolar e não perdem o ano letivo no ensino brasileiro quando mudam de cidade ou de país.
Nesse sentido, para garantir a qualidade das aulas e manter o interesse dos alunos no formato remoto, a escola propõe inovações tecnológicas e projetos sobre empreendedorismo sustentável, como, por exemplo, a construção de sistemas informatizados para medir a qualidade do ar.
As aulas acontecem em um ambiente virtual com material didático, turmas ao vivo e aprendizagem a partir de jogos e games para prender a atenção dos alunos. A escola militar já recebeu outros prêmios de educação e tecnologia, sendo referência nessa área. Ao mesmo tempo, firma parcerias com instituições e ONGs para o desenvolvimento de projetos sustentáveis.
4. Escola Estadual Deputado Pedro Costa (SP)
Na zona norte da capital paulista, a escola concorre na categoria “Colaboração Comunitária”, pois o projeto inscrito envolve familiares e outros profissionais da educação. O objetivo é integrar programas de xadrez, atletismo e ginástica artística ao currículo do ensino integral.
Os professores Leonardo Alcântara e Luiz Fernando Junqueira desenvolvem atividades com jogos de xadrez como ferramenta para estimular as habilidades cognitivas e a interação social. Assim, os alunos conseguem ter mais autonomia para as resoluções de problemas e compreender atitudes e consequências. Por outro lado, as atividades de atletismo e ginástica artística aprimoram o desenvolvimento físico, mas eles também aprendem resiliência e atitudes respeitosas entre os competidores.
Com o apoio da organização Parceiros da Educação, a escola foi uma das primeiras no estado a agregar esportes e jogos ao desenvolvimento acadêmico. Além disso, segundo os professores, o projeto fez os 305 alunos melhorarem o desempenho intelectual, físico e emocional. As famílias também participam das oficinas e acompanham os alunos nas competições e apresentações.
Ano passado, a escola estadual Joaquim Bastos Gonçalves, de Carnaubal, interior do Ceará, venceu a categoria “Apoio a Vidas Saudáveis”. O projeto “Adote um estudante” levou atendimento psicológico gratuito aos adolescentes do ensino médio porque os professores perceberam a necessidade após a pandemia. Foi, então, a partir do contato deles com psicólogos, conseguiram disponibilizar as consultas on-line e de maneira individual. Assim, o resultado foi a diminuição dos quadros de ansiedade, melhorando a autoestima e o desempenho dos estudantes.
Ao todo, 50 escolas concorrem em cinco categorias: Colaboração Comunitária, Ação Ambiental, Inovação, Superação de Adversidade e Apoio a Vidas Saudáveis. O prêmio será dividido entre os vencedores, assim, cada escola receberá o equivalente a 50 mil reais.