Podia ser só mais um jantar comum em família, mas o prato principal era sopa de legumes e a menina não gostava nadinha de sopa de legumes. Antes de a mãe gritar que havia uma mosca em sua sopa, como na música do Raul Seixas, a menina acabara de ver um pelo em seu prato e estava prestes a fazer um escarcéu. É assim que um pequeno deslize de quem preparou a comida inaugura um “continho absurdo”.
Voltado para leitores iniciantes, a partir de cinco anos, a história “Um pelo na sopa” (Biruta, 2020) depende de um pacto com a imaginação infantil para surtir os efeitos de graça embutidos numa sequência nonsense. Porque “as crianças são livres para adentrar uma história sem preconceitos e vivem num mundo de possibilidades”, comentou o autor Alex Nogués durante encontro on-line entre autor e leitores promovido pela A Taba, “elas confiam no estranhamento”.
“Esse olhar aberto vai sendo fechado com o tempo, vamos nos afastando das coisas boas da infância, e fica mais difícil aos adultos se abrirem a novas experiências na vida em geral, mas também na literatura”, diz.
“Parte dos adultos assume que a literatura infantil precisa ter um sentido, que sirva para algo, que tenha um valor ou uma lógica, mas se esquece que a literatura é uma experiência emocional”
Sobre o livro Para se divertir com os detalhes inusitados e também puxar conversa com as crianças durante as refeições, o continho surreal e delicioso “Um pelo na sopa” (Biruta, 2020) foi escrito por Alex Nogués, com ilustrações de Guridi – uma dupla importante da literatura infantojuvenil espanhola. Na Espanha, recebeu dois prêmios, ambos em 2019: Prêmio Serra D’or e Melhor Livro Infantil Fundación Cuatro Gatos. No Brasil, a tradução é de Pedro Teixeira.
Com a intenção de compartilhar “histórias fáceis de contar durante as refeições e que tivessem a ver com o ato de comer”, Alex declarou que não escreveu esse livro, pois costuma repetir a narrativa à mesa feito brincadeira de família. “Como já a havia contado muitas e muitas vezes, quando sentei para escrever, pude me concentrar no mais importante: as palavras mais precisas para explicar essa história que é muito absurda”, revelou. Pai de duas crianças – que agora têm 9 e 11 anos -, o autor disse que cada hora um assumia o papel de um personagem e contava do seu jeito os trechos escolhidos.
Também conhece alguém que não gosta de determinado tipo de comida ou não come muito bem? Talvez as páginas deste livro possam ampliar o seu repertório na hora de questionar por que não comer isso ou aquilo.
Por que não comer sopa de legumes? Havia um homenzinho nela?
Acompanhe como foi o papo na íntegra entre Denise Viotto, curadora do projeto A Taba, e o autor Alex Nogués: